No lugar de rodízio, vereadores, prefeito e engenheiros deveriam fazer o dever de casa, que são as obras que a cidade precisa
Foto: Trânsito na chegada da Av. Antônio Carlos ao Centro de BH, na Lagoinha
Prometi não dar mais murros em ponta de faca em relação ao trânsito de Belo Horizonte, pois é inútil gritar para surdos. O grupo que cuida da infraestrutura da cidade é o mesmo há mais de 30 anos, e não tem qualquer compromisso com melhorias na infraestrutura e tampouco com fluidez no trânsito, eles são medíocres, limitados e preguiçosos. Portanto, enquanto não aposentarem ou forem afastados, nada acontece em termo de obras de artes da engenharia que é o que realmente vai resolver o caos que se agrava a passos largo na capital.
Mas vamos ter que abrir uma exceção para comentar a proposta estapafúrdia do vereador Cesar Gordin (Solidariedade) que perdeu a noção, o senso de razoabilidade e a vergonha, ao protocolar um projeto de lei (PL) na Câmara Municipal de Belo Horizonte cujo conteúdo é a instituição de rodízio de carros na capital, a exemplo do que acontece em São Paulo. Exemplos de São Paulo deveriam ser as obras que aquela metrópole não para de fazer, no lugar de plano que não funciona, mas serve para revelar o tamanho dos homens que governam BH.
São Paulo tem demanda, mas tem oferta. BH tem demanda e não consegue apresentar oferta de infraestrutura. E ninguém se manifesta, refiro-me à entidades empresariais, Câmara Municipal e imprensa que vive na superficialidade do tema, repetindo mantras de que o problema é o excesso de veículos e não o atraso na estrutura viária da cidade.
Foto: Reprodução – CMBH – Cesar Gordin Vereador
Se os horizontes do parlamentar forem curtos, o convido para conhecer Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Lá Godin vai ver obras por onde andar, e um trânsito que flui sem necessidade de rodízio. Presume-se que os vereadores da capital gaúcha sabem cobrar do executivo o que uma cidade necessita para evoluir e ter qualidade de vida, coisa que não acontece em BH há pelo menos 40 anos. A literatura mostra que em nenhum lugar do mundo onde o rodízio foi implantado visando fluidez, o plano não deu certo.
O vereador, bem como o prefeito Fuad Noman não sabem que Belo Horizonte possui um déficit na sua infraestrutura que data da década de 80 do século passado. A cidade parou no tempo, necessita urgente de 200 obras de arte da engenharia para mitigar os gargalos que não deixam o trânsito fluir para lado nenhum. Aliás, a palavra fluidez não existe no dicionário dos técnicos da PBH. Eles são agentes públicos sem compromissos com os problemas de uma metrópole que cresceu em numero de habitantes e carros, mas permanece a mesma de 50 anos atrás, governada predominantemente pela “turma do deixa disso”.
Se não bastasse, a cidade é campeã em número de sinais de trânsito do Brasil, mais de 1.500, ela não possui uma única via cujo semáforos sejam sincronizados em ondas verdes, evitando desperdício de tempo e estresse que acabam provocando acidentes e poluindo o meio ambiente. E não é por falta de tecnologia ou recursos, mas por equívoco, visão ideológica no lugar da ação técnica de agentes públicos doutrinados responsáveis pelo controle do tráfego no C.O.P (Centro de Operações da Prefeitura).
Foto: Reprodução – CMBH – Prefeito Fuad Noman e Cesar Gordin – Vereador
O tema é tratado por xiitas da engenharia, acomodados, gente com mentalidade deformada, que não consegue interpretar a realidade e segue acreditando que bicicletas, BRT e puxadinhos medíocres resolverão o problema da imobilidade. Entra governo e sai governo o grupo segue firme na BH Trans e na Secretaria de Obras e Infraestrutura, fazendo o básico necessário para lhes garantir emprego e sossego. Não tem quem cobra deles resultados ou estabeleça metas de melhoria para a cidade. A Secretaria tem 600 funcionários e 100 chefes. Um para cada seis. Isso o vereador e o prefeito nem devem sonhar que existe.
Propor rodízio no lugar de obras e de um plano de EMERGÊNCIA que inclua intervenções humanas nos gargalos, é assinar um atestado de incompetência e incapacidade para o cargo que exerce. Dizer que a melhoria das condições de trânsito na cidade “só ocorrerá se o rodízio for implantado,” é uma demonstração inequívoca de total desconhecimento do assunto, aliás o missivista é do ramo de “torcida organizada” do Galão da Massa.”Sabe tudo de futebol, e só”…
Recentemente mandei um recado para o prefeito, informando que a cidade tem 2.316.560 habitantes e 2.599.029 veículos e que eles não serão abduzidos. A propósito, vale lembrar, são conduzidos por cidadãos que pagam impostos. Ao contrário, a julgar pelo nível sofrível do transporte público, a frota de veículos só tende a ficar ainda maior. A cidade precisa eliminar gargalos e conectar os grandes corredores sem interrupção de tráfego ou sinais em cada esquina. É possível fazer essa integração sem grandes transtornos, mas os paradigmas de que obras não resolvem o problema da falta de fluidez, não deixam.
Foto: Reprodução – CMBH – César Gordin – Vereador BH
César Augusto Cunha Dias, 40 anos, é ex-líder da Galoucura (torcida organizada do Clube Atlético Mineiro), foi ele que tentou assim que assumiu o cargo pela segunda vez na Câmara Municipio, propor lei para liberação de alvarás da Arena do Galo, legislando em causa própria. Nas eleições de 2020, recebeu 4.478 votos, ficando como 1º suplente pelo Partido Republicano da Ordem Social (Pros), atual Solidariedade. Em abril de 2023, assumiu vaga aberta com a saída de Uner Augusto por decisão da Justiça Eleitoral que apontou fraude partidária.
Repare na fala do vereador que é especialista em torcida organizada, que em nenhum momento ele falou em investimentos em infraestrutura, mas deseja restringir o uso do carro com multas para quem descumprir. Ainda mais grave é saber que tem cidadão “esclarecido” fazendo coro com o vereador, repetindo o mantra de que o problema é o excesso de veículos nas ruas, e não a carência de infraestrutura.
Ou seja, é um neófito no tema e certamente não sabe que o dever de casa que já deveria ter sido feito há 50 anos segue sendo postergado, aumentando ainda mais o passivo que inevitavelmente terá que ser recuperado quando a cidade for governada por um político decente e por vereadores menos medíocres. Para a nossa sorte, vereadores desta lavra são minoria.
José Aparecido Ribeiro é jornalista e membro do Observatório da Mobilidade.
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