Quem esteve na manifestação de sábado em BH presenciou cenas de guerra que não foram reveladas pela imprensa, ainda. A PM tratou todos os manifestantes, incluindo crianças, idosos e pessoas de bem, com a mesma régua que se trata bandidos e "baderneiros". Não será com voos rasantes de helicópteros despejando bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, na cabeça de inocentes, que manifestações como essas deixaram de ocorrer. Ninguém é a favor de quebradeira contra o patrimônio publico ou privado, mas colocar todos no mesmo balaio, indiscriminadamente, inclusive quem estavava dentro de casa e sentiu os efeitos da batalha campal nos olhos e nos ouvidos, não se justifica em nenhuma hipótese. Afinal, estamos em uma Democracia e não em um regime militar. Onde está a inteligência das nossas forças de segurança?
Se o Estado não consegue tirar de cena, meia dúzia de exaltados, não pode jamais tratar os que estão protestando pacificamente por um pais melhor, com a mesma terapêutica que se trata arruaceiros. Presenciei estarrecido os abusos da PM da cobertura de um prédio que fica na Rua Boaventura no 11º andar, e de lá pude perceber o despreparo do comando da operação. Com vista privilegiada da rampa de acesso ao Mineirão, pude perceber que as ações para evitar a aproximação dos manifestantes àquele Estádio fugiram ao principio da razoabilidade e da proporcionalidade. Não estamos colocando em debate aqui as causas e nem tampouco as motivações, que precisam ser compreendidas, para que as operações de repressão possam ser na medida certa, contra as pessoas certas e não o que se viu.
Os vândalos, ou “revolucionários” – como eles próprios se intitulam – não estão depredando o patrimônio publico ou privado por mero acaso. Eles estão querendo atingir os políticos que lhes roubam o direito de uma vida decente e que saqueiam o erário, sem que ninguém os impeçam. Portanto, até eles precisam de tratamento diferenciado e não a logística que se emprega em uma guerra. Eles precisam ser identificados e ouvidos. Com efeito, colocar gente inocente na mesma mira deles é uma prova inequívoca de despreparo e uso irracional da força bruta, há muito banida de democracias maduras. Até por que, hoje são milhares, mas em breve poderão ser milhões, incluindo inclusive as próprias forças de segurança, e neste caso, a PM e nem todo o aparato de segurança disponível darão conta de segurar a fúria de milhões.
Portanto Comandantes e governantes mudem radicalmente a forma de atuação. Eu estive lá e vi tudo. Muitos que omitem o que de fato aconteceu, escrevem a respeito ou tiram conclusões pela lente alheia, não sabem medir os riscos que foram os voos rasantes há alguns metros da cabeça de pessoas inocentes, despejando gás lacrimogêneo e cacetes em lombos inocentes, desnecessariamente.
Jose Aparecido Ribeiro
Filósofo e Consultor em Assuntos Urbanos
Ex-Presidente do CONSEP 4
Presidente do Conselho Empresarial de Política Urbana da ACMinas
CRA MG 0094 94
31 9953 7945