O discurso politicamente correto imperou no "12º Seminário Meio Ambiente e Cidadania 2014" promovido pelo Jornal Hoje em Dia na ultima sexta-feira em BH. Quanta bobagem e conversa vazia ouviu-se de quem tem a missão de apresentar resultados urgentes para mitigar o caos da imobilidade urbana. Quanta irresponsabilidade e gestos inúteis foram proferidos por presidentes de autarquias e até por políticos que ocupam cargos estratégicos no executivo municipal, todos perdidos em discursos que não traduzem a realidade, mas que são politicamente corretos.
Ao afirmar que obras não resolvem o caos urbano, fica a sensação de que o assunto não está sendo tratado com o profissionalismo que se espera. Se elas não resolvem, o que resolverá? Dizer que o colapso do trânsito é culpa do modelo desenvolvimentista e do mal hábito do brasileiro que escolhe o carro como meio de transporte, por gosto ou comodidade, sem oferecer transporte público decente é dar aos governantes um “habeas corpus” livrando eles das responsabilidades que lhes cabem como gestores da coisa publica. As cidades pararam no tempo e estão engessadas.
Não adianta mais palavras inflamadas contra o carro tentando exorcizá-lo em um pais que depende da indústria do automóvel para pagar suas contas. 23% do PIB nacional e 14% da mão de obra economicamente ativa estão na cadeia produtiva da indústria automobilística. Em 11 anos de governo do PT, 12 montadoras tiveram incentivos para abrir fábricas no Brasil. O pais é o 4º consumidor de carros do mundo e suas taxas de motorização estão abaixo das registradas em países Europeus. Ou seja, o mercado, apesar do caos, ainda é virgem se comparado ao Norte Americano que é o exemplo a ser seguido.
Se não bastasse a dependência econômica, o povo brasileiro é apaixonado por carro da mesma forma que é pelo futebol. Permitir que um cidadão compre carro dando a ele incentivo e crédito e proibi-lo de usar como ele deseja é no mínimo insanidade, ou insensatez. Com ou sem transporte coletivo decente, o carro não vai sair de cena, como deseja os xiitas da imobilidade urbana. O discurso vazio e politicamente correto serve tão somente para deixar as autoridades com a sensação do dever cumprido, quando na verdade ele esta por fazer há mais de 30 anos.
O passivo de obra das cidades brasileiras é do tamanho dos viadutos de Los Angeles. Lá inclusive deveria ser o local para inspiração de “especialistas e servidores municipais”, que não viajam e tem a serra do curral como horizonte. Em qualquer outro lugar do mundo ao afirmar que viadutos não resolvem o problema do caos do transito, políticos seriam depostos no dia seguinte, mas aqui eles são aplaudidos. BH tem mais de 150 gargalos que precisam de obras, (viadutos, trincheiras, elevados, túneis, passarelas), porém, o que se vê são puxadinhos e conversa inútil convidando as pessoas para usar bicicletas debaixo do sol escaldante de 33 graus e ruas acidentadas, entupidas de carros.
Enquanto o discurso não sair do campo do romantismo para o da prática, o que está ruim vai piorar. Causa espanto o fato do Hoje em Dia ser parceiro de eventos que servem tão somente para legitimar o discurso oficial, comprovadamente na diametral do que a cidade precisa. Fica o protesto e o alerta para que a organização de eventos importantes como esse não seja dada a quem tem interesse em mostrar uma realidade que não existe, leia-se PBH e BH Trans.
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Assuntos Urbanos e Mobilidade
Presidente do Conselho de Política Urbana da ACMinas
CRA MG 08.0094/D