Por obra do acaso, na tarde de quarta feira dia “06/09/2017, d.C.” no mesmo horário que mais três cidadãos belo-horizontinos perderam a vida no Anel Rodoviário, em um trágico acidente provocado por uma carreta em movimento e um monte de veículos parados, onde eles jamais poderiam estar, encontramos com o Prefeito Alexandre Kalil saindo de um shopping da Capital.
Ele estava sendo escoltado por 6 seguranças e ao que tudo indica, discutia o futuro do tão esperado “Colosseum do Galo”(ESTÁDIO). Perguntado por um amigo jornalista ele não titubeou: vou passar um dia na sede do clube na próxima semana para convencer os que ainda tenham dúvidas da necessidade deste “Colosseum Atleticano”(ESTÁDIO), tão sonhado pela massa. “Isso é urgente”
Afinal, o galo precisa ter seu estádio, disse o Prefeito, em alto e bom tom. Mas o que tem a ver uma coisa com a outra? Possivelmente você amigo leitor, deve perguntar. A príncipio, absolutamente nada. Todo mundo sabe que o Prefeito é atleticano, ex-presidente do maior clube de futebol da cidade e um defensor da construção de mais um “Colosseum”(ESTÁDIO) na Capital, se não bastasse os dois já existentes, Mineirão e Independência.
Todo mundo sabe também que os que não são atleticanos, devem ser cruzeirenses ou americanos. Já os que não ligam para futebol, como eu, são minoria. Não sei os números, mas presumo que 95% da população seja apaixonada pelo esporte. Digo também, que não é por acaso que mais três pessoas inocentes perderam a vida no Anel da Morte, nem tampouco é por acaso que a cidade não anda, está imóvel nas mãos de gente medíocre, e até de preguiçosos esperando aposentadoria.
A energia dedicada as coisas da cidade se comparada à aquela dedicada aos assuntos do futebol, é ínfima. Futebol é sim importante, o resto é secundário. BH nunca esteve tão suja, feia, insegura, imóvel, abandonada e estagnada. Há três décadas espera solução para o famigerado Anel Rodoviário, para as obras de infraestrutura que não aconteceram.
Na mesma noite do acidente, o prefeito veio a público em mais uma de suas bizarras fanfarronices, dizer que vai assumir a gestão do Anel Rodoviário. Falou e a “massa” aplaudiu como ele gosta. Sinceramente, chego a pensar que o prefeito não anda pela cidade que governa. Bastaria uma voltinha pelo bairro Buritis para não falar tamanha bobagem.
Entregar o Anel Rodoviário para a BHTRANS seria um desastre sem precedentes, assim como é o transito em qualquer parte de BH. Em poucos dias a única via expressa de fato da cidade tornar-se-ia uma avenida cheia de sinais, radares e quebra molas, mais uma maquininha “caça níqueis” para faturar na costas do povo. Isso a BHTRANS sabe fazer bem. Isso e mais nada.
A empresa responsável pelo trânsito, todos sabem, não dá conta de administrar a porta da sua sede no Buritis, quiça o Anel Rodoviário. Alguém precisa pegar na mão do Prefeito e andar com ele pela cidade longe dos bajuladores que falam o que ele gosta, não o que ele precisa ver. Digam a ele também que o DNIT tem projetos e competência para resolver 0 problema do Anel Rodoviário, e que eles ainda não aconteceram por falta de recursos e por excesso de burocracia.
Na sequencia, lembro ainda que a população segue esperando o prefeito abrir a caixa preta da BHTRANS, mesmo que ela não exista. Isso foi promessa de campanha. Com efeito, sem delongas, pego emprestado da historia, a carta do Imperador Vespasiano para o seu filho Tito, antes de morrer encerrando este arrazoado ciente de que são palavras ao vento…
Belo Horizonte, “09 de setembro de 2017 – d.C.”
Roma, 22 de junho de 79 d.C.
Tito, meu filho, estou morrendo. Logo eu serei pó e tu, imperador. Espero que os deuses te ajudem nesta árdua tarefa,afastando as tempestades e os inimigos, acalmando os vulcões. De minha parte, só o que posso fazer é dar-te um conselho: não pare a construção do Colosseum. Em menos de um ano ele ficará pronto, dando-te muitas alegrias e infinita memória. Alguns senadores o criticarão, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê ouvidos a esses poucos. Pensa: onde o povo prefere pousar seu clunis: numa privada, num banco de escola ou num estádio?
Num estádio, é claro.
Será uma imensa propaganda para ti. Ele ficará no coração de Roma por omnia saecula saeculorum, e sempre que o olharem dirão: “Estás vendo este colosso? Foi Vespasiano quem o começou e Tito quem o inaugurou”. Outra vantagem do Colosseum: ao erguê-lo, teremos repassado dinheiro público aos nossos amigos construtores, que tanto nos ajudam nos momentos de precisão. Moralistas e loucos dirão, que mais certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem que é melhor usar roupas novas que remendadas. Vel caeco appareat (Até um cego vê isso).
Portanto, deves construir esse estádio em Roma.
Enfim, meu filho, desejo-te sorte e deixo-te uma frase: Ad captandum vulgus, panem et circenses (Para seduzir o povo, pão e circo).
Esperarei por ti ao lado de Júpiter.
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Assuntos Urbanos/Licenciado em Filosofia
Blogueiro do portal UAI – SOS Mobilidade Urbana
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