Governo de Minas promove “press trip” com 80 jornalistas de várias partes do Brasil para anunciar o queijo Minas Artesanal como Patrimônio Imaterial da Unesco
Governo de Minas Gerais reuniu, na semana passada, 80 jornalistas especializados em turismo para celebrar uma das maiores conquistas dos últimos tempos relacionadas à cultura e o turismo. O queijo Minas Artesanal é, oficialmente, Patrimônio Imaterial da Humanidade
A conquista não é só dos mineiros, mas de todo os brasileiros, pois é o primeiro produto genuinamente nacional, de Minas Gerais, que representa as tradições passadas de geração em geração, a ser reconhecido como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco na categoria alimentação. O modo de preparar o queijo de Minas Artesanal agora é uma marca internacional protegida.
A Unesco, por meio da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural de 1972, institui títulos de Patrimônios Mundiais, Culturais, Patrimônios Naturais e Mistas. Até aqui são 23 no Brasil, sendo 15 deles culturais, 6 naturais e 1 Patrimônio Misto, distribuídos por 17 estados da Federação. Dos 23, 10 estão em Minas Gerais.
Importante destacar que na categoria imateriais, o Brasil detém 52 bens registrados, sendo o queijo Minas Artesanal o primeiro na área de alimentação com mais de 300 anos de tradição. É difícil encontrar alguém que não aprecia o tradicional queijo de Minas Gerais. Quem nunca ouviu aquela velha frase: “Se for a Minas, não esqueça de trazer na mala um queijinho” …
Desde o último dia 4 de dezembro, quando o Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial se reuniu na cidade de Assunção, no Paraguai, Minas não para de comemorar a conquista que transformou o queijo em Patrimônio da Humanidade. Ou melhor, o seu modo de preparo.
E foi pensando no significado deste reconhecimento para o turismo e para a cultura que o governo do Estado mediterrâneo, que não tem mar, mas tem comida boa e queijo, convidou 80 jornalistas de várias partes do Brasil, para mostrar in loco, as 10 regiões produtoras de queijo no Estado.
Com uma estrutura de receptivo altamente profissional, incluindo hotel 5 estrelas, os jornalistas foram recebidos no Palácio da Liberdade para uma “conversa de pé de ouvido” com o Governador Romeu Zema, que foi o portador da boa nova, confirmando que o queijo Minas Artesanal agora é reconhecido pela Unesco.
O governador, ao lado do Secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira, respondeu perguntas e em seguida, no salão principal do Palácio, ofereceu um almoço em estilo banquete para os jornalistas, do jeito mineiro de anfitrionar. Isso aconteceu na manhã e tarde da última quarta-feira (4), e a experiência deixou os convidados impressionados com o local e a fartura.
No dia seguinte, quinta-feira (5), os 80 jornalistas foram divididos em grupos e iniciou-se a maios press trip da história da Secult-MG, com visitas às microrregiões produtoras do queijo minas artesanal, por três dias. Os grupos foram conhecer in loco, com direito a degustação, o modo de preparar o queijo do Serro, da Canastra, do Alto Paranaíba, do Araxá, Campos das Vertentes, Triângulo Mineiro, Mantiqueira de Minas, Sul de Minas, Centro Oeste de Minas e Noroeste de Minas. Foi uma comilança sem fim.
O que estas regiões tem em comum, é que elas compartilham a tradição do queijo Minas Artesanal original, mas cada uma delas com características únicas relacionadas ao terroir (clima, solo, altitude e até raça das vacas) e claro, os métodos de produção transmitidos por gerações de produtores e famílias que estão no ramo há séculos.
O Blog foi escalado ao lado de mais 12 jornalistas e produtores de conteúdo, além de uma equipe de áudio, vídeo e fotografia de altíssimo nível, para conhecer as cidades de São Roque de Minas e Pinhui, ambas na Serra da Canastra onde existem, pasmem, mais de 800 produtores de queijos artesanais.
É aqui o início da advertência na chamada dessa matéria. Dos mais de 800 produtores e queijos rastreados da Serra da Canastra, apenas 10% deles estão habilitados a usar o título de Produtores do Queijo da Canastra. Sendo que 7% deles são filiados a APROCAN. A Associação que representa os produtores que passaram por um rigoroso processo de inspeção que os habilita a produzir e usar o nome do verdadeiro queijo da Canastra.
Separando o “joio do trigo” para não levar “gato por lebre”
Antes de comprar um queijo que se apresenta como sendo da Canastra, é importante saber separar o “joio do trigo”. O Blog conversou com Hugo Leite, proprietário da Fazenda Roça da Cidade, que herdou do pai, engenheiro agrônomo premiado, que segue ativo aconselhando o filho na condução dos negócios.
A Fazenda produz em média 40 peças de queijo por dia, que tem endereço certo, a maioria são enviados para a capital Paulista e interior do estado vizinho. Algumas peças chegam a BH e podem ser compradas no Mercado Central na Roça Capital e na banca do Itamar.
Mas muito cuidado, pois a maioria dos queijos que se apresentam como sendo da Canastra no Mercado Central de Belo Horizonte, infelizmente são fraude, verdadeiros canatrões, produzidos nas proximidades da capital sem o devido e rigoroso processo exigido para que seja um autêntico Queijo da Canastra. Há meios de identificar se o queijo é ou não de origem, e os leitores saberão já…
Embora seja arquiteto de formação, com passagens pela Inglaterra e Itália, Hugo Leite, proprietário da Fazenda Roça da Cidade e vice-presidente da APROCAN, deu uma aula sobre a história do queijo que veio dos Açores, mais precisamente da Ilha de São Jorge, com os primeiros portugueses há mais de 200 anos.
O jovem que queria ser arquiteto acabou desistindo da profissão e mergulhou de cabeça no negócio do pai em 2017. De lá pra cá, acumulou conhecimento e resolveu encarar a difícil tarefa de certificar a fazenda para produzir o verdadeiro queijo da Canastra. Fez mais do que isso, ao lado do pai e do presidente Igor Freitas, ajuda a manter a PROCAN, e hoje ocupa a vice-presidência.
Um queijo de fato e de direito produzido na Serra da Canastra não tem custo menor do que R$40 o Kg. Isso porque um bom queijo exige 10 litros de leite cru, que custa em média R$3 o litro, mais o frete que está na faixa de R$6 o kg. O queijo Canastra Real consome 60 litros de leite.
Portanto, a primeira coisa que deve fazer o consumidor desconfiar se não está levando “gato por lebre” é o preço. Em média, o kg do queijo verdadeiro da Canastra, certificado, é vendido acima de R$90. Depois do preço, outro sinal de que o leite feito de leite cru em quantidade que varia de 10 a 60 litros, é a cor do queijo.
Se ele é branco, não é o original da Canastra, pois o queijo da Canastra verdadeiro precisa maturar por no mínimo 14 dias, o que deixa ele amarelado, após o período de maturação. O verdadeiro Queijo da Canastra é amplamente reconhecido por suas características únicas, que o diferenciam de outros queijos artesanais.
Essas diferenças estão ligadas ao terroir, ao processo de fabricação tradicional e à regulamentação que protege sua identidade. Aqui estão os principais fatores que o distinguem, de acordo com o produtor que queria ser arquiteto, mas acabou virando produtor de queijo, Hugo Leite:
- Região de Origem
O verdadeiro Queijo da Canastra é produzido exclusivamente na região da Serra da Canastra, localizada no sudoeste de Minas Gerais. A área de produção protegida (Denominação de Origem Protegida – DOP) abrange sete municípios: São Roque de Minas, Medeiros, Vargem Bonita, Tapiraí, Bambuí, Piumhi e Delfinópolis.
- Terroir
O solo, a altitude (acima de 1.100 metros) e o clima da Serra da Canastra conferem ao queijo características específicas, como sabor e textura, que não podem ser reproduzidas fora dessa região. As pastagens naturais da região influenciam diretamente o sabor do leite utilizado.
3. Leite Cru
O Queijo da Canastra é produzido com leite cru, ou seja, leite não pasteurizado, o que preserva os micro-organismos naturais que contribuem para o sabor e aroma únicos. A qualidade do leite é fundamental e depende da alimentação das vacas e do manejo nas fazendas.
- Processo Artesanal
É produzido seguindo métodos tradicionais passados de geração em geração. A coagulação é feita com pingo, um fermento natural obtido a partir do soro do próprio queijo, o que contribui para o sabor e a consistência específicos. Após a fabricação, o queijo passa por um período de maturação que varia de 14 a mais de 30 dias, dependendo do ponto desejado.
- Sabor e Textura
O Queijo da Canastra possui sabor marcante, com nuances que variam entre levemente ácido e adocicado, dependendo do estágio de maturação. Tem uma textura firme e levemente quebradiça nos queijos mais maturados, mas pode ser macia nos mais frescos.
- Certificação
Apenas os queijos produzidos nas áreas delimitadas e seguindo os métodos tradicionais podem ostentar o selo de Denominação de Origem (DOP), garantido pela Associação dos Produtores de Queijo da Canastra (APROCAN). A certificação ajuda a combater a falsificação e garante que o queijo segue padrões específicos.
- Variedade de Estágios de Maturação
Fresco: mais macio e suave. Meia cura: mais firme, com sabor mais desenvolvido.
Curado: sabor intenso, textura quebradiça e aroma acentuado. Extra-curado: indicado para uso culinário, com sabor muito forte e aroma profundo.
O Queijo da Canastra é um patrimônio cultural brasileiro registrado pelo IPHAN e representa a rica tradição e identidade da região. Esses elementos garantem que ele continue sendo um dos queijos mais icônicos do Brasil. Agora também se tornou Patrimônio Imaterial da Unesco e vai ganhar o mundo, estimulando que mais produtores se regularizem e mais turistas se interessem pela região da Serra da Canastra, visitando as fazendas e vivendo uma experiência única.
Nos três dias de viagem o Blog visitou 3 fazendas certificadas e que produzem o melhor queijo da Canastra. São elas: Fazenda Roça da Cidade; Fazenda do Onésio e a Fazenda Faz o Bem Orgânico, a única que produz queijo artesanal orgânico reconhecido no Brasil. Na sequencia desta matéria o Blog vai falar de cada uma delas separadamente.
No roteiro, não poderia faltar uma fazenda de cafés que também é outra marca da Canastra com visita a Fazenda Cariama, uma das mais premiadas e que produz 20 mil sacas de café por ano em 500 hectares de terra cuja plantação é livre de pesticidas. O Blog também fez uma matéria exclusiva que revela as nuances desta fazenda e a história da família que é proprietária.
Cachoeiras
Visitar São Roque de Minas e não conhecer a Casca Dantas e a Cachoeira do Serradão, é o mesmo que ir a Paris e não subir na Torre Eiffel e apreciar o Rio Sena.
A Cachoeira Casca D’Anta é uma das mais icônicas e belas cachoeiras de Minas Gerais e do Brasil. Localizada no Parque Nacional da Serra da Canastra, no município de São Roque de Minas, ela é formada pelo Rio São Francisco, que despenca de uma altura impressionante de aproximadamente 186 metros em sua queda principal.
É a maior queda d’água do Rio São Francisco e a quinta maior cachoeira do Brasil em altura livre. A queda é cercada por um cenário de vegetação do Cerrado e paredões rochosos, criando um visual deslumbrante. As águas são extremamente limpas e formam um poço na base, ideal para banho (embora com cuidado devido à profundidade e correnteza).
Para acessar a Casca D’antas o acesso à base da cachoeira é mais fácil e inclui uma trilha de cerca de 1,5 km, que pode ser percorrida em aproximadamente 30 minutos. Já a parte alta existe uma trilha mais desafiadora de cerca de 3,5 km, mas a vista panorâmica do alto compensa o esforço.
O nome “Casca D’Anta” é uma referência ao anta, maior mamífero terrestre da América do Sul, que era comum na região no passado. A visita à Cachoeira Casca D’Anta é uma experiência inesquecível para os amantes da natureza, unindo aventura, contemplação e o contato direto com uma das mais importantes riquezas naturais do Brasil. O Blog não recomenda visitas sem guias.
Cachoeira do Cerradão
A Cachoeira do Cerradão está localizada também no município de São Roque de Minas, e é um destino ainda pouco explorado, mas de grande beleza natural. A Cachoeira fica em terreno particular e os proprietários cobram dos visitantes uma taxa de R$45. Da entrada até a cachoeira são 1,6 mil metros de trilhas densas que exigem atenção, muito fôlego e proteção, pois algumas partes a vegetação não protege do sol. A vegetação típica do Cerrado, com formações rochosas que emolduram as quedas d’água.
Ela possui três quedas que formam piscinas naturais de águas cristalinas, perfeitas para banho. A primeira queda fica a 1.700 M. A segunda a 1.650 M e a terceira a 1.550 M. da recepção. Leve água, alimentos leves e sacos para recolher seu lixo, já que o local não possui infraestrutura. Recomenda-se um cajado que pode ser pego emprestado na portaria, assim como uma proteção para a cabeça, boné ou chapéus que são disponibilizados também como empréstimo.
A estrutura da recepção oferece banheiros, vestiários e produtos artesanais, além de alimentos, sorvetes e sucos. Calçados Adequados: Use tênis ou botas confortáveis para explorar o terreno.
Guias Locais: Contratar guias da região pode ser uma boa ideia para aproveitar melhor a experiência e conhecer outros atrativos próximos. Aventurar-se sozinho pelo Serra da Canastra, não é recomendável. As estradas de terra sugerem carro com tração nas 4 rodas. Por isso uma consulta aos guias locais representam prudência.
A Cachoeira do Serradão é um convite para se desconectar do ritmo acelerado do dia a dia e se reconectar com a simplicidade e a beleza da Serra da Canastra. Se o seu fôlego não é dos melhores, recomenda-se reservar mais de uma hora para a caminhada em cada sentido, pois a trilha exige esforços extras em subidas íngremes no meio da mata densa. Existe uma dose alta de risco de escorregões e acidente. Portanto, pessoas com limitações devem pensar duas vezes antes de encarar a trilha, que é pesada.
O jornalista ficaram hospedados na Pousada Barcelos em São Roque de Minas e no Hotel Serravita de Piumhi. A primeira necessitando de melhorias, sobretudo na pressão da água dos chuveiros. Já o segundo é impecável, raridade no interior de Minas, pela qualidade em todos os sentidos.
O apoio de receptivo local: Anael Souza, da Tamanduá Ecoturismo. Guia Herbe Prado, trilheiros Elmo Brancato e Elossandro Coelho, Canastra Sempre Viva.
Restaurantes que o grupo almoçou em jantou nos seguintes restaurantes: Velho Chico em São Roque e em Piumhi. Restaurante Paredão da Canastra, Restaurante Zagaia e Restaurante Recanto da Serra. Todos com boas opções e preço justo.
José Aparecido Ribeiro é jornalista e editor.
www.zeaparecido.com.br – WhatsApp: 31-99953-7945