“É possível divergir sem ódio e discordar com respeito; pode-se mesmo brigar com amizade.” (Otto Lara Resende)
Por: Epiphânio Camillo – Especialista e TI e vice-presidente da ACMinas
“Houve um tempo em que as fontes, o portos seguros do conhecimento e de informações, eram os jornais impressos. Neles se aprendia a ler, a escrever corretamente e, nos argumentos do conteúdo, instruía-se para além da forma. Se determinada palavra, colocação pronominal, construção semântica ou a gramática eram expostas de determinado modo nos jornais, supunha-se correta.
Em certa medida, conquanto não substituíssem os livros didáticos nem as obras literárias difíceis de obter, indicavam bons caminhos e sinalizavam a existência de portas para outras experiências nas poderosas sendas do léxico num exercício lúdico e instigante. O conteúdo também enriquecia o conhecimento geral e nas colunas e cadernos especializados podia-se absorver dados e opiniões que balizavam comportamentos e orientavam ações.
São célebres as colunas de publicações dos grandes Mestres do bem escrever e informar, cujas linguísticas e sintaxes expunham ensinamentos a mancheias: Machado de Assis, Coelho Neto, Carlos Castelo Branco, Olavo Bilac, Carlos Heytor Cony, Napoleão Mendes de Almeida, Cândido Mendes, Afonso Arinos de Melo Franco, Rubem Braga, Agripino Griecco, Carlos Drummond de Andrade, Zélia Gattai, Rachel de Queiroz…
“Tenho certeza! Vi no jornal”, era expressão corrente para validar o que se dizia e ditava como escrever corretamente. Trazia segurança quanto à notícia, homologada na palavra do jornal. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação as emissoras de rádios e televisões chegaram para agregar e suprir espaços não preenchidos, enriquecendo o leque da oferta de conhecimento, herdando a boa reputação da imprensa, legado que se supunha perenizada.
Depois… com o andar da carruagem – ou do tílburi –, foram se perdendo face à inocente(!) leniência inicial com os descuidos na qualidade gramatical dos textos e, pior, com os desvios na interpretação apropriada dos fatos apurados, dever e pedra fundamental do jornalismo, cedendo espaços cada vez mais evidentes às manipulações de interesses pessoais ou de interpretações sob encomendas.
É comum que um mesmo fato tenha duas versões diferentes, por vezes completamente opostas. Confundem-nos os autores, ao que parece de caso pensado, mirando o propósito de conduzir o leitor não lhe ofertando o fático para que ele, de posse de informações confiáveis, aderentes aos acontecimentos, possa interpretá-los e, a seu próprio juízo, acolhê-los e agir como melhor lhe aprouver. Aplica-se de maneira enviesada e arbitrária a expressão em latim “Non Dvcor, Dvco”, atribuída a Goethe e lema inscrito no brasão da cidade de São Paulo.
Instalou-se então, estampado à luz do dia e iluminados pelos holofotes dos estúdios, nas manchetes inspiradoras, o ódio adjetivado – do bem e do mal – segundo a óptica dos censuradores da verdade. Afastados do cliente fundamental, o leitor, as notícias se digladiam entre interpretações e reinterpretações que se procriam sucessivamente, transferindo e infectando o meio ambiente com as mazelas das mensagens corrompidas.
De livro fonte para a disseminação do conhecimento, a imprensa passou a ser referência não confiável. Perdemos todos. Cem Anos de Solidão?
“D’après Gabriel Garcia Marques (1927-2014) – O Amor nos Tempos do Cólera, 1985; Cem Anos de Solidão – 1967”.
J.A Ribeiro é jornalista e editor
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