A BH Trans acaba de declarar em alto e bom tom que todo cidadão proprietário de um carro em Belo Horizonte é ‘persona non grata ‘. Explico: em entrevista coletiva no inicio da semana o representante da entidade informou que todos os esforços para dificultar o uso do automóvel em BH serão feitos. Pasmem, mas os responsáveis por apresentar soluções para o trânsito, declaram que o problema não é da incompetência do órgão, mas do cidadão que escolheu ter carro. Ora, que conversa é essa? Todo cidadão que deseja ter um carro, tem o direito de possuí-lo, pois é neste caminho que o país segue produzindo veículos e gerando empregos.
Na proposta estapafúrdia da BH Trans pistas que já são estreitas serão transformadas em corredores exclusivos para ônibus. Ruas hoje abertas e com estacionamentos laterais, serão fechadas e transformadas em passeios ou canteiros que servirão de enfeite. Ou seja, o que está ruim, vai piorar. Em qualquer outro lugar do mundo, o autor da declaração seria convidado a deixar o seu cargo e outro mais habilitado estaria do seu lugar no dia seguinte, buscando soluções, e não o contrário. Aqui tais “especialistas” são aplaudidos e até incentivados.
A proposta de exorcizar o carro revela que o comportamento e o desejo da população não está servindo para balizar as ações dos gestores do trânsito e dos governantes. Os números que apontam que 46% da população optou pelo carro por que não tem alternativa de transporte ou por que gosta de carro, estão sendo desconsiderados. Eles servem para mostrar também que a outra parte, a que representa 54% da população, opta pelo transporte público por que não pode ter transporte individual. É consenso que o transporte coletivo oferece poucos apelos para o deslocamento de 46% da população. A conclusão é lógica.
Com efeito, deveria ser o desejo de cada parcela, proporcionalmente, e não apenas o que pensam e desejam os gestores do trânsito o norte das intervenções. Note ainda que o direito a propriedade está sendo desrespeitado. Soma-se o fato de que o governo federal, através do programa INOVAR AUTO, convida montadoras para produzir veículos no Brasil com todos os incentivos imagináveis. Portanto, ao contrário do que a BH Trans propõe, as ruas precisam ser abertas e não fechadas ou estreitadas. Não é o carro o vilão desta história, mas o poder publico que não fez o dever de casa e deixou a cidade sem as obras necessárias para recebê-los.
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Mobilidade e Assuntos Urbanos
Presidente do CEPU – ACMinas
ONG SOS Mobilidade Urbana
CRA- MG 080094/D
31-9953-7945