No dia 15.02 de 2014, BH vai ganhar um presente de grego e não será um “cavalo de tróia” carregando guerreiros escondidos, mas um mico com um futuro incerto pela frente. As razões são objetivas e eu explico: O BRT, ou MOVE, como desejam, nasce contrariando a opinião de especialistas e engenheiros que não recomendam este modal de transporte para a cidade. A experiência, que foi concebida em Curitiba, e ganhou forma na Colômbia, México, Coréia do Sul e outros países, não é a mais recomendável para cidades de topografia acidentada e clima quente.
BH é uma cidade de traçado ortogonal, cuja vias são estreitas e os cruzamentos são em números excessivos, provocando estrangulamento do tráfego e gargalos crônicos. São mais de 100 gargalos que exigem obras: Tuneis, viadutos, trincheiras, passarelas, alargamentos de ruas e vias expressas. A taxa de emplacamentos na cidade cresce em ritmo de 7% ao ano, embalada por uma indústria automobilística que não pode parar, além do gosto do belo-horizontino pelo carro e as facilidades para a sua aquisição. Se somada a frota flutuante, a cidade hoje recebe 2 milhões de veículos em suas ruas e avenidas.
É fácil deduzir que daqui há alguns anos, o que está ruim, vai piorar se nada for feito. E as fichas não podem ser apostadas só no BRT, isso por que ele consome mais da metade das vias por onde passa. Na região central ele ocupa as vias inteiras. Dos 50M de largura das Av. Antonio Carlos e Cristiano Machado, 27M são usados para as linhas confinadas do BRT, deixando apenas 3 pistas de cada lado para um volume de carro superior ao que a via foi projetada. Ou seja, o projeto vai no sentido oposto ao da demanda por espaço. Com o agravante do BRT ser um ônibus, oferecendo pouco apelo para os cidadãos que tem veículos deixarem de utilizá-lo.
As estações de transbordo não se conectam com estacionamentos. Se eles forem construídos em uma tempo que não se sabe, terão que ter preços módicos, que sejam convidativos e isso nem é cogitado pela PBH. Concluir-se portanto que o modal servirá tão somente para melhorar o conforto de quem já usa o transporte coletivo, em apenas dois corredores da cidade, mas não resolve o problema da falta de mobilidade na cidade inteira. Vale lembrar ainda que estes dois corredores não são os que ligam os bairros mais adensados ao centro da cidade, apesar de serem os mais largos e com os maiores problemas de congestionamentos.
Mesmo com um coro uníssono de engenheiros, que não apontavam este modal como o mais correto a Prefeitura seguiu firme apostando todas as fichas nele. Com efeito, o presente de grego que o Prefeito afirma ter data para entrega-lo promete dar o que falar e pode ser um mico que vai custar caro para os cofres públicos. Resta saber se o “filho feio sem pai” terá responsáveis se porventura não emplacar. Enquanto isso, automóveis, motos e veículos leves de carga disputam espaço, na marra, nos corredores por onde o BRT passa. Torço para estar equivocado, mas o futuro do BRT é tão incerto quanto as mudanças de habito da população que a BH Trans espera conseguir com o BRT. Quem viver, verá…
Jose Aparecido Ribeiro
Consultor em Mobilidade e Assuntos Urbanos
Presidente do CEPU – ACMinas
CRA MG 0094 94
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