A relatividade do tempo ao ficar parado no trânsito é percebida até pelos “zen-budistas” em BH. Nos deslocamentos pela cidade cada um ocupa o tempo de modo a minimizar o estresse provocado pela falta de fluidez, sempre nos mesmos lugares e com a mesma sensação: a de impotência total diante da inércia da BHTrans, que insiste em desconsiderar a existência do carro. Insiste também em enfiar transporte público de péssima qualidade, goela abaixo para quem não quer e não vai andar de ônibus.
Alguns ouvem radio e não se preocupam, são indiferentes, levam a vida com humor e paciência orientais, regra geral são pessoas com tempo e não se deixam levar pelo ambiente ao redor. O Mundo pode acabar, e tudo estará na mais perfeita ordem. Mas esses são as exceções, não a regra. A maioria da população está insatisfeita com os serviços prestados pelo gestor do trânsito.
Ha outros que aproveitam para atualizar suas agendas de bate papo e usam para isso o WhatsApp, o que além de proibido, signica risco de acidentes, mas todos tem em comum a percepção de que a cidade está piorando a cada dia e não se vê qualquer movimento concreto por parte da PBH para reverter a lentidão do trânsito.
A equipe do novo prefeito escalada para tratar do tema continua a mesma, pasmem, há 35 anos. De um modo geral as pessoas esquecem o tempo que ficaram paradas queimando combustível, poluindo o ar da cidade e impossibilitadas de chegar aos seus compromissos. Será que estamos nos acostumando com a lentidão e a ideia de que não há solução para o problema? A causa é o excesso de veículos, ou a incapacidade do gestor público entender a realidade e agir?
As vezes tenho a sensação de que não somos mais donos do próprio tempo. Sabemos a hora que saímos de casa ou do trabalho, mas perdemos o controle sobre a hora que chegaremos aos nossos compromissos. O trânsito virou unanimidade, e a regra é ficar preso nele, em qualquer parte da cidade. Nao adianta mais sair com antecedência, os atrasos, que antes aconteciam nos horários de pico, viraram rotina a qualquer hora do dia ou da noite.
Neste universo de pessoas que usam diariamente as ruas de BH, ha uma categoria de motorista que preocupa e siginifica risco para o coletivo: aqueles que atribuem a culpa do caos ao motorista da frente ou do lado, os que não compreendem que a cidade é administrada por burocratas que se dizem portadores da verdade, especialistas que não enxergam a cidade como ela é, mas como eles querem que ela seja. A maioria deles, sentados atras de mesas, com seus simuladores de tráfego, distantes da realidade ou enxergando essa realidade através de cameras, friamente.
Com efeito, a sociedade precisa reagir, pois o caos cria uma categoria de motorista que coloca as suas próprias vidas em risco e a de terceiros, aqueles que perdem o controle emocional e aceleram na tentativa de recuperar tempo parados nos engarrafamentos. Quem nunca se atrasou para um compromisso e depois pisou fundo no acelerador, de raiva do trânsito que não anda ou por necessidade inadiável de chegar a tempo?
Esse é o tipo de motorista cada vez mais comum, pois estamos falando de pessoas comuns que já não suportam mais o estresse provocado pela omissão das autoridades que seguem varrendo o assunto para debaixo do tapete, dando a ele importância menor finque ele tem. É nesta hora que percebemos as consequências da má gestão do trânsito, da necessidade de um plano de emergência para a cidade. Percebemos também que a cidade que moramos está a deriva de sinais, regra geral sem sincronia.
Não se vê mais agentes de trânsito treinados e pro-ativos intervindo positivamente, em busca de resultados, eles desapareceram, e quando são vistos estão fazendo o que sabem, e a que foram reduzidos: multando a população acuada por radares, detectores de avanço de sinais e estacionamentos irregulares, em uma cidade que é proibido falar em estacionamentos subterrâneos ou verticais. Pensar em Vias Expressas e corredores sem interrupção de tráfego é heresia, pecado mortal.
Ou seja, não há por parte das autoridades qualquer compromisso com a fluidez. Lembro que a frota caminha para 2 milhões de veículos. Fica uma pergunta: até quando o Prefeito vai seguir passivo diante desta realidade, apostando no mesmo grupo que está aí há 35 anos, e que já provou não ser capaz de apresentar resultados?
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Assuntos Urbanos
Autor do Blog SOS MOBILIDADE URBANA
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