Para a direção do Sindicato dos Jornalistas, o samba só possui uma nota, e quem não tocá-la, tá fora
Esta semana recebi convite que me deixou preocupado como jornalista sindicalizado e em dia com as minhas obrigações. O Sindicato de Jornalista de Belo Horizonte, Leia-se Casa do Jornalista, soltou um comunicado de apoio ao prefeito candidato a reeleição no pleito de 2024, Fuad Noman, com os seguintes dizeres: “Apoio a Fuad 55 – Jornalistas, Publicitários, Profissionais da Comunicação, Professores, Cientistas e Escritores com Fuad Noman 55”.
O anúncio continua: “Teremos um encontro com Fuad. Vamos Precisar de você para lutar por uma BH democrática, progressista e popular. 24/10 – Quinta 12H – Casa do Jornalista – Av, Alvares Cabral, 400”. Acompanha o banner, que circula pela internet em redes sociais, uma declaração com o seguinte conteúdo: “Temos poucos dias para assegurar uma vitória decisiva contra a extrema direita. Agende-se, compareça e ajude na divulgação”.
Trata-se pois da declaração de um sindicato que representa uma categoria profissional que deveria manter-se, pelo menos publicamente, neutra em suas escolhas políticas. Do jornalista profissional espera-se distanciamento, equilíbrio e uma série de atributos que são necessários para o exercício ético e competente da profissão, cuja responsabilidade é informar para que o público possa tomar decisões, sem a interferência pessoal do jornalista.
Não é vedado ao jornalista, em caderno próprio, categorizado como opinião, manifestar o que pensa e nem tampouco lhe é proibido engajar-se na causa político partidária, desde que licenciado do exercício da profissão. A imparcialidade e a objetividade garantem ao jornalista credibilidade para reportar os fatos de maneira precisa e justa, evitando distorções e deixando de lado preferências pessoais ou vieses políticos.
Ao manifestar apoio a um candidato no lugar de promover o debate entre os dois que foram eleitos pelo povo, o sindicato aliena a sua credibilidade e se afasta da deontologia do jornalismo. Onde vai ficar o rigor na apuração dos fatos que envolvem a prefeitura de Belo Horizonte, na eventualidade de uma vitória do candidato que o sindicato apoia? Não será este apoio confissão de interesses pouco republicanos?
O bom jornalista deve buscar fontes confiáveis, checar as informações e prestar serviços confiáveis para a sociedade. Será que ao declarar apoio a um dos candidatos, sua informações serão fidedignas? A população poderá confiar neste jornalista e no sindicato que o representa? E A declaração de voto e apoio ao candidato Fuad Noman, coloca definitivamente em cheque a ética e a integridade dos jornalistas de Belo Horizonte que apoiam a decisão desta diretoria.
No 1º turno, realizado em 6 de outubro, Bruno Engler conquistou 435.853 votos, 34,38% dos votos válidos (dados a todos os candidatos). Fuad Noman obteve 336.442 votos, 26,54%. Esses dados foram divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O voto dos belo-horizontinos que optaram pelo candidato Bruno Engler não tem valor para o jornalismo belo-horizontino?
É um desrespeito ao direito dessas pessoas pensarem diferente, uma afronta à dignidade e uma forma de declarar guerra a quem não é de esquerda. Ou seja, contrário ao que diz defender os diretores atuais do sindicato, que estufam o peito para falar de democracia. O que é isso, se não um ato antidemocrático? Ou pensa como os líderes do sindicato, ou não terá o respeito da categoria? Como assim? Em que mundo estamos?
Ademais, o sindicato não está sendo justo com a parcela de jornalistas que gostariam de ver o debate de ideias entre os dois candidatos, sejam eles de qual partido forem. Jamais podemos esquecer que ambos passaram pelo crivo das urnas, pelo sufrágio e cabe ao jornalista que se preza, respeitar o desejo da população, mantendo-se equidistante de opiniões pessoais, muito menos coletiva de uma categoria, que embora seja predominantemente esquerdista, possui jornalistas que não coadunam com a ideologia das lideranças do sindicato.
O sindicato perdeu de vista sua responsabilidade social. Deveria ter a consciência do impacto que esta declaração causa na sociedade e na credibilidade de toda a categoria. Seu papel não é de militância partidária, mas de promoção do debate construtivo, buscando o bem comum e a união da categoria, bem como a defesa da verdade, ainda que ela não agrade as lideranças que são temporárias, e não são donas do sindicato.
Por fim, o sindicato coloca em risco a independência da categoria. Cabe ao jornalista agir de forma independente, não se deixando influenciar por pressões políticas, econômicas ou de qualquer outro tipo, mantendo a autonomia editorial. São esses princípios que garantem a confiança do público no trabalho jornalístico e asseguram que o jornalismo cumpra o seu papel de informar, e FOMENTAR DEBATES saudáveis na sociedade.
Como jornalista sindicalizado, manifesto meu repúdio ao ato do sindicato de tomar partido a favor de um dos candidatos a prefeito de BH e negar o debate democrático entre os dois no segundo turno das eleições de 2024. Conclamo os jornalistas que defendem a tese do distanciamento para a manutenção da autonomia, que se manifestem publicamente. De forma civilizada, no lugar de declaração de voto, o sindicato deve receber os dois candidatos para exposição de suas ideias e planos de governo. Aí sim, o sindicato estaria cumprindo o papel que se espera dele.
José Aparecido Ribeiro é jornalista profissional sindicalizado.
DTR-17.076/12 – MG
O senhor não sabe nem pra que serve um sindicato, né?
Concordo plenamente, com a opinião do José Aparecido. Posição no meu entendimento, incorreta do sindicato.
Então, já que é um defensor do jornalismo isentão, da pureza do contraditório, você ouviu o que o Sindicato tem a dizer?
Parabéns pela sua conduta honesta. Traduzindo, o sindicato está tomado por desonestos. Sabotadores da verdade.