As conversas se dão em salas fechadas e as “soluções” aventadas passam, como sempre, por aumento de receitas dos bancos à custa de consumidores e lojistas
Foto: Charge – Repórter Popular
POR: Paulo Solmucci – Engenheiro, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e Conselheiro da União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs)
“De acordo com os dados do Banco Central, as transações de cartão de crédito em 2022 representaram cerca de 20% do PIB do país. Por volta de metade desse volume corresponde ao chamado parcelado sem juros (ou parcelado lojista, porque é o varejista que recebe as parcelas ao longo do tempo): a cada R$ 2 pagos com cartão de crédito no país, cerca de R$ 1 se dá por meio do parcelamento sem juros.
Com esse absoluto sucesso, seria de se imaginar que o parcelado fosse uma unanimidade, mas não é: os bancos não querem que o brasileiro parcele suas compras sem juros. Sempre que a discussão sobre as estratosféricas taxas de juro do rotativo vem à tona, os bancos apontam o dedo para um vilão que não eles e sua ganância.
Em recente entrevista ao Correio Braziliense, ao tentar responder por que as taxas de juros de cartão são tão altas no Brasil, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou: “25% daqueles que pagam juros, acabam pagando pelos 75% que não pagam. Nós temos que tentar reduzir o parcelamento sem juros”.
Se os bancos desgostam do parcelado sem juros ofertados pelo comércio e imputam-lhe os males dos juros altos que eles mesmos cobram de seus clientes, deveriam apresentar de maneira transparente à sociedade um produto alternativo, mais vantajoso para todos, que vença a competição com o parcelado. Mas não é isso que ocorre. As conversas se dão em salas fechadas e as “soluções” aventadas passam, como sempre, por aumento de receitas dos bancos à custa de consumidores e lojistas.
A primeira “solução” que sempre aventam é aumento de ganhos: cobrariam menos juros se pudessem ampliar o rol de tarifas cobradas. Para compras com cartão, uma tarifa vem escondida do consumidor: o intercâmbio, que incide sobre todas as transações de cartão, pagas pelo lojista ao banco. Como vem embutida e abatida em cada pagamento recebido, vira custo maior para a loja e é repassada aos preços, fazendo com que o consumidor pague mais sem conhecer o destino de sempre destas tarifas, o bolso dos banqueiros. Fogem das pressões legítimas do governo por menor cobrança de juros e mantêm seus exorbitantes ganhos. Iludem-nos tirando do “bolso” que recebe os juros e passam a encher o “bolso” das tarifas.
Também falam em impor limites ao número de parcelas oferecidas ao consumidor pelo lojista. Ou seja, em vez de ofertarem um produto competitivo, que ganhe, na bola, da oferta direta dos lojistas, os bancos buscam, coletivamente, aleijar o parcelado sem juros para que sua forma de parcelar com juros se imponha. Tudo, claro, em desfavor da sociedade.
Ora, aleijar o parcelado sem juros para empurrar o seu produto é um movimento lesa concorrência por parte dos bancos. Só a competição verdadeira pode fazer com que as taxas de juros que os brasileiros pagam no cartão, e em todas as linhas de financiamento, se reduzam. Os bancos não querem competir e, pior, não querem que você parcele direta e soberanamente com o seu cartão de crédito.”
José Aparecido Ribeiro é jornalista, editor e presidente da Abrajet-MG
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