Cavalo dado não se olha os dentes, cela e monta, especialmente quando se está perdido no meio do mato, com frio e sem agasalho. BH recebeu 178 milhões para obras do governo estadual e este dinheiro chega em boa hora. O acontecimento que teve direito a solenidades e que ganhou rodapé de página de jornal foi importante mas de longe resolve o problema da cidade. Para que fosse capa de jornal e destaque nos noticiários do rádio e da TV, o valor teria que ser multiplicado por 50, pois existe um passivo de obras de 30 anos que deixou a cidade no estado em que ela se encontra de lentidão no trânsito.
Todo mundo sabe que isso é quase impossível. Levantar o dinheiro para as obras que BH precisa para recuperar o tempo perdido, levará décadas. Mas não bastaria só o dinheiro que a prefeitura e nem o Estado possuem, precisaríamos de um novo JK e isto é ainda torna o problema mais complicado, pois os nossos atuais gestores e políticos, possuem limitações graves neste quesito. Alguns não conseguem nem reconhecer que o problema de hoje, começou com a falta de visão dos administradores públicos de 30 anos atrás. Se não conseguem recuperar o tempo perdido, o que dirá preparar a cidade para os próximos 30. Bem que tentam, com discursos inflamados, moderninhos, mas não conseguem.
O que fazem bem é tapar buracos e capitalizar politicamente os remendos. A cidade precisa de muito mais do que as 8 intervenções que serão feitas atrasadas com o dinheiro do estado, ela possui mais de 150 gargalos que esperam por obras de verdade, e não puxadinhos. Estamos nos referindo a tuneis, viadutos, trincheiras, passarelas, pontes, elevados, que devem vir acompanhados de mudança de paradigmas, defendidos com jargões que já não servem mais para justificar o caos.
O principal deles é o de que a cidade é para as pessoas, e não para os carros. O inexplicável é que por trás de cada carro, tem um cidadão insatisfeito com o transporte coletivo que não melhora, e que tem o direito de se deslocar pela cidade sem o estresse que acontece hoje. O povo de BH agradece a generosidade do governo estadual, mas não pode contentar-se com isso, a construção de equipamentos urbanos que habilite a cidade a receber esse numero crescente de veículos é urgente e não poderá esperar mais 30 anos, pois o carro, querendo ou não nossos “brilhantes” gestores, não vai sair de cena tão cedo.
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Mobilidade e Assuntos Urbanos
Presidente da ONG SOS Mobilidade Urbana
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