BH não tem mar e corre o risco de ficar sem bar…

A Revista de bordo da segunda maior Cia Aérea do Brasil (GOL Linhas Aéreas), dedicou 5 páginas de sua edição de outubro ao badalado Bairro de Lourdes em BH. O tema está na capa desta e de dezenas de outras publicações sobre entretenimento e gastronomia. O responsável pela matéria não poupa elogios aos bares e as suas mesinhas nos passeios, se referindo a isso como marca de BH e salientando que este é um dos maiores atrativos da Capital Mineira. "Se BH não tem mar, o que não falta é bar"… Na semana passada recebi uma amiga de Brasília que veio participar de um congresso médico. Foi a primeira vez que ela esteve na cidade e sua expectativa era de um tour pela noite para conhecer a capital que "segundo dizem", tem uma das melhores noites do Brasil, título gentilmente endossado pelo New Yok Times em edição que fala de um dos nossos maiores patrimônios: A cultura do bar e suas mesinhas nas calçadas (passeios). Sua expectativa era grande e o resultado, ao contrário do que esperávamos foi uma decepção. A noite era de uma quarta feira. Após o evento médico pegamos ela no hotel na Av. Álvares Cabral, no próprio bairro de Lourdes, e por volta de 23:30hs, depois de uma propaganda feita por mim e por minha esposa, saímos para apresentar a tão "famosa night de BH", para em seguida jantar em algum dos tradicionais restaurantes do bairro mais charmoso da cidade. O que encontramos deixou a todos frustrados e nós, que conhecemos BH e nascemos aqui, decepcionados. Senti vergonha e minha mulher não sabia o que dizer. Às 23:30hs de uma quarta feira não havia sequer um local para tomar um drink, quiçá, jantar. Todos os restaurantes e bares de Lourdes ou estavam fechados, ou empilhando as suas mesas. Fomos em direção a Savassi, depois pelo Sion, até o Belvedere, passando pelas 6 Pistas e nada, nenhum restaurante ou bar que prestasse, estava aberto. Intrigado com o que me pareceu inexplicável, já que BH é a capital dos bares, retornei ao TRADICIONAL bairro de Lourdes e com as portas cerradas, consegui perguntar aos gerentes de dois dos principais “botecos” do local o que estava acontecendo e eles me disseram que a Prefeitura estava recolhendo as mesas de quem ficasse aberto após meia noite. Pasmem, mas a mesma Prefeitura que libera Alvarás de funcionamento, recolhe mesas e proíbe a atividade no horário que ela é recomendável em qualquer lugar do mundo… Isso é fruto da Nova Lei do silêncio que, diga-se de passagem, é justa, mas deve ser adaptada à realidade da cidade. Alguns detalhes importantes sobre o tema chamam a atenção: O primeiro é que se a Prefeitura liberou alvarás para exploração da atividade de gastronomia e entretenimento em um bairro residencial, errou. Como não pode voltar atrás, ao invés de penalizar os proprietários e usuários, precisar encontrar meios de equacionar o problema. Segundo, e não menos importante, é o fato de que a cidade é dinâmica, muda e o que antes era um local tranqüilo, se não pelo bares, é penalizado hoje pelo transito de uma cidade que cresce para todas as direções. Quem não consegue se adaptar, com certeza vai sofrer. Há os que defendem uma cidade estática, sem barulho, sem mudanças, o que seria maravilhoso, mas impossível, uma utopia. Lourdes não é mais o mesmo bairro de 20 anos atrás, onde reinava o silêncio e a tranqüilidade. O bairro hoje é "point" de entretenimento, moda, gastronomia e quem não consegue conviver com isso, precisa pensar em outras alternativas de sossego, como os Condomínios que crescem na mesma proporção da cidade, ou mesmo em outros bairros que não foi liberada a atividade comercial como em Lourdes. Há os que aprovam e existe os que não aprovam. Claro que ninguém é a favor de barulho e há meios de se chegar a um bom termo de convivência que permita a existência do que BH tem como produto turístico sem que a vizinhança tenha que pagar pelo erro anterior cometido pelo Legislativo e pelo Executivo Municipal. Com efeito, o que não pode é BH continuar divulgando a noite e a gastronomia de boteco como produto turístico e os bares fecharem suas portas as 23:30hs. Uma coisa não combina com a outra. O bom senso precisa prevalecer e a busca de entendimento acontecer. Para uma cidade que não tem Mar, o Bar torna-se um meio de lazer e algo recomendável. Nunca vi uma campanha publica convidando os freqüentadores dos bares e restaurantes de Lourdes a tomarem consciência dos danos que a conversa alta causa aos vizinhos dos locais de entretenimento. Quem sabe esse não um dos caminhos para uma boa convivência? A consciência de que é possível divertir sem fazer barulho. Todos são responsáveis, inclusive os freqüentadores de bares, por um entendimento com quem mora e é incomodado.

 

José Aparecido Ribeiro

Consultor em Assuntos Urbanos

ONG SOS Mobilidade Urbana

31 9953 7945

CRA MG 0094 94

 

By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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