Recentemente o Sindicato Nacional de Arquitetura e Engenharia (Sinaenco) realizou pesquisa que coloca o trânsito e o transporte público como os maiores problemas de infraestrutura de Belo Horizonte. De acordo com 83% dos entrevistados, a mobilidade urbana causa os maiores impactos na vida das pessoas.
E não é para menos, Belo Horizonte parou no tempo, ao contrário do que deseja a população, o gestor do trânsito ignora que a cidade precisa de intervenções de engenharia na sua infraestrutura. Sempre com o mesmo argumento, “obras resolvem temporariamente”. Não conseguem enxergar que existe um passivo de 40 anos, que precisa ser encarado e solucionado, antes das medidas restritivas.
Na ultima semana o próprio órgão responsável pela “i-mobilidade” revelou números preocupantes, que deveriam servir para mudar de rota, em pelo menos em 180º, as ações do time da mobilidade que é o mesmo há 25 anos. Entra governo, sai governo e as mesmas pessoas continuam repetindo as mesmas fórmulas para uma cidade “ideal” que não existe na prática. BH não é a Atlântida de Platão…
Em 10 anos a frota de veículos pode crescer 60%, passando de 1,7 milhões de unidades, para 2,8 milhões. Se o caos é visível hoje, imagine o que será daqui há 10 anos? A cidade precisa fazer o dever de casa. Mas ao contrário, estreitam vias, alargam passeios, instalam sinais, postergam obras, tentam desestimular o uso do carro, em vão.
O povo quer carro, mas a turma do “deixa disso” ao invés de focar em ações que possam gerar fluidez, segue acreditando em ciclovias, BRT e mudanças de hábitos. A cidade apresenta o maior crescimento na frota de veículos particulares entre as capitais brasileiras (média de 10% ao ano). Querendo ou não, carro é objeto de desejo da maioria das pessoas, aqui e no Brasil inteiro.
Além disso, BH é a única capital brasileira com topografia acidentada, o que dificulta as caminhadas, o uso de transporte não motorizado (bicicletas). Ironicamente, a geografia da cidade é propicia para soluções simples de engenharia, capazes de eliminar gargalos, criando corredores de trafego, tirando carro de onde carro não deveria transitar.
Com efeito, a natureza ajoelha-se generosa e pede atitude dos gestores públicos, mas eles preferem repetir ladainhas politicamente corretas, inúteis. Enquanto isso a população é obrigada a contentar-se com as intervenções remanescentes dos governos Mauricio Campos e Hélio Garcia. Sobra mediocridade, falta ousadia.
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Assuntos Urbanos, autor do blog SOS Mobilidade Urbana – Portal uai.com.br – 31-99953-7945 – jaribeirobh@gmail.com