A capa do Jornal Estado de Minas de terça-feira dia 5/8 traz a seguinte frase: “a vitória do desrespeito”, referindo-se aos motoristas que não respeitam as ciclovias da cidade. Mas será que essa indisciplina acontece por acaso? Fica claro que a leitura foi feita de forma unilateral pelo editor. Não seria mais apropriado dizer: “a vitoria da persistência e da falta de bom senso?”. O desrespeito não ocorre por acaso, a PBH insiste em enfiar goela abaixo da população uma ideia que não se aplica ao clima e a topografia da cidade, salvo poucas exceções de vias largas e planas, que não expõe ciclistas e nem promove a concorrência de carros e os poucos ciclistas que arriscam por pirraça ou por ignorância no carregado transito da Capital.
Essa e outras ideias importadas de Bogotá e de cidades europeias que possuem clima temperado e topografia plana, desafiam o bom senso e a lógica. Ninguém é contra bicicleta onde pedalar é possível, fácil e seguro. O que não é o caso da maioria das vias onde a BH Trans tenta, em vão, instalar ciclovias que na maior parte do tempo estão as moscas. A desobediência também pode ser atribuída a falta de credibilidade e a inconsistências dos projetos do órgão gestor do trânsito, que há muito cumpre tabela, e quer ver o circo pegar fogo. A aceitação das ciclovias foi pífia e a maioria da população é contra algo que serve a meia dúzia de apaixonados, atrapalhando mais do que melhorando ou servindo de modal de transporte.
No lugar de ciclovias, a população clama por obras capazes de eliminas os mais de 150 gargalos que tem o transito da cidade, levando motoristas e passageiros do precário sistema de transporte ao estresse absoluto. Não é bicicleta e nem BRT que irão resolver o caos de Belo Horizonte, mas atitudes ousadas de gestores lentos e omissos que insistem em modelos ultrapassados e arcaicos. Monotrilho, VLT e ônibus confortáveis são os caminhos apontados pela engenharia de ponta. Mas a PBH continua insistindo em BRT e ciclovias. Se querem tirar carro da rua na marra, combine primeiro com o governo federal e encontre outro meio de garantir os impostos e empregos gerados pela indústria automobilística, respectivamente 23% e 15%.
A ladainha dos urbanistas e dos incompetentes gestores públicos serve apenas para remediar o irremediável e ainda de quebra, deixar nossos governantes com a sensação do dever cumprido. O que a cidade precisa é fazer o dever de casa que deixou de ser feito nos últimos 40 anos. O papo de ciclistas moderninhos e urbanistas reacionários é coisa de burguês que deveria morar na Europa ou em Bogotá. O buraco aqui é mais embaixo. Daqui a pouco a turma do skate vai querer uma skate via e vamos ter que achar tudo isso normal. Em BH tudo é normal, até viaduto que cai no dia da inauguração.
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Assuntos Urbanos
ONG SOS Mobilidade Urbana
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