Turistas que passaram o réveillon na Serra do Cipó foram obrigados a tomar banho de caneca, faltou água e energia nas pousadas e restaurantes – O problema é recorrente, segundo a Associação Comercial do Cipó
A Serra do Cipó é uma verdadeira joia natural do Brasil, com potencial para se consolidar como um modelo de equilíbrio entre preservação ambiental e desenvolvimento econômico. O turismo se destaca por sua conexão com a natureza, sua rica biodiversidade e diversas oportunidades para atividades ao ar livre. A região é reconhecida por botânicos como o jardim do Brasil, pela quantidade de espécies de flores e o colorido que encanta visitantes.
O Estado de Minas Gerais acaba de ser destacado pelo maior site de reservas do mundo, o Booking.com e a rede de Hotéis Hyatt, uma das maiores do planeta, como um dos melhores destinos para a prática do “silent travel”, locais em que o turista busca contato com a natureza e contemplação sem ruídos que não sejam os da natureza. Poucos lugares no Brasil reúnem qualidades para este tipo de turismo como a Serra do Cipó.
Porém, toda essa potencialidade está sendo colocada em risco em virtude do descaso de três empresas ligadas ao governo de Minas que, contraditoriamente, tem investido pesado no turismo, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo – Secult-MG, sob o comando do competente secretário Leônidas Oliveira, que vem fazendo o dever de casa com esmero, sendo digno de aplauso. Leônidas é admirado até por adversários políticos do Governador Romeu Zema e do Partido Novo de SP, que, segundo dizem as “más línguas,” comanda a Cemig e a Copasa.
Copasa, Cemig e DER estão falhando feio na infraestrutura que permite as 140 pousadas da Serra do Cipó, que fica no município de Santana do Riacho, funcionarem recebendo os turistas que buscam as belezas do local. Não é segredo para ninguém que entende um pouco do assunto que o turismo em Minas ocorre, majoritariamente, por meio rodoviário. Carros, motocicletas, vãns e ônibus são os meios mais utilizados para transportar pessoas que buscam o Estado mediterrâneo para fazer turismo. Praticamente todas as regiões que recebem turistas em busca das múltiplas possibilidades e experiências que Minas Gerais oferece, fazem isso em veículos sobre rodas.
Recentemente o Governo anunciou investimentos na recuperação da malha rodoviária estadual, prometendo recuperar mais de 30 mil km de estradas estaduais – as MG´s, sob responsabilidade do DER. A promessa inclui também movimentos políticos em Brasília para a melhoria da malha federal que atravessa o Estado, e que é a maior do Brasil. Porém, algumas regiões necessitam de atenção urgente e uma delas é o acesso à Serra do Cipó que acontece pela MG-10.
Vários trechos desta estrada exigem reforma definitiva, já não suportam tapa buracos paliativos, não tem acostamento e é uma rodovia perigosa. A MG-10 serve a Serra do Cipó, e também ao novos condomínios que estão sendo instalados na região. Fato é que a estrada não comporta mais o volume de veículos que circula por ela, em crescimento exponencial nos últimos anos. Há dias que o trajeto entre a Serra do Cipó e BH leva mais de 4 horas, o que é feito normalmente em pouco mais de uma hora.
Blog conversou com empresários, moradores e com o presidente da Associação Comercial do Cipó que se diz cansado de esperar por soluções. Durante a festa de réveillon, dezenas de estabelecimentos ficaram sem água e as que não possuem geradores próprios, sem luz. Imagine-se hospedado às vésperas do réveillon, sem direito a um banho para a virada do ano? O Blog recebeu notícias antes do fechamento desta matéria, que faltou luz e água na noite de sexta-feira (4). Restaurantes tiveram que fechar as portas e as pousadas foram obrigadas a dispensar hóspedes que não puderam usar a descarga dos quartos.
Durante a virada do ano, no dia 31 de dezembro, a Serra do Cipó viveu o inimaginável, graças a falta de água e de energia. Centenas de hóspedes que foram passar as festas de final de ano na região, foram obrigados a tomar banho de caneco ou voltar para casa. Um fiasco que pode custar caro para a imagem de Minas e do turismo no Cipó. As pousadas que não dispõem de grandes reservatórios de água, tiveram que contratar carro pipa às pressas, ou segurar a insatisfação de clientes que passaram o réveillon na estrada retornando para BH, com direito a devolução do montante pago pelo pacote.
Julio César Gerônimo Barroso que é proprietário da Pousada Carumbé, uma das mais charmosas e procuradas da Serra do Cipo relatou que o problema é recorrente: “A sensação que temos aqui é que não há vontade política para resolver os problemas que afetam o turismo e a economia do local. Já fizemos várias reuniões com a Copasa, com a Cemig e com o DER. Eles vem, prometem, resolvem paliativamente e passado um tempo, os problemas voltam. Isso tem afetado a imagem do local que está há 80km do aeroporto e poderia estar recebendo muito mais turistas. Cada turista que sai daqui com experiências negativas, multiplicam para mais 10 que não se sentirão seguro para vir”, relata o empresário que é presidente da Associação de Comercial da Serra do Cipó.
Para o empresário Ângelo Augusto Couto, diretor voluntário da ACM – Associação Cristã de Moços, e ex-presidente da Associação Comercial de Lagoa Santa, se alguma medida não for tomada urgente, o destino e Minas Gerais sofrerão com as consequências, pois o turista tende a fazer propaganda contra: “Imagine você chegar numa pousada, abrir a torneira e não sair água, tentar acender a luz e não encontrar energia. Uma vez tudo bem, mas a realidade é que está faltando água e energia sempre. Sem contar que isso gera insegurança para os empresários que viraram reféns desta situação”, relata.
Ângelo nos conta ainda que é comum turistas chegarem nas pousadas com pneus estourados e que isso acaba transformando a viagem de descanso em pesadelo para o viajante: “Estamos praticamente do lado do aeroporto Internacional, e há menos de 100 km de uma das maiores capitais do Brasil. É inadmissível que a rodovia que leva os turistas para uma das regiões mais bonitas do país, seja tratada com remendos temporários, via de regra feitos para durar meses. Não merecemos isso”, conclui o empresário que se diz preocupado com o pouco caso e morosidade na resolução do problema, lembrando que a população local é a que mais sofre com a falta de energia e água.
A arquiteta e engenheira, Maria de Lourdes Vaz de Melo e Araújo, esteve com o marido, o também engenheiro e empresário Sinval Ladeira, durante o réveillon, e testemunharam o drama de quem passou a virada do ano na Serra do Cipó: “Vários restaurantes tiveram de ser fechados. Fomos em uma pizzaria muito boa mas que seus banheiros estavam interditados e tivemos de pedir ao restaurante de frente, onde não pudemos ficar para irmos ao banheiro, o dono foi muito atencioso, tivemos de alugar um gerador por que soubemos que lá acaba as luzes sempre ao chegar a noite. Várias pousadas dispensaram seus hóspedes por causa da falta d’água”, relata a turista. Lourdes disse ainda que as ruas ficaram escuras, e encerrou lembrando que “a sorte é que lá ainda temos um pouco de paz em relação a ladroes”.
As pessoas com quem o Blog conversou, fazem questão de ressaltar o empenho e dedicação do prefeito Fernando Ribeiro Burgarelli, de Santana do Riacho, juntamente com a Associação Comercial, na busca diálogo com a Cemig , Copasa e DER na tentativa de resolver a situação. Até aqui, recebendo desculpas e justificativas superficiais . Reconheceram que o prefeito, tem suas limitações, tendo em vista o assunto se desenrolar na esfera estadual.
O Parque Nacional da Serra do Cipó é um dos 11 parques de Minas Gerais, e um dos poucos que e ainda não foi concedido. Os empresários da região são favoráveis à sua concessão e acreditam que isso pode melhorar o turismo da região. Os atrativos são múltiplos, com destaque para as trilhas, cachoeiras, cânions e formações rochosas. Ideal para trekking, observação da fauna e flora, além de fotografia.
O acesso às cachoeiras são feitos por trilhas como a dos Escravos, Cachoeira da Farofa, Cânion das Bandeirinhas. As cachoeiras são famosas e de fácil acesso, como a Cachoeira Grande, perfeita para banho e prática de esportes aquático. A Cachoeira do Tabuleiro é a maior de Minas Gerais e a terceira maior do Brasil, com 273 metros de altura. Destaque também para a Cachoeira Véu da Noiva, cujo local é um espetáculo à parte ideal para relaxamento.
Mais opções de turismo na Serra do Cipó.
A Serra do Cipó oferece ainda experiências de aventura como rapel e escaladas. Vários paredões com formações rochosas desafiadoras para praticantes de esportes radicais. Além disso é possível praticar a canoagem e stand-up paddle, nos rios da região, especialmente no Rio Cipó. Outro esporte que tem espaço garantido é o ciclismo de montanha, em trilhas variadas para diferentes níveis de habilidade.
E não para por ai, a Serra do Cipó oferece oportunidade para observação de animais e pássaros raros. A região é um paraíso para os amantes de birdwatching, com diversas espécies endêmicas. É comum avistar espécies raras, como o tamanduá-bandeira e o lobo-guará.
E não poderia faltar a cultura e gastronomia mineira. Os restaurantes oferecem pratos típicos, como frango com quiabo, feijão tropeiro e doces artesanais, eventos culturais, festas tradicionais e eventos sazonais, como a Semana Santa e festas juninas, enriquecendo as experiências de turistas nacionais e estrangeiros que buscam a região, sobretudo nos feriados nacionais.
Infraestrutura Turística, não fica devendo para nenhum destino turístico brasileiro, pois a região abriga mais de 140 pousadas, hotéis e campings para todos os perfis de visitantes. Poucos destinos permitem um acesso tão democrático como a Serra do Cipó. O turista que quiser contratar um guia vai desfrutar de passeios personalizados, e garantir segurança, bem como receber informações precisas sobre a história e cultura local.
E o mais importante de tudo isso é que turismo e sustentabilidade caminham juntos na Serra do Cipó. A região é modelo em práticas de ecoturismo, e preservação ambiental, com o envolvimento das comunidades locais que fiscaliza e controla a densidade de turistas, respeitando e preservando a capacidade de carga ambiental. A Serra do Cipó é um destino que une beleza, aventura e tranquilidade, ideal para quem busca se reconectar com a natureza e vivenciar experiências inesquecíveis.
Mas tudo isso corre risco se Copasa, Cemig e DER não fizerem o dever de casa. Com a palavra, o Governo de Minas.
José Aparecido Ribeiro é jornalista e editor. Membro da Abrajet-MG – O Blog Conexão Minas é filiado ao Sindijori.
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