O presidente Michel Temer, em decisão acertada, assinou decreto de intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, o que já deveria ter acontecido há tempos, em que pese a turma do “deixa disso” não enxergar o tamanho do problema e criticá-lo tentando desqualificar a ação. Ao nomear um Interventor, General Braga Netto, Temer chama para si a responsabilidade pelo caos. Vai resolver? Não sei. Podia ficar como estava? De certo que não. Portanto palmas para o “mordomo”.
O Rio não chegou ao fundo do poço de uma hora para outra, foram décadas de omissão, falta de compreensão das autoridades e da própria população sobre a essência do fenômeno. Tem muita gente para criticar, jogar pedra, poucas para propor soluções factíveis e de longo prazo. A degradação não ocorreu só nas forças de segurança e no comando político do Estado. A população também é responsável, foi conivente, fez vista grossa, romantizou o tema e contribuiu para o estado lastimável de degeneração da “Cidade Maravilhosa”.
O problema do Rio não é só de polícia, mas de política, falta da boa política. Não sou especialista em segurança pública, embora como presidente de CONSEP em BH por dois mandatos, (4 anos) tive oportunidade de entender um pouco do assunto e participar ativamente da elaboração de estratégias de policiamento comunitário com foco em cenários de criminalidade. Não sou leigo e nem mero palpiteiro, falo com tranquilidade como estudioso de problemas urbanos.
Posso afirmar que a falta de segurança no Rio está relacionada à questão da ocupação desordenada do espaço geográfico, a degradação no tecido urbano. Pasmem, mas 2,5 milhões de pessoas moram de forma indigna em aglomerados inabitáveis, na cidade e na região metropolitana da capital fluminense. A falta de eficácia nas ações de segurança está relacionada também e principalmente à questão habitacional. A privação de moradias dignas. Um terço da população vive como se vivia na idade média, sem infraestrutura adequada. É nas favelas que o crime organizado se esconde.
Elas somam mais de 1.200, e são o lar de milhões de pessoas que não tem qualquer ligação com o tráfico ou com as milícias que disseminam o terror. Porém, é neste cenário de degradação do espaço que o crime ganha corpo, acaba dominando e exercendo influencia. Se usarmos a lógica simples para tirar conclusões, é possível deduzir que sem mudança de cenário, nenhuma ação de segurança surtirá efeito de longo prazo. Ocupar os morros com tropas não muda a cara dos morros, e eles precisam se transformar em locais habitáveis para que haja paz, esperança e vida nova para a população.
Com efeito, além do exército, a engenharia, as máquinas devem vir derrubando favelas e edificando novas moradias, novos bairros com infraestrutura capaz de organizar o espaço urbano, devolvendo dignidade à população. Fácil? Não. Impossível? Também não. Onde conseguir recursos? Usando as reservas estratégicas do país. Há meios para isso, se o fenômeno for compreendido e a cidade do Rio for a primeira de várias Brasil afora. A questão habitacional deve ser tratada como assunto de segurança nacional, prioridade que independa de cores partidárias. Nao vale os cubículos propostos pelo programa “minha casa minha vida” para um grupo de 4 ou 6 pessoas, é necessário avançar.
Experiência semelhante foi experimentada com sucesso em Nova York no início do século passado, está disponível para qualquer político responsável e sensato. Singapura, Hong Kong, Kuala Lumpur, e varias cidades asiáticas seguiram o mesmo exemplo de Nova York. Ao qualificar o espaço urbano através de moradias devolveram autoestima para a população. Em espaços onde há cidadania e autoestima o crime tende a enfraquecer, perde força e pode ser controlado.
Se deseja recuperar a Cidade Maravilhosa, os governos municipal, estadual e federal devem imediatamente convocar as instituições, o povo, a engenharia e a indústria da construção civil para uma cruzada contra as favelas cariocas. De quebra, a economia poderá girar, gerando emprego, renda, impostos, iniciando assim um círculo virtuoso de prosperidade. Exército e intervenção militar são apenas paliativos para estagnar a sangria que desatou. Favelas nao podem ser motivo de orgulho, nem tampouco cartão postal. Devem ser motivo de vergonha e atitudes.
*Recomendo a leitura da história do prefeito “Robert Mouses” e seu ousado plano habitacional que mudou a cara de Nova York no início do século passado.
José Aparecido Ribeiro
Jornalista e blogueiro no portal uai.com.br – Consultor em Assuntos Urbanos
Colunista e articulista das revistas Minas em Cena, Mercado Comum e Exclusive
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