Depoimento comovente de quem venceu a Covid-19 e não esqueceu dos profissionais da saúde que lutam no front

O depoimento a seguir é de um empresário e colega também diretor da Associação Comercial e Empresarial de Minas – ACMinas, ex-presidente da Fundação ACMinas e pessoa que admiro pelo espírito cidadão, exemplo de associativismo e empatia, Wagner Sá.

Sua luta contra a Covid-19 foi de vitória, mas ele fez questão de torná-la pública por meio de texto comovente, que também é uma homenagem aos anônimos profissionais da saúde que o ajudaram na batalha contra a doença, e que seguem lutando em uma guerra sem data de encerramento.

Vale a pena tirar um tempo para ler e constatar que ninguém está livre deste vírus que mudou a história da humanidade, em especial a dos brasileiros nos dois últimos anos.

POR: Wagner Sá – Empresário em Belo Horizonte escrito em 29 de março de 2021

“Me chamo Wagner, tenho 59 anos, não tenho nenhuma comorbidade, me alimento muito bem, não fumo, bebo pouco sempre tive bons hábitos esportivos e minha sina com esse COVID começou numa quinta-feira à tarde dia 11/03/21 .

Senti um leve mal-estar, evoluindo muito rápido nos próximos 2 dias para tosses, dores no corpo, dor de cabeça, garganta pegando tudo ao mesmo tempo, do terceiro para o quarto dia percebi que não estava bem mesmo e precisa tomar providencias comecei a correr atrás de soluções com amigos médicos, já no 5º parecia estar melhorando e no 6º imaginei que já estava saindo fora, mal sabia eu o que estava por vir ainda.

No 7º dia uma baita recaída, agora com febre baixa até então, o que piorou nos 2 próximos dias, a febre aumentou a tosse, a fraqueza, no 10º dia acordei bem, sem febre sem dor de cabeça, boa oxigenação e com as expectativas renovadas de saída dessa situação, mas tinha mais por vir ainda.

No 11º dia, apesar da noite relativamente tranquila, acordei estranho, meio zonzo, como eu já estava em isolamento, liguei para minha esposa e chamei relatando o mal-estar, daí pra frente a coisa ficou bizarra e quase que sem controle. Em 5 minutos ela chegou eu me levantei e já comecei a perceber que estava apagando, tosses intermináveis falta de ar e fraqueza, fui desfalecendo a cada minuto, começou a correria aqui em casa, não deu tempo de fazer nada eu desci do jeito que tinha dormido com a ajuda, já sem forças para andar, fui carregado e cada passo era um tormento.

Enquanto um me acudia, outro saiu em busca de hospital e outro atrás de ambulância para me resgatar, não havia vagas nos hospitais não havia ambulância aqui disponível, estava fazendo outro atendimento, até que conseguiram que mandassem outra ambulância que relatava que só poderia remover com destino certo, que não daria para ficar rodando pela cidade. Nessa altura eu já era passageiro da agonia, não conseguia mais acompanhar o que estava acontecendo.

Através do cunhado do meu filho que é médico, descobrimos que tínhamos uma chance em Contagem ou 7 lagoas, decisão a ser tomada em 5 minutos, meus familiares decidiram pelo mais próximo e assim fui para Contagem, uma ironia do destino 35 anos pagando plano de saúde e o SUS me recebeu nesse momento crítico.

Me lembro apenas de flashs sirene e correria, não consegui ver ou compreender mais nada do que estava em minha volta, a ultima cena foi minha esposa dando tchau e eu entrando enfim no hospital, novamente não consegui acompanhar mais nada, sei que chegaram muitas pessoas, para mexer comigo, cuidar de mim, pressão, oxigênio, temperatura e quando voltei a um nível mínimo de consciência novamente estava numa sala chamada “Vermelha”, com mais dois pacientes ao lado, um Senhor de mais idade e um outro homem que não consegui identificar a idade, ambos completamente imóveis e com zero de reação, desliguei novamente e quando percebi um movimento estava já em uma sala grande, com um monte de camas e sozinho completamente, mais algum tempo que não sei determinar quanto alguém disse, conseguimos uma enfermaria pra você amigo, nesse instante fui instalado então no local, onde aconteceria todo o processo que passei, desculpem o texto muito longo, mas preciso relatar isso tudo para que possam entender o “processo”.

Os momentos mais incríveis, se é que podemos chamara assim, foram os que estavam por vir ainda, ou seja, o processo como um todo, e a experiência é de emocionar qualquer um, imaginem um Hospital, com muitas pessoas em estado de saúde completamente adversos cada uma delas e que precisavam da atenção e acompanhamento de tudo em quanto é forma, para uns medicamentos, para outros, oxigênio, para outros tantos bombinhas, sangue, radiografia, acompanhamento ao banheiro, uma loucura total, tudo isso acontecendo simultaneamente com profissionais e pacientes, só faltava ao fundo uma Valsa, não quero dizer com isso que tem beleza na cena, mas tem amor, tem paixão, tem compaixão e muita.

Uns alimentando com muita dificuldade, outros tendo alta e outros na luta brava de superação e Fé.

Fiquei muito impressionado com o que ví da estrutura do SUS, imagino que nem em todos os lugares deva ser assim, mas lá em Contagem é, um batalhão de soldados, do pessoal da limpeza que levava dignidade a todos que estavam alí, as enfermeiras, fisioterapeutas, nutricionistas, pessoal que coletava sangue, fazia radiografias, os médicos, uma dança de profissionais, dos mais experientes aos mais assustados novatos, todos numa só corrente do bem levando o que há de melhor do ser humano, meus respeitos, minha admiração e minha gratidão a esse povo de Deus.

Em uma das noites inclusive uma das enfermeiras que estava em um dos plantões, dado a profunda exaustão passou muito mal a noite, teve 2 desmaios, eu já em começo de recuperação consegui chamara ajuda para ela, e o mais incrível é que ela foi atendida e na mesma manhã, estava lá ela firme e forte conosco novamente, perguntei como estava, disse que tinha melhorado muito já, essa carreira não é para amadores.

Enfim, com ou sem tratamento preventivo, cada caso é um caso, cada experiência é única e a minha agradeço a Deus e a essas almas boas que me tocaram fundo no coração, os familiares, os amigos, as orações tudo, mas tudo mesmo faz parte e ajuda, saibam, não é Hospital chique, não é médico famoso, não é isso que salva, o que salva é a Fé é o amor é a compreensão do quanto uma gota de água que cada um leva para hidratar um paciente é que faz a diferença, tive muitas alucinações durante o tempo que estive lá, mas tive principalmente a mão generosa de Deus que guiou muita gente boa e usou de instrumento alí, como o próprio médico nos lembrava nos dias que estávamos lá.

Não colocarei nomes aqui porque com certeza seria injusto com quem deve ter me acudido nos momentos que eu estava OFF e nem saberia dizer o nome, mas tenho que registrar meus respeitos a TODOS sem qualquer exceção que seja”.

José Aparecido Ribeiro é jornalista em Belo Horizonte

Contato: jaribeirobh@gmail.com – WhatsApp: 31-99953-7945 – www.zeaparecido.com.br

By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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