As desavenças entre Irmãos como reflexo das tensões Ideológicas no Brasil Pós-Proclamação da República
POR: Joabson João – Jornalista e articulista do Blog
“Esaú e Jacó, escrito por Machado de Assis em 1904, é um romance brasileiro narrado pelo conselheiro Aires que aborda as desavenças ideológicas entre dois irmãos gêmeos, Pedro e Paulo. A obra faz referência à passagem bíblica de Gênesis 25:23, que diz: “E o Senhor lhe disse: Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas, e um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor.” Assim como Esaú e Jacó na Bíblia, há uma disputa entre os irmãos ainda no ventre da mãe.
Natividade e Agostinho Santos, os pais dos gêmeos, tinham expectativas diferentes sobre o gênero de seus filhos: enquanto Natividade queria um menino, Agostinho desejava uma menina. Acabaram tendo dois garotos, Pedro e Paulo, nomes que também remetem à Bíblia, onde há registros de desavenças entre os Apóstolos Pedro e Paulo.
Ambientado em um período cinco anos após a Proclamação da República, o romance simboliza a divisão do povo brasileiro entre republicanos e monarquistas. Pedro, um médico conservador, representa a tradição monarquista, enquanto Paulo, um advogado, é defensor do republicanismo. As desavenças entre os irmãos são constantes e se tornam ainda mais acirradas quando ambos se apaixonam por uma moça chamada Flora. Flora demonstra simpatia pelos dois, mas nunca toma uma decisão concreta sobre qual deles escolher.
A mãe dos irmãos, aflita com a situação, deseja que haja união entre eles, acreditando que, por serem gêmeos, deveriam ser mais unidos, e não viver em constantes desavenças. Em momentos de tragédia, como as mortes de Flora e de Natividade, os irmãos registram duas tréguas. No leito de morte, Natividade implora para que os irmãos cessem as desavenças, e Pedro e Paulo se comprometem a obedecer à mãe. Contudo, a ideia não é de uma trégua permanente, mas de suportarem as diferenças um do outro. Essa paz é temporária, e os conflitos inevitavelmente retornam.
A narrativa de Machado de Assis utiliza essa dualidade entre Pedro e Paulo para explorar temas mais amplos, como política, identidade nacional e as complexidades das relações humanas. A simbologia bíblica de Esaú e Jacó adiciona profundidade à narrativa, mostrando que, assim como na Bíblia, os conflitos entre os irmãos são inevitáveis, mesmo quando tentam fazer as pazes. O romance é um retrato da sociedade brasileira da época, com suas divisões ideológicas e anseios por unidade, que continua a ressoar na compreensão contemporânea do país.”
José Aparecido Ribeiro é jornalista e editor
www.zeaparecido.com.br – Wpp: 31-99953-7945
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