“O grande “point” de compras de todos os sonhos de consumo que existiam abaixo da linha do Equador era na Galeria Ouvidor”

Por: Antônio Calábria – Jornalista e articulista – Editor da Revista Rota Viva
“Na época em que a bela Belo Horizonte estava na adolescência, se recolhia às 22 horas, no tempo do último ônibus às 23, do sinal de TV que apagava deixando chuviscos no ar às 24, não sem antes recomendar que a população fosse dormir, não esperasse mamãe mandar, vivíamos na idade média, mas pensando bem não era assim tão ruim.
Havia políticos honestos, desembargadores ilibados, incorruptíveis juízes e magistrados, que depois de desencarnados davam nome as nossas arborizadas avenidas, lembras disso? Os bandidos eram escassos e tinham pavor da polícia, acreditem! (…)
Era época em que só se compravam preciosidades importadas, calça Lee, Levys, perfume Lancaster e radiozinhos portáteis japoneses na clandestinidade, na boutique em casa de dona Fulana, em endereços super secretos que todos conheciam.

E o grande “point” de compras de todos os sonhos de consumo que existiam abaixo da linha do Equador era na Galeria Ouvidor. O chic era cortar cabelo no Nero, na galeria Ouvidor.
Estamos falando de uma época em que tudo acontecia no centro de BH, povoada pelas nossas honoráveis tribos indígenas, Carijós, Tupis, Tupinambás, Caetés e tantas mais, irmanadas com Estados e Cidades brasileiras.
Nestes cruzamentos e vizinhanças se abrigavam restaurantes, barzinhos, botecos e lanchonetes inesquecíveis. Às vezes eram tantos e tão irmanados que as tribos e os estados se encontravam em alegres happy hours gastronômicos e etílicos.

Ir aos simpáticos Ted’s e Sacy na Rua dos Tupis, em frente ao Cine Tupi ou Jacques, tomar milk shake e comer um mixto, ou americano, depois do cinema, era o programa dos domingos dos adolescentes. Beleza. Subir a Rua do Espírito Santo para degustar uma coxinha com catupiry da Torre Eiffel, a glória.
Virar à esquerda e descer a rua dos Goytacazes, se deliciar com o pão de queijo da Camponesa, felicidade. E aí, de repente, já se deparava com a vista maravilhosa do Cine Metrópole, às margens da rua da Bahia. Alegria geral.
Mais tarde, subir Bahia, atravessar a Av. Antonio Augusto de Lima, entrar na Cantina do Lucas, atendimento personalizado top de linha, no lendário Maletta. Genial! Saborear um cachorro quente ou uma “banana split” das Lojas Americanas na Rua São Paulo, cair no footing saudável da Av. Afonso Pena – Afonso Augusto Moreira Pena, Ilustríssimo advogado nascido na acolhedora Santa Bárbara, sexto Presidente do Brasil.

As paqueras, os namoros, os encontros de todas as tribos com os estados irmãos se desaguando na Afonso Pena. Empolgante! Podia-se jogar sinuca no Metro, na Rua dos Tupinambás com Curitiba, onde estrelava o melhor croquete da Capital, indispensável, ou comer um sanduíche de linguiça no Café Palhares. BH de raiz!
De volta a Rua do Espírito Santo, antes de chegar a Carijós, tomar um chopp geladíssimo no Tip Top, com tira-gosto alemão. Sofisticação internacional. O quibe da Gruta OK na Rua dos Tamoios, ao lado da antiga Assembleia dos Vereadores era melhor do que de todos os árabes Salins e Mustafás, patrícios do Oriente Médio até o Golfo Pérsico. Inigualável no tamanho e no sabor. Inshallah! As loiras geladas do Teorema da Rua dos Tupis com Rio de Janeiro, Jesus Amado!, quantas e quantas. Obrigado, Senhor!
La Bella Itália se encontrava no centro da Bela Belorizonte e a Cantina do Ângelo, na Rua dos Tupinambás com Amazonas não ficava nada a dever ao afamado Alfredo, de Roma. No Giulio da Rua Curitiba, no Scotellaro da Av. Paraná, comia-se melhor que em todas tratorias italianas da Toscana. Madonna Santa, que saudade!

Romanas eram aquelas Vias, Vias Vênetos dos mineiros para ser bem romântico, dolce vita noturna da bela BH… O sanduíche de pernil com pão quente da hora da Padaria Boschi, Rua dos Tamoios com Rio de Janeiro, irresistível.
Se ouvia música de verdade para dançar nos fantásticos bailes de formatura e de carnaval, nas horas dançantes, no PIC, no Iate, nos DCEs da Federal e da Católica, no Círculo Militar, da Sociedade Mineira dos Engenheiros, no Clube dos Oficiais da PM, no Prado, no Elite danças, Colônia Portuguesa e Sociedade Italiana, no centro e tantos outros clubinhos e inferninhos escondidos ali pelo Centro. E o encantamento das festas juninas do Cruzeiro Campestre, do clube BH, do Country, do Minas, do Barroca. Maravilha!
Depois dava aquela fome danada de fim de festa, fome de casamento sem comida, e a gente despencava para a Praça Raul Soares, Senador ilustre das Minas Gerais, oriundo da aprazível Ubá, das mangas Ubá sem linhas, deliciosas.Lá na Praça se encontravam aqueles estabelecimentos que funcionavam 24 horas e que saciavam a tal fome da madrugada da boemia.

O Scaramouche, Hi-Fi, a Pizza do Macau, a Spaguetelândia estavam sempre abertos, era manjar dos deuses no final da noitada. Fundamental. Havia muitos Inferninhos, quem se lembra daqueles estabelecimentos de diversão saudável, gastronômicos entre muitas aspas e disputadíssimos nos fins de semana?
Ou então diversificar, alongar o roteiro, ir ao Pizzaiolo da Contorno, das mil e uma pizzas, na Rua Pernambuco tomar umas batidas no Beb’s, dos mil e um sabores, ou comer um mexidão de fim de noite no “Arroz com Feijão” na Savassi. Indescritível.
Por fim, finalizar no Pizzarella, saudosa lembrança, e até hoje presente na Av. do Eminente Presidente Olegário Dias Maciel, Líder revolucionário de 1930, Engenheiro de Bom Despacho, Cidade Sorriso. Divino. Satisfeitos?

Tantos outros mil redutos que existiam, acolhimentos que fugiram da memória, nasceram e evaporaram sem que déssemos conta, desapareceram das nossas lembranças…
Quem se lembrar que escreva, não vamos deixar cair no esquecimento aqueles que por algum tempo nos foram tão queridos…
Caminhando pelas Ruas da cidade, saltitante adolescente numa Belorizonte, amiga e companheira, aprontando alegrias, sorrindo, fazendo planos, trocando ideias, gastando juventude, procurando a tal felicidade…
Era um trem bom demais, sô…”
José Aparecido Ribeiro é jornalista e editor
www.zeaparecido.com.br – jaribeirobh@gmail.com – WhatsApp: 31-99953-7945
Fortaleça o jornalismo independente: Anuncie, compartilhe, sugira pautas e doe pelo pix: 31-99953-7945