Não é de hoje que o carnaval tem o poder de “abduzir” o povo brasileiro tirando ele da realidade. Seria mais do que natural e aceitável, não fosse o momento dramático que o Brasil vive, em uma crise sem precedentes. O país está derretendo, mas em um passe de mágica, tudo fica secundário, ja a folia vira prioridade, com direito a um mundo perfeito de colombinas, pierrouts, e fantasias. É comum ouvir na tv, pelos principais beneficiários da insensatez que trata-se do maior espetaculo da terra. Será?
A “felicidade” mesmo que artificial e temporária, toma conta do país de norte a sul, meio que “cancelando”, sublimando o sofrimento que é a marca do cotidiano do povo, fazendo ele esquecer dos escândalos envolvendo politicos, varrendo para debaixo do tapete a crise na saúde, na educação, na segurança e em especial no desemprego que bate recordes com quase 25 milhões de trabalhadores fora do mercado.
Do outro lado do mundo, uma das nações mais prósperas da Asia, onde não há pobreza, rebelioes, cadeias medievais, favelas, tráfico, arrastões, gangues, violência, e que é exemplo de democracia, mais de meio milhão de pessoas protestam contra a presidente que está sendo impeachemada. Acredite, estamos falando da Corea do Sul, um dos Tigres Asiáticos, exemplo de ética e zelo com a coisa pública.
Lá, manifestantes, predominantemente estudantes, prometem ficar nas ruas até a renúncia de Park Geun-hye. A presidente é acusada de corrupção e tráfico de influência. Ela teria tramado, com uma amiga íntima, o repasse ilegal de dinheiro público para fundações sem fins lucrativos. Note a diferença do crime cometido lá, (em nome de instituições filantrópicas) e que motiva os protestos, com os crimes que acontecem aqui e que já não tocam mais o coletivo.
No Brasil, repare, os próprios políticos, seus grupos e parentes costumam ser os beneficiários da corrupcāo. Contudo, embora seja de conhecimento de toda a nação, ainda assim nada é suficiente para fazer o povo esquecer da folia cobrando ética dos políticos como acontece na Corea do Sul. Dar um basta na corrupção e na promiscuidade que tomou conta da coisa pública, incluindo empresas estatais depende da reação do povo, e essa reação parece adormecida, não vem. Com isso, o dinheiro roubado que deveria ser aplicado na saúde, na educação vai para o ralo da corrupção alimentando quadrilhas do colarinho branco.
Mesmo tendo consciência de que está sendo enganado o povo veste a fantasia llúdica infanto juvenil e alimenta uma falsa ilusão de que a felicidade advinda do carnaval, seja suficientemente e capaz de livra-lo do buraco que o país está mergulhado. Nesta omissão ele alimenta seu próprio vaticínio. Com efeito, a nação mais alienada do mundo tem mais motivos para protestar do que para comemorar, mas segue mantendo a tradição de que futebol e carnaval é o que importa, e que tudo mais volta a ter importância só na quarta feira de cinzas, depois do meio dia.
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Assuntos Urbanos
Autor do Blog SOS Mobilidade Urbana – Portal UAI