Dia do motociclista pede ação contra a imprudência que mata e é cara para o país

A data de 27 de julho foi escolhida para comemorar o dia do motociclista. A instituição no calendário neste dia coincidiu na primeira vez, há 35 anos, com os 10 anos da morte do mecânico da Honda Marcus Bernardi, membro da Associação Brasileira de Motociclismo, um amante das duas rodas. Oficialmente passou a ser comemorada em 1984. De lá para cá muito coisa mudou no universo das motocicletas. O Brasil tem hoje mais de 30 milhões de motos e números estarrecedores que colocam a categoria na poli position dos acidentes fatais.

Dados da Seguradora Líder, que administra o DPVAT, mostram que entre janeiro e dezembro de 2018, mais de 320 mil indenizações foram pagas por mortes, invalidez permanente e reembolso de despesas de assistência médica e suplementares (DAMS). Uma epidemia que preocupa governos e a sociedade, sugerindo medidas urgentes por parte do poder público para conter as mortes envolvendo motociclistas. Voce por acaso tem a sensação de que eles estão sempre correndo, surgindo do nada e arriscando a vida numa roleta russa permanentemente? De fato a vida sobre duas rodas exige mais do que coragem, é preciso ter educação. E ela é a que menos está presente no dia a dia dos motoqueiros brasileiros, os números confirmam isso.

A julgar pelo que se vê nas ruas das cidades brasileiras a vida não tem qualquer valor, eles andam no fio da navalha e querem estar sempre na frente, ainda que para isso vivam constantemente em risco, no meio do trânsito, costurando, pilotando sem o cuidado necessário para evitar acidentes. Há uma diferenciação entre motoqueiro e motociclista, ela pode ser percebida na forma como o primeiro conduz a sua motocicleta: Sem respeito por si mesmo, pelo outro e, sobretudo pelas leis. O bom motociclista respeita as leis, a lógica do trânsito, e não faz da máquina uma arma.

Risco de acidente com óbito é 70 vezes maior em cima de uma motocicleta

Os riscos de morte em um acidente envolvendo motocicletas são 70 vezes maiores do que aqueles que envolvem carros. E isso bastaria para que o comportamento fosse mais prudente e menos inconsequente. Contudo, o que se vê não é nem de perto exemplos de boas praticas na direção de uma motocicleta, as manobras são quase sempre arriscadas entre carros e até em rodovias com tráfego de caminhões pesados, onde o campo de visão é limitado, facilitando acidentes fatais.

Tenho a sensação que não arriscam a vida só por pressões para o cumprimento de prazos de entrega no caso daqueles que usam motocicletas para o trabalho, mas, sobretudo pela busca insana da adrenalina, a droga que inebria e pode levar a morte. Uma emoção movida pela ignorância, que esconde o desejo do poder, ainda que seja um poder efêmero e de alto custo. O desrespeito às leis e ao transito no universo das motocicletas no Brasil é um caso de saúde publica e de educação, ou falta dela no sentido mais amplo da palavra.

Comportamentos beligerantes que revelam o lado escuro da cultura da vantagem. Motoqueiros estão sempre desafiando o bom senso, querem chegar primeiro e não medem esforços para ganhar alguns metros à frente. Não respeitam a fragilidade do corpo na iminência de um acidente. Falta educação, aquela do berço que não está no código de transito. O comportamento por vezes arrogante desconsidera que no trânsito somos todos iguais. O motociclista que não respeita as regras de transito tem como escudo o próprio corpo, e isso demonstra insensatez, vaidade e por que não dizer ignorância.

O quadro se agrava na medida em que governos assistem inertes os índices de acidentes aumentarem, falhando na fiscalização, na ausência de campanhas educativas capazes de mudar comprotamento. Somente em são Paulo, onde está concentrada a maior frota de motocicletas do Brasil, com seis milhões de unidades, foi registrado nos últimos seis meses um aumento de 17% no número de óbitos. No Espirito Santo este índice cresceu 42%. Mortes precoces que poderiam ser evitadas apenas com mudança de comportamento.

Dados alarmantes do DPVAT. Imprudência que mata e custa caro para o país

Do total de indenizações pagas no ano passado, 70% foram para acidentes de trânsito com vítimas que adquiriam algum tipo de invalidez permanente. Foram mais de 228 mil ocorrências nessa cobertura. Representando apenas 27% da frota nacional, as motocicletas foram responsáveis por cerca de 75% das indenizações pagas em 2018, acumulando mais de 246 mil pagamentos. A maioria das vítimas é do sexo masculino, com idades entre 18 e 34 anos. Esse público representa 47% do total, o que corresponde a cerca de 155 mil indenizações.

Nesse período, a Região Nordeste foi a responsável pela maior concentração das indenizações pagas pelo Seguro DPVAT (30%), embora sua frota seja apenas a 3ª maior do País (17% dos veículos), atrás das regiões Sudeste (49% da frota nacional) e Sul (20% da frota nacional). A maior incidência de acidentes indenizados ocorreu no período do anoitecer, entre 17h e 19h59, representando 23% das indenizações, seguido pela tarde, que representou 21% das indenizações em 2018. Dados da seguradora que administra o DPVAT.

Para os casos de vítimas com sequelas permanentes, 79% das indenizações por acidentes com motocicletas também foram para vítimas do sexo masculino, enquanto as indenizações por acidentes com os demais veículos, pagas também para os homens, representaram 65%, o que demonstra que a concentração de vítimas do sexo masculino é maior nos acidentes com motocicletas do que com os demais veículos.

Outro dado alarmante é o perfil das vitimas de acidentes com motocicletas são em sua maioria jovens em idade economicamente ativa, confirmando a tese de que são cidadãos em formação, cuja educação básica e familiar é deficitária. No período citado, as vítimas entre 18 e 34 anos concentraram 49% dos acidentes fatais e 53% dos acidentes com sequelas permanentes. Foram pagas, aproximadamente, 96 mil indenizações por invalidez permanente às vítimas nessa faixa etária, em acidentes envolvendo o uso de motocicletas.

Portanto, a data precisa servir para chamar atenção de governos e de associações de motociclistas para a gravidade do problema. Governo e sociedade precisam se unir para colocar um freio numa carnificina que aumenta na medida em que mais pessoas deixam o transporte coletivo para arriscar no trânsito das cidades brasileiras, em cima de motocicletas cada vez mais potentes, fáceis de serem compradas, e conduzidas por cidadãos cada vez menos conscientes.

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By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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