BRT MOVE de Belo Horizonte está completando cinco anos e a experiência trouxe alguns ganhos, perdas, muitas dúvidas e uma certeza, a de que o sistema não conseguiu fazer o belo-horizontino mudar hábitos, deixando o transporte individual para usar o transporte coletivo em seus deslocamentos. Infelizmente isso não ocorrerá com o modal ônibus e não precisa ser especialista e nem vidente para chegar a essa constatação, basta observar o volume de carros nas ruas da cidade crescendo a taxas de 10% ao ano.
As dúvidas são muitas, mas uma em especial coloca o gestor do trânsito em uma encruzilhada: A BHTrans deve continuar apostando no BRT MOVE? Especialistas “politicamente corretos”, que representam o discurso oficial afirmam que sim, já os quem têm autonomia e circulam por BH e outras cidades com olhares atentos, dizem que não, que os modais de transporte capazes de atender aos anseios da população de BH são o monotrilho e VLT, o ultimo funcionando nas partes planas onde a calha (largura das vias) permitir. Eu sou do partido dos últimos, acho que BRT esgotou, não pode ser a única alternativa de transporte publico da cidade.
Há quem diga que a cidade pode ter até teleférico, e todos estes modais combinados com ônibus alimentariam um sistema de transporte eficiente, confortável e capaz de provocar mudança de comportamento. Vale lembrar que os dois principais corredores de trânsito da cidade, avenidas Cristiano Machado e Antônio Carlos, possuem calha (largura) de 50M, sendo 27M ocupados pelo BRT MOVE nas duas avenidas. Fazendo uma interpretação equivocada da realidade o gestor do trânsito defende a tese de que quanto maiores os congestionamentos, maior também será a possibilidade das pessoas trocarem o carro pelo ônibus. Leitura equivocada e cara para o meio ambiente, a economia e para quem usa o transporte individual.
A tese justifica a falta de ações da BHtrans/SUDECAP na promoção de intervenções para eliminar gargalos por toda a cidade. A tendência é que o calvário diário nos principais corredores aumente com o inevitável expansão da frota de veículos face a perspectiva de crescimento da economia. Posso afirmar sem medo de errar que BRT MOVE não promoverá mudança de hábitos por ser ônibus, mas o monotrilho e o VLT podem sim tirar carros das ruas. Ambos os modais têm o mesmo conforto do metrô, sem ocupar espaço onde ele está saturado.
A prova maior de que o BRT não emplacou em BH está nos números: as projeções em 2008 eram de um volume de 32 milhões de passageiros transportados por mês. Em 2018, 10 anos depois do consorcio de empresas iniciar suas operações, o volume caiu para 30 milhões de passageiros, fazendo inclusive as passagens ficarem mais caras do que o projetado no inicio da concessão. Embora o MOVE tenha melhorado a vida de quem já andava de ônibus, não é a solução para o belo-horizontino.
O prefeito Kalil é novo no ramo de gestão de cidades, mas já percebeu isso é está mantendo conversações com grupos interessados em construir e explorar o monotrilho na capital. A cidade tem 130km de trajetos viáveis esperando decisões políticas e dinheiro. Porém, o prefeito precisa antes combinar com os “russos”, (SETRA – Sindicato das Empresas de Transportadores de Passageiros de BH) que tem a concessão do transporte até 2028.
Com efeito, qualquer arranjo para melhorar o transporte coletivo de BH precisa da participação e do aval dos atuais concessionários, legitimamente e legalmente amparados por contrato que deve ser honrado. Do contrário, só em 2028.
José Aparecido Ribeiro
Jornalista e consultor em Assuntos Urbanos
DRT 17.076-MG
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