Não entendo muito de leis, mas a filosofia e os cabelos brancos me ensinaram a usar a lógica e duvidar das aparências. O direito brasileiro e seus operadores, embora legitimamente estão subestimando a inteligência alheia, contribuindo para a impunidade e de quebra tornando a política uma atividade cada vez mais promíscua. E isso causa nojo em qualquer cidadão minimamente esclarecido. Explico:
Sobre os últimos episódios das “colaborações premiadas” de executivos da empreiteira Norberto Odebrechet, que não eram novidade para a imprensa e para os mais atentos, mas que agora estão se materializando, alguns detalhes chamam atenção e devem convidar os formadores de opinião para um exercício de lógica dedutiva.
Praticamente todos os acusados “não sabiam” de nada; não viram nada e são vítimas de calunias e conspiração oposicionista para encrimina-los. Mas quem é oposição ou situação se estão todos de mãos dadas e no mesmo barco, encalacrados até o pescoço? Por que esses executivos inventariam tais “”mentiras”?
Fica claro e choca o fato de que o direito está sendo usado por advogados habilidosos para tentar confundir a opinião pública e livrar seus clientes do xilindró. Isso feito por meio de falácias escandalosas e não menos graves do que os delitos praticados. A mentira e a farsa servem a todos de forma despudorada e até arrogante.
Essa é uma das faces negativas do direito e da democracia, que nasceram juntas no Sec. VI a.C pelas mesmas mãos: Solon, Clistenes e Drácon. É através de manobras inescrupulosas, que não causam sentimento de culpa, que advogados usam as brechas das leis para livrar gente comprovadamente desonesta de punições que poderiam ser exemplo e desestimulo a mal feitos. Tudo legal, mas de uma imoralidade que dói na alma.
Com efeito, é sabido que o instituto da “delação premiada” permite a redução de pena, desde que o réu não minta. Portanto, é pouco provável que algum delator vá querer perder este benefício. Aliás, que motivos teriam executivos de uma empreiteira para acusar políticos de partido a ou b, situação e oposição, se nenhum deles a princípio tem pretensões eleitorais?
É espantoso o cinismo usado para negar mal feitos por meio de discurso ensaiados e repetidos por todos os criminosos, orientados por advogados que revelam falta de compromisso com o país, e não se envergonham. Não seria hora da OAB convida-los para um exercício de cidadania, reflexão sobre ética e moral ?
José Aparecido Ribeiro
Licenciado em Filosofia
Autor do Blog SOS mobilidade Urbana
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