Anel Rodoviário – Vitimas e Algozes na mesma vala.

Passava das 9H, desta terça feira dia 5/4, quando ouvi em uma rádio da capital que o Anel Rodoviário estava parado desde as 8H por causa de mais um acidente provocado pela “imprudência de motoristas irresponsáveis que não tem amor pela vida”.
A maneira veemente que o locutor usou para dar a notícia me deixou surpreso. Cheguei a pensar que ele estivesse presente no local e poderia ser testemunha de mais uma tragédia no Anel da Morte.

Preso no trânsito, o que não é novidade e na leitura deste mesmo radialista, culpa do “excesso” de veiculos, e não da incompetência de quem nos governa para prover infra estrutura capaz de receber os carros produzidos e consumidos aqui mesmo, segui ouvindo os desdobramentos da notícia. Na medida que os fatos iam sendo esclarecidos, e com a participação de ouvintes, o discurso, discretamente começou a mudar.

De repente a ficha do radialista que há alguns minutos acusava as vítimas de serem os “irresponsáveis” ainda presos nas ferragens, mas com vida, começou a mudar de categoria. De algozes para vitimas em menos de meia hora. Menos importante do que a causa deste em específico, é a análise do fenômeno.

Me deu vontade de participar ao vivo e perguntar ao jornalista portador da “verdade” e da noticia o que faz ele pensar que todo acidente tem um culpado e nunca é a falta de estrutura da via. Será o mesmo discurso oficial que tenta nos imputar a culpa de todas as mazelas o fato de termos nascido no Brasil? Ou a tese da PRF e dos órgãos de defesa de que todo acidente tem uma falha humana?

Este episódio revela entre outras coisas o tamanho dos políticos que nos representam. Ou seja, eles não existem se considerarmos o tempo que esperamos providências para este imbróglio, a sua gravidade e emergência. É sempre a mesma ladainha em véspera de eleição. Todo mundo pega uma boquinha, mas ninguém abraça a prostituta e leva ela para casa. O Anel Rodoviário é o filho feio sem pai. Filho da prostituta. Até que ele vire doutor ou político.

Revela também a falta de profundidade que a imprensa belo-horizontina, com raras e honrosas exceções vem tratando há algumas décadas o tema. Milhares de pessoas perderam a vida ali, e não se mexe uma virgula para dar nomes aos bois. Ouço sempre a mesma coisa: a culpa é do poder público federal e do motorista imprudente. O imprudente, eventualmente nós já conhecemos, como hoje. Sempre existirão. Cabe ao poder público nos proteger deles, usando para isso todos os recursos, inclusive os de engenharia.

Mas quem é o poder público federal, esse ente abstrato? Ele é composto por ET’s? Existe alguém com nome e endereço esperando pelo MP e pela justiça, agentes públicos omissos, imprudentes, negligentes ou cometedores de prevaricação. Contudo, o que vi até hoje por parte do MP foi acusar vitimas, com o apoio de parte da imprensa, indevidamente. Algumas inclusive sendo presas e levadas a tribunais para alimentar vaidades de promotores, delegados e policiais.

Nao se tem notícias no entanto de alguem preso por incompetência ou falta de compromisso com a coisa Publica. Até quando vitimas e algozes serão tratados como semelhantes no Anel da Vergonha?

José Aparecido Ribeiro
Consultor em Assuntos Urbanos
Fundador da ONG SOS Rodovias Federais
Autor do Blog SOS mobilidade Urbana
31-99953-7945

By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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