O Atlas da Violência que trata o tema e é divulgado anualmente pelo IPEA, esqueceu do principal: as favelas, é nelas que tudo acontece.
Em entrevista publicada no Jornal “O Globo” em fevereiro de 1992, o traficante “Marcola”, comandante do PCC, iniciando sua carreira, chamou atenção para o fato de que em um cenário com 660 favelas não seria possivel fazer segurança pública na “cidade maravilhosa”. São Paulo tinha pouco mais de 800 favelas na mesma ocasião.
De lá pra cá, pasmem o que mudou foi o número de favelas que saltou de 660, para 1.200 no Rio, e de 800 para 1.600 em São Paulo. Na mesma proporção dobrou também o numero de homicídios em todo o pais nos 25 anos que se passaram das profecias do traficante “Marcola”, que estão todas se concretizando.
A principal delas foi um aumento na mesma proporção das favelas os crimes contra a vida que saíram de 35 para 60 mil homicídios no país. Altamira no Pará é a cidade mais violenta com 107 homicídios para cada 100 mil habitantes. Dispensa dizer que o cenário de Altamira é de total desordem. A cidade é literalmente uma favela. Embora as motivações de homicídios em Altamira não sejam as mesmas do restante do país, face a questão agrária e à obra de Belo Monte.
Usando a lógica como método de avaliação, é possível deduzir que na medida que crescem as favelas no Brasil, cresce também a violência. Outro dado estarrecedor e que chama atenção é o alvo dos homicídios, quase sempre envolvendo pretos, pobres e prostitutas. Crimes que ocorrem nas chamadas ZQC’s (zonas quentes de criminalidade), todas, sem exceção, ladeadas por favelas onde o tráfico domina .
Evidente que nas comunidades pobres o número de pessoas de bem é muito maior do que o de traficantes e marginais, que são minorias. Porem, pode-se afirmar que é no cenário da desorganização onde falta infra estrutur e endereço digno que o crime próspera com maior facilidade.
Não seria necessário ir até os EUA ou Singapura para mostrar experiências bem sucedidas envolvendo reabilitacao de espaços degradados com a redução dos índices de criminalidade. Em qualquer lugar do mundo onde há desorganização e ausência do Estado, a marginalidade domina. Bogotá e Medelin compreenderam isso e hoje são exemplos para o mundo de que organização pode acabar com a violência.
Onde tem cortiços, barracos, becos, esgoto a céu aberto, vielas, e ruas estreitas, lá está o tráfico se movimentando, quase sempre, livremente. Com efeito, essa deveria ser a prioridade número um de governantes comprometidos com a segurança e com a cidadania.
A questão habitacional portanto está intimamente ligada ao problema da segurança ou a falta dela. Indivíduos que possuem dignidade e endereço decente não são presas para o tráfico e portanto não são recrutados facilmente.
Se quer acabar com a violência, governo e a sociedade precisam antes acabar com favelas oferecendo cidadania e endereço digno para milhões de pessoas que vivem nas mais de 20 mil comunidades existentes espalhadas pelo território nacional. Só assim o Brasil deixará de figurar na lista de países mais violentos do mundo.
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Assuntos Urbanos
Ex-presidente do CONSEP de BH
Licenciado em Filosofia
Autor do Blog SOS MOBILIDADE URBANA do portal uai.com.br
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