Há pouco mais de um ano, no dia 4 de fevereiro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro declarou estado de emergência em saúde pública para prevenir a chegada do novo coronavírus chinês. Belo Horizonte se recuperava do “temporal do milênio” que atingiu a capital na noite do dia 28 de janeiro de 2020 e foi anunciado pela imprensa como uma tragédia, quando não passava de uma chuva mais forte que inundou locais já conhecidos na cidade.
No dia 29 de janeiro o prefeito Alexandre Kalil convocou entrevista coletiva (pirotécnica) no Centro Integrado de Operações de Belo Horizonte (COP) anexo à sede da BHTrans no bairro Buritis e garantiu em alto e bom som que as festividades carnavalescas na capital não seriam afetadas pelos estragos da chuva e pela chegada do vírus chinês ao Brasil.
Foto: Acervo PBH
Afinal disse o prefeito, “o carnaval não tem dinheiro público. O povo é obrigado só a sofrer? Nós temos que limpar e cuidar desta cidade agora” e parar de achar que quando cai um avião, o aeroporto precisa fechar, arrematou Kalil. O carnaval de Belo Horizonte ocorreu e foi o maior da história com mais de 5 milhões de foliões.
O prefeito garantiu e cumpriu a promessa de corrigir os estragos provocados pela chuva, só que depois de quatro meses, trabalho que poderia ter sido realizado em menos de um mês, mas que se fosse feito, teria desmistificado o mito de que BH havia sido arrasada, o que de fato não aconteceu. Por três meses e meio os vizinhos do prefeito na Praça Marília de Dirceu no bairro de Lourdes, região Centro-Sul da cidade tiveram que comer poeira, propositadamente, para justificar suspensão na cobrança de IPTU. O recapeamento de 50 metros de asfalto arrancado na chuva de 28 de janeiro levou 110 dias para ser concluído.
Na ocasião Kalil criticou o imediatismo da população contrária ao carnaval em BH depois da chuva do milênio: ”Avião cai, querem fechar aeroporto. Tem uma tempestade e já falam em cancelar o carnaval”. Ele disse ainda: “Aqui não tem ninguém irresponsável. Nós temos responsabilidade. Temos que parar com essa coisa de que estamos escondidos na montanha. Vamos trazer 5 milhões de pessoas em segurança para esta cidade no carnaval”, disse Kalil.
A afirmativa de realização do carnaval ocorreu depois que o governo federal já havia acenado para os riscos que a população corria com a chegada do vírus. Mesmo assim Kalil ignorou os alertas e realizou o maior carnaval da história sem saber que dois meses depois a cidade entraria no maior lockdown do mundo que duraria mais de 200 dias falindo a economia da cidade que já estava cambaleante.
Diferente do ano passado, com queda recorde na arrecadação e risco de contaminção pelo Covid-19, o prefeito cancelou o carnaval de 2021 e pede ao povo para ficar em casa. Esse é o resultado de uma escolha baseada em paixões futebolistas e não no que deveria ser exigido de um político decente para governar uma cidade com problemas complexos como os de BH. Encerro lembrando de um conhecido dito popular: “cada povo tem o governo que merece”.
José Aparecido Ribeiro é jornalista em BH
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