Vem cortado, embalado, no soro ou sequinho. Pra merenda não tem nada melhor no pão que abraça o queijo e, bem casadinho, acolhe Romeu e Julieta
POR: Epiphânio Camillo – Especialista em TI e vice-presidente da ACMinas
“Desejo a você / Fruto do mato / Cheiro de jardim / Esperar alguém na estação /Queijo com goiabada / Ouvir a chuva no telhado / Vinho branco / Bolero de Ravel / E muito carinho meu.” (Carlos Drummond de Andrade) Tem o fresquinho, o fresco e o curado. O canastra, a trancinha, o cavala; o Catupiry (que já foi marca, e hoje é tipo); o requeijão branco ou moreno, que é quase queijo, não sei bem. É saboreado na infância, na juventude e nas terceiras, quartas e quintas idades, pois nestes tempos de mais saúde as possibilidades se
ampliam.
“Vem cortado, embalado, no soro ou sequinho. Pra merenda não tem nada melhor no pão que abraça o queijo e, bem casadinho, acolhe Romeu e Julieta, pra homenagear os clássicos. É bom também com mandioca – receita de Morro do Ferro –, ou misturado em pedacinhos no ovo frito da manhã. Hummm, derretido com café bem quente, de manhãzinha antes de sair para tirar leite no pasto, ou na cidade ir pro trabalho, merece até exclamar “um pitéu!”, expressão espontânea da querida Bahia de Todos Nós, os santos ou nem tanto.
Domingo de festa é dia da receita de macarronada bem rosadinha com massa de tomate caseira. Queijo por baixo, pra “cimentar” a fôrma; queijo entremeado por dentro, e salteado em cima. Leva-se ao forno quente por alguns minutinhos. Um tiquinho só pra não derreter muito. Mas que delícia! Olha só o cheiro anunciando (denunciando?) o que vem por aí!
De noite queijo na chapa, torradinho, casca grossa bem crocante. E como tira gosto, então? Alavanca a venda de cervejas, diria o analista econômico; estica o papo, vai forrando e protegendo o estômago junto com as geladinhas, digo eu. E depois vêm as derivações dos agregados: pão de queijo, biscoitos vários, doces inúmeros. Todos feitos com esse tal Queijo De Minas.
Há a saudação, em rima que se enriquece, ao associar as delícias dos sabores para temperar a brejeirice no cumprimento pretensamente descuidado, de “um abraço, um beijo e um pedaço de queijo”, a buscar com tímida ladineza sinais de interesse para início de namoricos. E, na temporária improbabilidade, tem-se à mão a peralta alternativa da lavra de Olavo Romano, cuja alegria tudo transcende: “Queijo-me às rosas, mas que bobagem!…”
Por que o “adorno” De Minas para esse queijo, à guisa de galanteio? Há tantos queijos por esse Brasil afora, tão bons quanto o nosso. Queijos dos pampas, de leite gordo; o paulista, bem pasteurizado; o que vem do Rio, defumado; o goiano, redondinho. Mesmo naquelas paragens o argumento de venda é o apodo “tipo De Minas”. Ainda que não seja o verdadeiro, é mentirinha respeitosa, homenagem bem-vinda a atribuir qualidade adicional e definitiva ao produto: “De Minas”.
É boa essa história de Patrimônio Imaterial que se pretende conquistar, consagrando essa riqueza semiescondida entre as montanhas mineiras. Só não gostei desse Imaterial. Ficaria melhor Patrimônio Espiritual. É a identificação mais apropriada ao Queijo, De Minas e de todos que gravaram no paladar o sabor do nosso jeitinho de celebrar e praticar amizades.”
José Aparecido Ribeiro é jornalista e editor
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