Aos poucos, as ações autoritárias vão crescendo e tentam passar por coisa normal
Foto: Reprodução Internet – Sua Alteza Real, Alexandre de Moraes
POR: Walter Medeiros – Jornalista
“Vivi, em meios de comunicação e meios políticos, fatos sociais, poéticos, revolucionários, mudanças – acompanhando cada momento e demarches, desde os idos anos 60 do Século passado. Presenciei, trabalhei, convivi nos momentos e ambientes onde surgiu, desenvolveu-se e realizou-se o apelo por liberdades democráticas e pelo estado de direito. Muita coisa foi ajustada nesse período. E as mudanças foram bem mais longe que se podia imaginar.
Houve o tempo em que, para impedir a divulgação de certas notícias, ou retaliar os adversários, era feito o empastelamento de jornais, ainda no tempo da impressão tipográfica, com o violento derramar de todas as letras de chumbo e ferro ao chão, tornando impossível divulgar as notícias já prontas, pelo menos naqueles dias. Por outro lado, a ordem autoritária dizia as notícias, as músicas e as imagens que poderiam ou não ser levadas ao público.
Vi Ulisses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho na Praça Gentil Ferreira declararem corajosamente o “Navegar é preciso, viver não é preciso”. E Tancredo Neves bradar seus gritos pelas ondas do rádio, ao lado de Teotônio Vilela, numa verdadeira cruzada democrática, que resultou nas campanhas das Diretas Já e da Constituinte. Tudo desaguando na Constituição de 1988. Naquele momento o Brasil ganhou um novo pacto, que apontava novos e alvissareiros rumos.
No correr dos anos, vi certas coisas estranhas, quando algum juiz mandava suspender a publicação de alguma matéria, numa clara decisão equivocada, por tratar-se com todos os elementos, de ato de censura e cerceamento à liberdade de expressão. Pois no caso de a publicação conter algo que caluniasse, injuriasse ou difamasse alguém, o caminho seria o processo legal, que poderia resultar na punição da conduta caluniosa, injuriosa ou difamatória.
A história mostrou situações onde, aos poucos, as ações autoritárias vão crescendo e tentam passar por coisa normal, até quando passam a apresentar, revelar, uma face violenta e torpe. Ao contrário do que defendia Voltaire, em sua frase célebre, tão decantada até os dias atuais: “Posso não concordar com nenhuma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizeres.”. Muitas outras experiências podem ser citadas e resgatadas desse período.
Tristemente, há poucos anos, o jornalismo e a comunicação passaram a vivenciar algo novo lamentável, com o surgimento de um carimbo de censura substituindo o tradicional martelo da justiça. É a impressão que se tem de muitas decisões recentes de juízes e membros de Tribunais Superiores, protagonizando fatos inacreditáveis, para quem coteja com o estado de direito, a ponto de mandar apagar imagens de uma emissora de televisão veiculadas fora do horário eleitoral.
O pior, e mais triste, é que algumas decisões estão contaminando o ambiente, a ponto de serem confirmadas por outros membros das cortes. Trata-se de um novo tipo de empastelamento, inadmissível, um desvio de função da autoridade, que prejudica cada vez mais a imagem de um Poder que até alguns anos atrás tinha prestígio bem maior na sociedade – o Poder Judiciário.”
Walter Medeiros é jornalista em Natal no RN
José Aparecido Ribeiro é jornalista
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