É comum ouvir que engarrafamentos acontecem em virtude do excesso de veículos. Certo? Nem sempre. Pouco se discute o déficit de infraestrutura como motivo principal para o caos urbano. O tema da mobilidade urbana vem sendo tratado na superficialidade, sempre pelas mesmas pessoas, ainda que elas já tenham provado que não estão alcançando sucesso em suas ações. Entra ano, sai ano e o trânsito de Belo Horizonte só piora.
No entanto, é comum ver os mesmos especialistas ocuparem tribunas, microfones de rádios, jornais, revistas ou televisão para falar de mobilidade urbana repetindo as mesmas ladainhas: a cidade não suporta mais o volume de carros e o cidadão precisa mudar hábitos, deixar o carro em casa e andar de bicicleta ou de ônibus. Este é o ideal que existe na cabeça deles, mas não representa o desejo da população.
A infraestrutura da cidade vive um apagão de 40 anos, sem investimentos em viadutos, túneis, trincheiras, elevados, passarelas, eliminação de semáforos etc. Não se fala em investimentos para corredores de tráfego que permitam fluidez no trânsito (vias expressas) ou rotas alternativas (corta caminho). Ao contrário, todas as ações do poder público (BHTRANS e SUDECAP) visam impedir fluidez no trânsito, propositadamente.
Ironicamente, nos últimos 20 anos o Brasil recebeu nada menos do que 13 montadoras de automóveis, (informações do Atlas da Mobilidade do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA). Os incentivos vieram através de um programa chamado “Inovar Auto”, (Lei 12.715/2012) do Governo Federal, que oferece subsídios por meio da diminuição da carga tributária para multinacionais que quiserem instalar unidades e produzir no Brasil.
O Programa tem o objetivo de geração de emprego, renda e impostos provenientes da cadeia produtiva da indústria automobilística. Para ter um carro o brasileiro precisa pagar outro para o Governo Federal através de impostos. O IPEA mostra também que a frota dobrou em 20 anos e hoje tem 43,5 milhões de veículos. Porém, as cidades seguem com a mesma estrutura viária de 40 atrás. Há um descompasso entre as diretrizes da economia e a estrutura das cidades.
Em Belo Horizonte, por exemplo, são mais de 200 pontos (gargalos) que provocam interrupção de tráfego e que esperam por obras de engenharia. A cidade possui mais de 1.100 semáforos funcionando em onda vermelha. Somado a esse apagão, existe um paradigma perverso alimentado por pseudoespecialistas de que obras para dar fluidez e eliminação de gargalos não resolvem o problema, pois são temporárias.
Na verdade o que se nota é que tais obras estão sendo empurradas para o futuro, pois a frota de veículos vem aumentando até mesmo em tempos de crise. Lembro que carro não é apenas meio de transporte em um país sem alternativas de transporte publico de qualidade, carro é sonho de consumo que ocupa o 1º lugar no desejo da população, até mesmo antes de um lar digno.
Para o brasileiro ter carro é mais importante do que ter casa. Com efeito, ou mudam-se os paradigmas sobre o significado do carro, investindo pesado em obras de infraestrutura viária, transporte de boa qualidade (modais aéreos ou subterrâneos – MONOTRILHO, METRÔ, VLT, TELEFÉRICOS), ou as cidades entrarão em colapso muito antes do que se imagina.
José Aparecido Ribeiro
Jornalista, estudioso do tema mobilidade urbana.
Blogueiro no portal uai.com.br, e no portal osnovosinconfidentes.com.br
Articulista nas revistas Entre Vias, Mercado Comum, Exclusive e Minas em Cena.
DRT 17.076-MG – jaribeirobh@gmail.com – 31-99953-7945