A ORALIDADE POSTA A FERROS? Texto degustativo de Epiphânio Camillo

Textos demandam esclarecimentos orais segundo as circunstâncias, as condições dos interlocutores, e o contexto 

Foto: Reprodução web – Marshall McLuhan

Por: Epiphânio Camillo) – Especialista em TI e vice-presidente da ACMinas

“Impedir que os textos escritos sejam autônomos e se bastem, suficientes, é costear o retorno dos diálogos fundamentais à Idade Média, revisitar as conquistas civilizatórias, reinventar a roda. O que diria Émile Zola (1840-1902) se hoje estivéssemos em 1898 diante do processo fraudulento de que Alfred Dreyfus foi vítima?

A oralidade precede a escrita e a justifica. Textos demandam esclarecimentos orais segundo as circunstâncias, as condições dos interlocutores, o contexto em que se apresentam. Somente a verbalização oral adiciona predicados contemporâneos para adjetivar a qualidade dos argumentos. Sem o acesso à tribuna, o texto é passivo, resta inerte. É substância sem a alma que o ressuscita.

É no exercício da oralidade que o texto se depura em busca da compreensão, traduz a essência da mensagem que porta para ser percebido além das limitadas evidências da escrita. Nos predicados fundamentais do falar ele se completa na sonoridade do tom de voz, na expressão dos gestos, na iluminação dos olhares que se cruzam, pela exposição corporal e diante do inescondível linguajar das faces.

É fundamental viajar no processo do argumento por todos os quadrantes para compor o mosaico que melhor exprima aderência à convicção exposta da tribuna; ir além do texto e perscrutar o que se esconde nas entrelinhas, entre as frases; perceber o que se insinua na intimidade do radical das palavras e exala na poesia dos gestos e dos atos; ouvir, interpretar o impacto sonoro que flui na tonalidade da voz; encontrar-se na sutil escrita dos olhares; captar o que estampa e escapa da timidez no toque de pele.

Marshall McLuhan (1911-1980), festejado teórico ideólogo moderno da Comunicação, na obra “Understanding Media: The Extensions of Man”, de 1964 (ano icônico para nós brasileiros!), não afirmou que “a mensagem é o meio”, mas que “o meio é a mensagem”. O que isso significa? Que a forma e caminho utilizado para levar mensagem ao destinatário “molda e influencia tanto ou mais do que o próprio conteúdo.”

Substituir ou impedir a oralidade pelo limitado protagonismo da escrita é, portanto, reduzir o que se quer dizer a diálogo de mudos falando para surdos.

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(04/03/2025)

Em 13 de janeiro de 1898 Émile Zola escreveu e publicou, no jornal L’Aurore, carta aberta aos Presidente da França, Félix Faure, para denunciar condenação injusta por crime de traição contra o Capitão Alfred Dreyfus.” 

  1. Aparecido Ribeiro é jornalista e editor

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By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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