Sempre ouvi dizer que democracia é o governo do povo e que a vontade da maioria prevalece sobre o da minoria. O bom gestor público ouve e atende o que a maioria deseja. Em se tratando de mobilidade urbana em BH, não tem sido a vontade da maioria, mas de uma minoria que acha que o seu modelo de mobilidade é o certo e deve ser seguido por todos.
O discurso é “moderno”, mas não se aplica a realidade da capital. Portanto as ações que estão sendo implementadas é fruto de uma tentativa de mudar comportamento, que não deu certo nos últimos nove anos e que agrava o quadro de maneira exponencial. Não deu e não dará certo…
Repito, não é o desejo da maioria e a interpretação da realidade como ela é que norteiam a ações de mobilidade urbana em BH, mas a “verdade” de alguns que tentam usar conceitos importados incompatíveis com a cultura belo-horizontina, e isso coloca em risco o direito de ir e vir do conjunto, em beneficio do que esta minoria tem como certo.
Atravessar BH está ficando cada dia mais difícil, não é por acaso. Trata-se de um erro grave de interpretação do que é de fato o desejo dos munícipes. Explico: A ascendência deste grupo que se diz portador do conhecimento e das soluções de mobilidade que tem feito o gestor do transito e do transporte querer que o povo ande de bicicleta, a pé ou de BRT. Desejo em vão, já que a ineficácia das ações são visíveis.
Todas as ações da BHTrans foram montadas sobre estes três pilares (caminhada, bicicleta e BRT). Mesmo com caos ficando cada vez mais evidente e grave, o plano para enfrentar o problema, feito em 2008, validado na semana passada em reunião do Observatório da Mobilidade, “PLANMOB” segue sem nenhuma nova proposta. Nele, carro simplesmente não existe. É figura abstrata e deve ser varrido literalmente para debaixo do tapete.
Indivíduo que optar pelo transporte individual mesmo ele representando 47% dos deslocamentos, perde a condição de cidadão e não pode reclamar de engarrafamentos. E ainda pior, veladamente tem o seu direito vilipendiado com medidas restritivas que podem ser vistas explicitamente no cotidiano da cidade. Todas tentando em vão desestimular o uso do carro. As projeções comprovam no entanto que a população não quer ser impedida de usar o transporte individual.
Contudo, seguem os estreitamento de vias; instalação de semáforos indiscriminadamente, e eles já somam mais de 1.100. Alargamento de passeios, mesmo que sejam de enfeite onde não há transito de pedestres; puxadinhos no lugar de obras de engenharia que eliminem gargalos; ausência de sincronia nos sinais; fechamento de quarteirões; retirada de todo o efetivos de fiscalização nos horários de pico das ruas, deixando o transito a deriva de sinais.
Somado a isso, um arsenal gigantesco, e desnecessário para multar o motorista. Tudo feito para exorcizar o carro, e marginaliza-lo, mesmo com a população dizendo que não é esse o seu desejo. As políticas tentam impedir fluidez e tiram do poder publico a responsabilidade de gerir o trânsito no horário que o ele é marcado por engarrafamentos e lentidão na cidade inteira. O “PLANMOB” não tem um único indicativo de ação que vise melhorar o desempenho da fluidez resguardando o direito de ir e vir de todos, e não apenas de parte da população.
Ao contrário, todas as ações são no sentido de aumentar o uso do transporte coletivo, embora os números mostrem que está havendo fuga em massa dos usuários do ônibus para o transporte individual, carros ou motos. A queda já passa de 10% e mais grave, pode colocar o sistema em risco de colapso, já que trata-se de uma concessão com premissas de demanda, onde o regulador e fiscalizador de tarifas é o poder publico, baseado nas planilhas de custo de operação do sistema, que não estão sendo aceitas.
O que falta para melhorar fluidez do transporte motorizado, sobra em indicadores que medem a tentativa desesperada de aumentar o uso da bicicleta e das caminhadas. Tentativas, diga-se de passagem inúteis, já que as pessoas mostraram que não desejam a bicicleta como meio de transporte, exceto um grupo minoritário (0,6%) composto por atletas e pessoas que moram próximo ao trabalho, que podem deslocar a pé.
Com efeito, o erro de interpretação da realidade está deixando um passivo cada vez maior e impedindo uma solução capaz de melhorar o deslocamento em Belo Horizonte. Prefeito Kalil, quer entrar para história, comece agora tratar o tema com visão um pouco mais ampliada. Nos últimos 25 anos, o tema patina, e não sai do lugar… comandado pelo mesmo grupo.
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Assuntos Urbanos
Membro Consultor da Comissão Técnica de Transporte da SME
Autor do Blog SOS mobilidade Urbana – Portal www.uai.com.br
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