Entre perdas e ganhos, a PBH venceu e BH possivelmente terá perdas irreparáveis depois da IV Conferencia Municipal de Políticas Urbanas. Nos debates marcados por desorganização, pouco tempo para questionamentos e muita manipulação, venceram as principais propostas da Prefeitura. Se Jane Jacobs, a Jornalista que virou delebridade por causa do seu livro “Morte e Vidas de Grandes Cidades”, publicado no final da década de cinquenta do século passado, fosse viva, possivelmente seria tratada como uma “palpiteira” pela entourage do Prefeito. Isso por que, na opinião dos secretários e assessores da PBH, as intervenções na cidade devem ser propostas apenas por especialistas. Infelizmente, nem sempre eles conhecem a realidade como quem vive e se movimenta pela Polis. Na Grécia, berço da verdadeira Democracia, era diferente…
Em BH ainda existe o agravante de pensar que o estrangeiro é sempre o portador da verdade, mesmo que esta não se confirme. É um tal de importar modelos que não se aplicam no clima e na topografia da cidade, o que explica inclusive a escolha do BRT, no lugar de monotrilho e VLT como principal modal de transporte, contrariando toda a comunidade de engenharia. Na IV Conferencia, entre outras coisas, sobrou vaidade, faltou racionalidade, e o bom senso deu lugar a esperteza de alguns que defenderam interesses corporativistas. Absurdos como acreditar que limitando vaga por apto haverá desestimulo ao carro é subestimar a inteligência alheia e não conhecer a realidade. Evidente que o tiro sairá pela culatra e carros serão colocados uns em cima dos outros, nos passeios ou em qualquer outro lugar que deveria ser destinado a pedestre.
Ninguém deixa de comprar carro por falta de garagem, e isso só não vê quem no quer, sobretudo em uma cidade que não oferece transporte publico de qualidade. A PBH deveria estar criando vagas que fossem capazes de tirar carros das ruas, através de edifícios garagem verticais ou subterrâneos, a preços populares, e não o contrário. Outro equivoco imperdoável é continuar insistindo no BRT como modal de transporte em corredores como Av. Amazonas, Pedro II, Nsa. Sra. do Carmo, Via Expressa, Andradas e outros. Para esses corredores, os modais recomendáveis pelos engenheiros são os subterrâneos ou os aéreos. Outro detalhe inacreditável é o confisco do coeficiente de aproveitamento, igualando o potencial construtivo da cidade a uma vez, aumentando a área de permeabilidade, corredores e deixando apenas 0,6 para aproveitamento .
Tirar de quem tem e vender depois a preço de ouro é roubo, um confisco inadmissível que a justiça não pode permitir, sob a justificativa da contrapartida. A Prefeitura coordenou os trabalhos de modo a fazer com que suas principais propostas fossem aceitas e elas acabaram passando, já que a maioria dos que foram indicados como delegados, não sabiam nem o que estavam fazendo ali. Sou testemunha dessa aberração, e não por acaso fui um dos primeiros delegados indicados pelo setor empresarial a desertar quando percebi a manipulação e as pretensões da PBH. Não foi difícil para os mais atentos concluir que o circo já estava armado para que as propostas fossem aprovadas de acordo com os interesses da governança municipal. O que é lamentável, inadmissível e repugnável, mas que aqui será tratado como “coisas que acontecem”…
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Assuntos Urbanos
Presidente do Conselhos Empresarial de Policita Urbana da ACMinas
Delegado desertor da IV Conferencia Municipal de Políticas Urbanas
CRA MG 08.0094/D
31-9953-7945