A vitória é do sistema – PSD. A derrota é do povo que mais uma vez caiu no conto da sereia, pela flauta do marketing político
Se o resultado das urnas representa realmente a satisfação e o desejo do eleitorado, podemos deduzir que o trânsito de Belo Horizonte é o melhor do Brasil, assim como a saúde, a educação, a limpeza urbana, segurança, a assistência social – apesar do mais de 10 mil moradores em situação de rua – a infraestrutura e em última instância, a competência de quem nos governou, Fuad Noman.
Ao reeleger Noman, do PSD, leia-se, sistema, o eleitor passa um cheque em branco para a equipe que vem comandando a cidade há 32 anos, seguir em frente fazendo mais do mesmo. A reeleição de qualquer prefeito para um governo de 4 anos é um indicativo de que o povo gostou do seu jeito de administrar e confia nele para mais um mandato. Fuad está aí desde 2016, mas o núcleo duro do seu governo, desde 1992.
Não é segredo para ninguém minimamente informado de que não é o prefeito quem resolve os problemas, mas o secretariado e o segundo escalão do governo. No caso de Belo Horizonte, em que o prefeito é especialista em esticar suspensórios coloridos, e está muito mais pra lá do que pra cá, o prefeito de fato é o super secretário Josué Valadão, que vem conseguindo driblar a sopra de letrinhas partidária se mantendo na cúpula do governo municipal, independente de quem é for o prefeito e o partido.
Josué é daqueles servidores que não aparecem, mas é respeitado por todos internamente, sem ter um único voto. Tem fama de honesto, austero e “competente”, em que pese o fato de ter limitações seríssimas no tocante ao conceito de desenvolvimento de uma cidade com 2.416.339 pessoas, e 2.696.745 veículos, estacionada no tempo no quesito infraestrutura. Vou me ater ao que escrevo há 30 anos: Infraestrutura, trânsito, imobilidade urbana, transporte e obras.
A cidade espera por mais de 200 obras que já deveriam ter sido feitas há 40 anos, mas quem decide o que, como, quando e quem vai fazer o quê na cidade, é o super secretário. Não se gasta um centavo na PBH, sem o “xamegão” do Valadão. Ele é um dos partidários da turma que prefere puxadinhos no lugar de obras de arte da engenharia. Isso explica os gargalos que se multiplicam ao longo dos corredores de trânsito, a ausência de vias-expressas, e a lentidão do trânsito com prejuízos incalculáveis ao meio ambiente e ao bolso do contribuinte que perde mais de 215 horas todos os anos em engarrafamentos irritantes.
Explica também o porquê do Anel Rodoviário ser a carnificina que é, e a única via-expressa de fato que a cidade possui. Com efeito, desde o primeiro mandato de Márcio Lacerda, Josué Valadão não saiu mais da prefeitura, sempre sentado ao lado do prefeito e tomando as decisões importantes da cidade, de preferência, as que não demandam grandes somas de recursos e nem exijam muito trabalho.
Abaixo dele, tanto no segundo e no terceiro escalão da PBH, um monte de secretários e presidentes de autarquias de vários partidos, uma miscelânea cujo critério é menos a competência e mais a influência partidária, feita em bastidores para atender a interesses que não são os do povo. A maioria de matizes ideológicas esquerdista, gente que não é lá muito chegada às mudanças que a cidade necessita do ponto de vista estrutural, alguns acomodados e um monte de preguiçosos.
Porém o núcleo duro das secretarias mais importantes e que mais impactam a vida dos cidadãos, este vem de longa data, é gente do PT, de carreira concursados e que comandam a cidade desde 1992 quando Patrus Ananias foi eleito, transformando a PBH num porto seguro para os “cumpanheiros”. E isso explica também o porquê da cidade ter estacionado na década de 80 do século passada, numa espécie de apagão da engenharia, no modelo Osias Batista do ATRASO… (Quem é da engenharia sabe do que estou falando).
Eles fazem o basiquinho, que lhes permitem bater o ponto, garantir o emprego, as consultorias e manter a cidade funcionando, ainda que do jeito que todo mundo já conhece, meia boca, apagando incêndio aqui e acolá. Basta um acidente no Anel Rodoviário ou um carro quebrado no trevo do BH Shopping, para o caos se instalar e transformar a vida do cidadão que precisa deslocar em um martírio. Mas o povo tem o que merece, e as “urnas”, se de fato são seguras, mostrou isso.
O grupo que Josué comanda é composto pela turma do deixa disso, os que adoram dizer que “a cidade é para as pessoas e não para os carros”, os românticos da UFMG e do Cefet. São eles que defendem a tese de que obras não resolvem o problema da mobilidade e que todo mundo precisa deixar o carro em casa e utilizar o transporte público, (ONIBUS), as bikes ou os próprios pés, pois é assim que funciona lá na Europa, nas cidades onde eles fizeram pós-graduação, mestrado e até doutorado.
Ainda que o clima, a topografia e as culturas sejam diferentes, para essa turma, o referencial de cidades a serem seguidas são as medievais europeias onde a verticalização é proibida e o patrimônio histórico, no nosso caso de 100 anos, precisa ser preservado, a qualquer preço. E isso explica inclusive o Plano Diretor de BH e o Código de Posturas, que proíbe o aproveitamento dos potenciais construtivos, exigindo dos próprios arquitetos, contorcionismo para elaboração de projetos, os chamados bolinhos de noiva, disformes, via de regra, mediocres.
Tudo isso nasceu na 4ª Conferencia de Política Urbana no governo Márcio Lacerda, foi sancionado por Kalil e segue firme, transformando a capital no pior local para se empreender. Fato é que a vida volta ao normal hoje segunda-feira (28) e segue até 2028, piorando o que já está no fundo do poço, pois a cidade da propaganda de Fuad existe somente no imaginário dos marqueteiros que nadaram de braçada nos caminhões de dinheiro que foram despejados na capital para garantir a vitória do candidato do sistema.
Certa vez ouvi de um dos caciques que representam o sistema, que o dinheiro das campanhas é guardado em containers. Vendo o que ví, é fácil deduzir que um destes containers, guardados, segundo ele, debaixo da terra, foi aberto para garantir que o PSD governe a capital mineira. Evidente que a conta será paga pelo eleitor, ainda que o dinheiro tenha vindo de container enterrado, para bancar a campanha de governador, e o candidato que o sistema escolher e que todo mundo já sabe quem vai ser…
Fato é que não faltou recursos para convencer o eleitor incauto, convocado de 2 em 2 anos para legitimar a sacanagem que já vem pronta de bastidores, cabendo a ele apenas meter o dedo ou o xamegão, que não será conferido, pois é eletrônica e “moderna”, tem a “vantagem” de dar o resultado algumas horas após o pleito. Ainda que Sua Excelência o A.M, garanta a inviolabilidade e a segurança. Se ele falou, obedeça e não questione.
O que não faltou nesta eleição de 2024 foi gente que cobra caro, sobretudo jornalistas conhecidos, botando a cara e arriscando suas “reputações”, numa espécie de trabalho com resultado garantido. A “prôba” imprensa, mais uma vez se uniu ao sistema, e desta vez inclusive teve um dos seus lá, na pessoa do vice Álvaro Damião para atestar a lisura do processo, afinal, jornalista é médico, engenheiro de computação e até juiz, quando precisa.
Quem não perdeu nada e saiu vitorioso nesta eleição foi o jovem Bruno Engler (27)
Apesar de derrotado nas urnas, o jovem deputado estadual Bruno Engler – amigo do “Bozo” – volta para a sua vida de parlamentar com os dividendos de uma eleição majoritária que embora tenha sido perdedora nas urnas, foi vitoriosa em votos, suficientes para lhe garantir um mandato de deputado federal em 2026.
Aos 27 anos de idade, com um discurso bem articulado de mudanças que a cidade realmente precisa, garantiu seu futuro político no parlamento federal, ou mesmo na Assembleia Legislativa, se for o seu desejo continuar em BH. Bruno tem espaço garantido como candidato a prefeito em 2028, quando terá 31 anos e maturidade suficiente para enfrentar o desgastado governo Fuad, que se não fez antes, certamente não fará agora.
Não custa lembrar que nos últimos 32 anos, as promessas e o mundo real ficaram iguais no dia seguinte da “vitória” nas urnas. A seu favor Bruno tem os três últimos mandatos que Fuad participou, ainda que a memória do belo-horizontino seja comparada a de uma ameba. BH continuará estacionada, sem as mudanças que necessita, isso sou capaz de apostar. Fuad é Kalil, e a gestão Kalil segue por mais 4 anos no modelo slow motion, como é de se esperar do time que ocupa a PBH, com raras e honrosas exceções.
José Aparecido Ribeiro é jornalista, membro do Observatório da Mobilidade, ex-presidente do Conselho de Política Urbana da ACMinas e consultor da Comissão Técnica de Transporte da Sociedade Mineira dos Engenheiros.
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