Caixa de desaceleração construída em local inadequado é paliativo que não merece destaque e nem primeira página de jornal. O que mereceria comemorações é a reforma completa do Anel Rodoviário
Foto: Caixa de desaceleração em rodovia de Santa Catarina
Há pelo menos quatro décadas a população de Belo Horizonte e de cidades do colar metropolitano convivem com noticias de tragédias no Anel Rodoviário da capital. Nos 26,7 km que atravessam a cidade, os acidentes fatais são quase que diários. O Anel atende populações de pelo menos 15 municípios no entorno de BH.
Eventualmente carretas carregadas perdem os freios na descida do bairro Betânia e fazem veículos de passageiros virarem latas de sardinha. Tudo isso por razões objetivas: O Anel Rodoviário é uma Rodovia Federal atravessando uma cidade densamente povoada. Ele é encontro de três importantes BR´s: 381, 040 e 262.
Foto: Edição do Brasil
As soluções são várias, mas esperam pela boa política que parece existir nos governos estadual e federal. Não podemos dizer o mesmo do municipal, marcado pela demagogia e pelo empobrecimento da cidade. A primeira ação é a reforma do Anel Rodoviário com ampliação de pistas, alargamento, desapropriações, e a mais importante: Eliminação de gargalos que evitem interrupção de tráfego onde não pode existir engarrafamentos.
Ou seja, uma solução endógena que leve em consideração o volume de veículos de passageiros e de cargas que independente da retirada de caminhões, continuará aumentando cada vez mais. É preciso lembrar que o Anel Rodoviário é a única via expressa de fato, sem interrupção de tráfego que serve a população como alternativa para deslocamentos rápidos entre o sul e norte da capital.
A Via-expressa Leste Oeste existe de direito, mas não de fato, pois possui 15 sinais que interrompem o trânsito entre BH e Betim, passando por Contagem. A segunda alternativa é a construção do Rodoanel, obra prometida por dezenas de políticos, e que ainda não tem nem projeto executivo pronto. Pode ser que agora, com os recursos advindos do acordo de reparações ambientais da Vale com o Governo de Minas pela tragédia de Brumadinho, R$38,7 bilhões, e a seriedade do Governador Romeu Zema, a obra aconteça.
Foto: Jornal Hoje em Dia
Contundo, independente do Rodoanel, a reforma do Anel Rodoviário Viário de BH é necessária e urgente, pois sua capacidade de receber veículos leves e caminhões saturou há pelo menos 20 anos. São 200 mil veículos transitando numa disputa insana entre caminhões, veículos de passageiros, ônibus, motos e até carroças.
O encontro das três Rodovias, BR´s 040, 381 262 no bairro Califórnia é exemplo da saturação do Anel. Estive pessoalmente, ainda menino com cinco anos de idade, na inauguração do viaduto da Av. Delta sobre o Anel Rodoviário, quando o prefeito era Oswaldo Pierrussetti em 1972. O viaduto continua o mesmo daquela época quando a cidade tinha menos de 150 mil veículos.
Hoje ela tem 2,2 milhões, além da frota flutuante. Atravessar o trevo do bairro Califórnia procedente da BR 040, Ceasa ou do centro de distribuição de Contagem em direção a BH é um verdadeiro martírio diário que leva às vezes mais de uma hora.
Com efeito, causa espanto assistir as reações e comemorações pela construção de uma caixa de desaceleração, ou caixa de escape, na descida do bairro Olhos Dágua. Algo corriqueiro, necessário e urgente, que já deveria ter sido feito há 30 anos, mas que virou feito histórico.
Caixa de desaceleração é bem vinda, se for construída no local certo, antes do trevo do Betânia, poderá evitar tragédias, mas não merece comemorações e nem deve ser objeto de campanha para políticos oportunistas de olho no governo de Minas. O que mereceria sim primeira capa de jornal e matéria de tv é a reforma completa do Anel Rodoviário.
A cidade não pode se contentar com puxadinhos, já sofreu muito com os acidente ocorridos naquela via. Dores ainda maiores que poderiam ter sido evitadas são as de famílias de vítimas que morreram em tragédias no Anel. Chega de política rasteira, agora é a vez da boa engenharia e de governantes sérios mostrarem suas faces.
José Aparecido Ribeiro é jornalista e fundador da ONG SOS Mobilidade Urbana
Contato: jaribeirobh@gmail.com – WhatsApp: 31-99953-7945 – www.zeaparecido.com.br
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