Construtora Andrade Gutierrez livre de obras públicas, ressuscita a engenharia

POR José Aparecido Ribeiro – Jornalismo – opinião 

Em matéria publicado no Valor Econômico e no site Antagonista, Andrade Gutierrez traça futuro. O texto por si só explica a revolução que garante o sucesso da empresa.

*Andrade Gutierrez prevê triplicar faturamento para R$ 4,5 bilhões*

Depois ser atingida em cheio pela recessão econômica e os desdobramentos da Lava-Jato, a construtora Andrade Gutierrez, um dos principais grupos familiares do país, mostra os primeiros sinais de recuperação. O braço de engenharia do grupo, a Andrade Gutierrez Engenharia (AGE), principal negócio do conglomerado, prevê faturar R$ 4,5 bilhões em 2019, quase três vezes mais que o R$ 1,7 bilhão do ano passado, porém praticamente metade do faturado em 2013. Se confirmado, será o melhor resultado da companhia desde que entrou no turbilhão da Lava-Jato, em junho de 2015, com a prisão do então presidente da holding, Otávio Marques de Azevedo.

A “virada” da construtora é baseada em uma reestruturação interna que levou, por sua vez, a uma mudança no modelo de negócios. A área de engenharia passou a ter 100% dos contratos em carteira no Brasil com empresas privadas. O setor público, maior cliente do grupo no passado, hoje se restringe somente a negócios no exterior, como em Angola, por exemplo (ver a reportagem Grupo opera sem BNDES no exterior).

As mudanças na governança, com a instituição de uma diretoria de compliance, subordinada diretamente ao conselho de administração, e a criação de comitês para selecionar os melhores projetos do ponto de vista de retorno para a empresa, contribuíram para formar uma carteira robusta ainda em meio a um cenário econômico incerto no país.

A carteira atual de projetos (backlog) da empresa é de R$ 10,9 bilhões, dos quais R$ 8,3 bilhões conquistados nos últimos 30 meses. Nela estão empreendimentos de geração e transmissão de energia, refino, rodovias e mineração, entre outros. Entre os principais projetos estão um conjunto de linhas de transmissão da Equatorial Energia – o maior contrato da empresa hoje, no valor de R$ 3,1 bilhões – e duas termelétricas da Gás Natural do Açu (GNA, consórcio formado pela Siemens, BP e Prumo), no porto do Açu, no Norte do Estado do Rio de Janeiro, além de uma refinaria e uma térmica na Argentina.

Só em 2019 foram firmados R$ 1,8 bilhão em novos contratos. Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da AGE, Gustavo Coutinho, a meta é fechar este ano com R$ 7 bilhões em novos contratos. “Temos uma meta ambiciosa de contratação”, disse.

No radar da empresa, estão projetos de infraestrutura com potencial de contratação de R$ 30 bilhões. A companhia tem dedicado especial atenção aos leilões de concessões de infraestrutura do governo, entre eles os de ferrovias. Nesse caso, porém, o grupo não pretende participar diretamente disputando as concessões, mas negociar contratos de prestação de serviço para os vencedores das licitações.

O Valor também apurou que a Andrade Gutierrez chegou a discutir uma parceria com a Power China para desenvolver um projeto de infraestrutura no Brasil. A parceria, porém, não avançou. A negociação acabou gerando um rumor no mercado de que a própria construtora estaria à venda para o grupo chinês, algo que, na verdade, nunca foi cogitado, segundo fontes. Questionada sobre o assunto, a Andrade Gutierrez não comenta.

Todos os projetos de infraestrutura no mercado são estudados a fundo pelo comitê de contratação da construtora. Nele, são analisados o nível de governança e a nota de crédito dos potenciais contratantes, bem como o modelo de financiamento. “Um dos pré-requisitos é que a obra tenha capital de giro neutro ou positivo desde o começo. No passado, acabávamos financiando o cliente. Usávamos capital de giro, ficávamos com fluxo negativo no projeto para ir recebendo na frente”, explicou Coutinho.

Outra mudança em relação ao passado está na proposta apresentada. Antes da Lava-Jato, a companhia oferecia ao cliente público o menor preço para vencer a concorrência, já contando com aditivos contratuais futuros. Voltada agora para clientes privados, a construtora precisa convencê-los de que tem não só o menor preço, mas o serviço mais eficiente e de melhor qualidade.

Esse novo modelo tem se mostrado bem-sucedido. A previsão de faturamento para este ano – de R$ 4,5 bilhões – inclui uma receita líquida contábil estimada de R$ 3,299 bilhões (ante R$ 1,443 bilhão em 2018) e um faturamento direto de R$ 1,191 bilhão (contra R$ 305 milhões em 2018). Muito comum em negócios de construção, o faturamento direto se dá quando a contratada assume a responsabilidade sobre o preço e a gestão dos insumos contratados perante o cliente, sendo remunerada por isso, porém o contrato é realizado em nome da contratante e quitado diretamente por esta.

A AGE também prevê um crescimento do Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 10 milhões, em 2018, para R$ 593 milhões no fim deste ano. Com dívida líquida da ordem de R$ 1 bilhão, o nível de endividamento, que fechou em 2,9 vezes a dívida líquida/Ebitda em junho deste ano, deve recuar para 1,5 vez no fim de dezembro.

Os sinais de recuperação, porém, não escondem o preço alto que o grupo teve que pagar por ter se envolvido na Lava-Jato. Além de um impacto na imagem, a empresa sentiu no bolso os efeitos das investigações que revelaram um esquema de corrupção envolvendo grandes empreiteiras e estatais.

Desde 2016, a Andrade Gutierrez firmou acordos de leniência com o Ministério Público Federal (MPF), Advocacia Geral da União (AGU) e Controladoria-Geral da União (CGU), no valor de R$ 1,5 bilhão. Também foram firmados dez acordos com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), somando R$ 130 milhões. Até agora, a empresa já desembolsou R$ 1,1 bilhão relativo a esses acordos e a autuações feitas pela Receita Federal.

Para fazer frente aos pagamentos e evitar um colapso financeiro, o grupo levantou R$ 1,7 bilhão em venda de ativos. Entre os negócios dos quais se desfez, estão participações na elétrica mineira Cemig, na companhia de saneamento do Paraná (Sanepar) e na parceria público-privada (PPP) também de saneamento São Lourenço. A empresa também saiu do negócio de dessalinização no Peru e de duas concessões rodoviárias em Portugal.

Para os próximos anos, o diretor se diz otimista, apesar das revisões para baixo do crescimento do PIB do país em 2019 e 2020. “Toda a saída da crise passa por investimentos em infraestrutura. A velocidade dos projetos é que talvez não ocorra tão rapidamente quanto nós queremos. Mas a quantidade de projetos que temos visto tem aumentado bastante”, completou.

By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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