O nível de intolerância que permeia grupos de WhatsApp é digno de estudos no campo da psicanálise. Ontem à tarde recebi um convite para fazer parte de um desses grupos composto por jornalistas de várias partes do Brasil. Aceitei imediatamente e tão logo fui admitido, enviei um link de um dos meus canais de atuação em Belo Horizonte, cidade que nasci e tenho o hábito de escrever sobre mobilidade e assuntos urbanos. O post tinha como intenção informar aos membros do grupo um pouco da minha trajetória como jornalista, e o meu currículo.
Em nenhum momento pensei em contrariar as regras daquele grupo que acabara de entrar, tampouco angariar visualizações dos seus 200 membros, todos eles jornalistas de vários estados, embora fossem muito bem-vindos. Ainda que eles tivessem a curiosidade de clicar no post, (produção minha e não encaminhamento ou fake news) o que é pouco provável, 200 visualizações a mais ou a menos não fariam diferença nos resultados do blog. Queria apenas me apresentar e quem sabe receber boas-vindas dos pares que compõem um grupo de pessoas até então desconhecidas, mas colegas de profissão.
A recepção a pedradas ocupando o lugar da gentileza
Para minha surpresa e de vários que também me acompanharam logo após o ocorrido a recepção foi a pedradas e uma avalanche de absurdos inimagináveis em se tratando de um grupo de jornalistas que não conhecia, mas que revelaram personalidades distintas que me fizeram pensar no significado de intolerância. Protegidos por frágeis regras criadas para grupos de WhatsApp, por vezes incoerentes, indivíduos revoltados com a vida se dão o direito de desrespeitar as regras básicas que não se aprendem na escola, mas no seio da família, as de convivência básica, especialmente quando o outro é um desconhecido. Movidos por vaidade exacerbada costumam chutar o bom senso. São minorias, mas conseguem promover a discórdia em ambientes virtuais. Carregam energia negativa nas palavras.
O exemplo serve para mostrar o nível de intolerância que permeia a nossa sociedade e em especial o universo virtual. Se jornalistas que em tese deveriam ser profissionais sensatos, pessoas equilibradas agem assim, o que esperar de outras categorias que padecem da falta da educação formal? No lugar daqueles que esbravejaram como donos da verdade por causa de uma derrapada involuntária na postagem de uma matéria, fosse eu a receber alguém que não conheço em um grupo de WhatsApp com certeza haveria no lugar da truculência, uma dose de humanidade.
No lugar da truculência, a melhor via é a do bom humor ou do bom senso
No lugar de ilações, falta de paciência, teria dito: “Bem-vindo caro fulano, as regras aqui não permitem postagem de conteúdo, embora seja um grupo de jornalismo. Sendo assim, pedimos que evite postagem de reportagens prontas. Nosso objetivo é produção, sugestão de pauta ou coisa parecida. Agradecemos e felicitamos por fazer parte deste seleto grupo de jornalistas”. Com certeza o sentimento e a energia negativa que pairou no ar teria sido substituída por fluidos positivos, sensação de leveza e pertença no grupo, e não de repulsa ou antipatia.
Vivemos tempos dificílimos em que o extremismo tomou lugar da solidariedade
Vivemos tempos difíceis, de extremismos e, de ódio desnecessário, sobretudo de desumanização das relações. Algo que no jornalismo deveria servir para acender um alerta vermelho. Grupos existem para compartilhar experiências, conhecimento, respeito mutuo, neste caso sugestões de pautas, e sobretudo tolerância. Do contrario não vale a pena. Que esta recepção sem calor humano sirva de exemplo do que não deve ser a prática do universo virtual. Muito pior do que contrariar regras de qualquer grupo com uma postagem inadequada ou inoportuna, é tratar alguém que não conhecemos com desrespeito, grosseria e falta de solidariedade. O exemplo, evidente, se estende em grupos dos mais variados modelos, inclusive os familiares e sugere reflexões.
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