Por: Nacib Hetti
Diretor da ACMINAS
“Uma experiência curiosa em Londres transformou moradores de rua em guias turísticos. Conhecedores de locais diferentes, eles se transformaram em opção para um turismo a pé, com roteiros não cobertos pelas agências, em que contam um pouco da sua vida e mostram locais onde vivem. São dois roteiros: um, iniciando na London Bridge, e outro, na Old Street. Entre os locais inusitados, o cemitério onde está enterrado o poeta William Blake. O programa denominou o grupo como “Sock Mob” quando se descobriu que a maior necessidade dos moradores de rua era de meias.
A realidade de Belo Horizonte não tem o mesmo charme londrino, sendo um desafio para as nossas instituições. Andarilho, psicopata, miserável, sem-teto, viciado, fugitivo, desajustado, excêntrico, revoltado, mendigo, desempregado, discriminado, catador, flanelinha ou fisicamente incapacitado. Ele pode ter qualquer uma dessas características, ou algumas delas, ou nenhuma. A dificuldade de se definir e conceituar o morador de rua é proporcional à dificuldade de se estabelecer uma política para acabar de vez com o problema.
A diversidade de causas torna complexa uma solução baseada em um único mecanismo. Ninguém mora na rua por opção de vida. O indivíduo nessas condições adversas certamente foi vítima de alguma fatalidade ou perda e não tem vontade própria. O maior bem físico desejado por um ser humano é um lar com conforto e com o calor da família.
Tudo nos remete à recente lei de iniciativa da PBH – Programa Estamos Juntos -, criando mecanismos para inclusão dos moradores de rua, hoje estimados em cerca de 5.000 na Grande BH. O programa conta com a indispensável colaboração da iniciativa privada, criando vagas para a habilidade de cada um. Um programa realista para o drama deve partir de um pressuposto básico: sempre haverá moradores de rua, seja em Londres, Paris, Amsterdam, Rio de Janeiro, Ipatinga, Blumenau ou Nova York, independentemente da realidade econômica local. Observa-se que o problema tem sido minimizado nas cidades onde houve uma efetiva intervenção da sociedade civil.
Comparado com outros centros, o problema de Belo Horizonte não chega a ser alarmante, seja pela existência de alguns programas assistenciais, seja pelo comportamento pacífico desse morador. O sentimento geral é que faltava uma coordenação para centralizar os programas e movimentos já existentes, como os da Polícia Militar, do Albergue Noturno Municipal e da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese, além de outros. Ponto importante já caracterizado é a necessidade de descriminalizar o comportamento do morador de rua, orientando a atividade da polícia como um importante corpo auxiliar.
Aqui, em Belo Horizonte, estamos revitalizando as praças, criando novas salas e museus e promovendo concertos musicais ao ar livre. Tudo muito bonito. Nas praças recuperadas existe, também, um ser humano degradado que precisa e merece ser recuperado. Assim nossa cidade vai ficar certamente bem mais bonita”.
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