O visitante disse chamar-se Zacarias, de profissão pirotécnico, vulgo “fogueteiro”
POR: Epiphânio Camillo – Especialista em Tecnologia da Informação, vice-presidente da ACMinas e articulista no Blog
”Diante da meteórica profusão (invasão?) de “especialistas” em tudo ou quase tudo e a todo momento, vem à baila — ou à balha como gostava de dizer o cronista carioca/juiz-forano Eduardo Almeida Reis — a gostosa história O Pirotécnico, de lavra do prezado Confrade e contador de “causos” Olavo Romano, de Morro do Ferro, que ouso tentar reduzir a termo.
Ainda: em alusão ao também escritor mineiro Murilo Rubião, autor do conto O Pirotécnico Zacarias, aproprio o simbólico nome do protagonista, não a história kafkiana do morto-vivo que transita e “convive” com estranhos personagens.
Forasteiro chegara a pequena cidade, contratado para executar determinado serviço para o qual fora encarregado por Sebastião Pereira, um dos chefes políticos da região, visando dar maior brilho a festa de arromba a ser comemorada na Praça da Matriz com as mais modernas pompas e circunstâncias, sem fazer conta dos gastos para homenagear o louvado Santo Padroeiro daquelas paragens.
Ao identificar-se na casa de Dona Biluca, viúva de Ponciano França, fazendeiro poderoso, onde ficaria hospedado, disse chamar-se Zacarias, de profissão pirotécnico. Ninguém sabia o significado dessa estranha palavra nem ousaram perguntar para não expor ignorâncias àquele moço que, pelo jeito distinto e palavreado cheio de salamaleques, vírgulas e reticências, parecia ser muito culto.
Foi tratado com todas as gentilezas, regalias e rega-bofes apropriadas para a ocasião: convidado para um chá esperto com bolinhos de arroz e outros acepipes reservados para visitas ilustres, enquanto aguardava almoço para o qual havia sido convidado com alguma solenidade. Até retrato fizeram para gravar a histórica visita de profissional tão especializado na ciência da tal piro… piroténica… pirotécnica.
Molhada a palavra, enquanto Dona Biluca preparava receita especial na cozinha, aos fundos e do lado de fora da casa, Emengarda, a filha que fazia sala ao visitante, curiosa, dispensando constrangimentos, não mais conseguiu guardar-se e indagou corajosa: — Mas no que mesmo o senhor é especialista? — Preparo e acendo foguetes e rojões para festas.
Surpreendida, calada por instantes enquanto absorvia a inesperada informação, Emengarda desfez-se do espanto e bradou com eloquência para a Mãe:— Mainha! Pode tirar o frango da panela! O homem é fogueteiro!
Especialistas? Não seria mais adequada a alcunha de palpiteiros?”
J.Aparecido é jornalista e editor
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Delícia de crônica! Opinião de uma palpiteira, que adora literatura.