Não conheço o delegado César Augusto Monteiro Alves Junior, ele não é meu amigo, tampouco tenho procuração para defendê-lo, não sou advogado, mas é fácil notar que estão tentando “fritá-lo”, por uma bobagem. O método do “8 ou 80” no Brasil, movido pela hipocrisia, pela conversa inútil e politicamente correta de oportunistas, causa asco a quem enxerga além das montanhas e já passou dos 50.
Pegaram o pobre delegado para “Cristo”, em troca de ibope, ou por pura maldade de gente que não tem o que fazer. Delegados, assim como juízes, promotores, médicos, operários, padres, jornalistas ou qualquer indivíduo que tenha carros registrados em seu nome, estão sujeitos a perder pontos na carteira de habilitação. As cidades brasileiras são espaços perfeitos para a famigerada indústria das multas. A ativa e a passiva.
Aliás, ela vem prosperando graças a um discurso ensaiado, um arsenal técnico bem montado, legal, mas de uma imoralidade que dói no bolso. O exemplo de Belo Horizonte serve para a maioria das cidades do interior de Minas. O delegado teve a infelicidade de deixar tornar-se público o seu prontuário e está sendo crucificado por parte da imprensa que parece sentir prazer em denegrir pessoas como se fossem donos da verdade, vestais.
Tem rádio repetindo o assunto em BH de 5 em 5 minutos, com comentários jocosos, desnecessários, e até infantis. A hipocrisia tomou o lugar da razão e do bom senso neste episódio, revelando mais do que despreparo de alguns profissionais de imprensa, mas desconhecimento do fenômeno que norteia a lógica perversa e imoral das fábricas de multas instaladas no Brasil, no Oiapoque ao Chuí. Conheço dezenas de pessoas de bem, cidadãos exemplares, impedidos de dirigir por capricho de uma lei que não leva em conta a realidade brasileira.
Refiro-me à organização das cidades, a geografia e o modelo de equipamentos utilizados para punir cidadãos, os que merecem punição, que são exceções, e os de bem, que são maioria. Não é por que são irresponsáveis, ou abusaram no trânsito, mas por que é quase impossível viver nas cidades ou transitar pelas estradas sem ser vítima dos radares de tocaia, os pardais escondidos atrás de postes ou galhos de árvores. A pedagogia da multa funciona para lesar o cidadão, e não para educa-lo. E não me venham com a conversa mole de que é só andar na linha…
Menos importante do que o prontuário de multas do delegado é saber se ele é policial diligente, assíduo, competente, justo nas suas ações, se presta um bom serviço aos cidadãos. Se tem capacidade para dirigir o DETRAN de MG. Mais do que os pontos, é a sua dedicação à causa pública, se é um líder capaz de manter equipes motivadas, e se é um servidor honesto, dedicado ao seu ofício. O resto é lero lero, conversa de manicure.
83% das notificações por “excesso de velocidade” na cidade de Belo Horizonte acontecem por uma diferença de 1 a 5 km/h. Ou seja, prova inequívoca, mais do que suficiente para afirmar que existe sim uma indústria da multa trabalhando a favor dos cofres dos municípios e menos em prol da vida. O delegado pode muito bem ter veículos usados por familiares, ou ter cometido infrações no desempenho de suas atividades. O que anularia as multas e a língua afiada de quem tripudia irresponsavelmente contra ele, colocando sua imagem e carreira em risco.
Quanto à acusação de transitar em calçada, pergunta-se: em que circunstâncias isso ocorreu? Falta aos que se apresentam como moralistas, donos da verdade, insensatos, o próprio senso de lógica, a compreensão do fenômeno, menos do que o fato isolado. Ninguém é a favor da desobediência às leis, sobretudo as de trânsito. Porém neste episódio está havendo exageros, julga-se um servidor público com réguas que não são as mais justas, por pura hipocrisia, oportunismo deslavado de gente que envergonha a classe jornalística. Fica o meu protesto!
José Aparecido Ribeiro
Jornalista, blogueiro no portal uai.com.br – DRT MG 17.076
Colunistas das revistas Exclusive, Minas em Cena e Mercado Comum
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