A indústria automobilística espera do governo federal um pacote de incentivos para aquecer as vendas que despencaram nos últimos meses. Algumas montadoras já admitem a possibilidade de férias coletiva e redução da produção, o que não é um bom presságio para a economia, em véspera de eleição e Copa do Mundo. O que ninguém fala e que seria oportuno é que neste pacote deveria ser incluído o tema da mobilidade urbana, hoje, ao lado da segurança pública, um dos que mais afeta a vida de pobre e ricos. Os impostos provenientes da cadeia produtiva da indústria automobilística, poderiam ser destinados para obras de mobilidade urbana, já que neste ritmo, as cidades inevitavelmente irão parar.
Com efeito, há um descompasso gritante entre o que faz o governo federal e o que pratica os municípios em relação ao tema. Prefeituras como a de BH, seguem perseguindo e dificultando a vida de quem tem carro, deixando o transito a deriva de sinais, estreitando cruzamentos, evitando obras, há décadas necessárias, reduzindo potenciais construtivos para edificações com garagens e implantando modais de transporte que ocupam espaço onde não há mais espaço. A escolha equivocada do BRT (contrariando toda a comunidade de engenharia) e a construção de ciclovias em ruas estreitas, entupidas de carros é a prova inconteste de que algo está muito errado em Belo Horizonte.
Os gestores municipais, com o apoio de “especialistas” defensores de teses “politicamente corretas”, que pregam o fim do carro no cotidiano das cidades, ainda não compreenderam o significado dele para o povo brasileiro. Não se trata apenas de um meio de transporte individual que dá liberdade e autonomia, mesmo com a falta da fluidez, mas sonho de consumo da maioria dos cidadãos deste país. Tais “especialistas” continuam copiando modelos de cidades que não servem para e o clima de Belo Horizonte, onde a temperatura média é de 30 graus, a topografia acidentada e o traçado é ortogonal, como um tabuleiro de xadrez.
Certo é que quanto mais a prefeitura tenta exorcizar o carro, mais ele se multiplica. Hoje são 300 emplacados por dia, amanhã serão 400. Cada minuto que se perde com a tese de que obras não resolvem o problema, maior o caos. Los Angeles nos EUA é o exemplo que deveria ser mirado, e não Bogotá. A topografia que desestimula o uso do transporte não motorizado (bicicleta), convida o poder público e a engenharia para desatar os nós que se multiplicam. Há em BH um gosto por sinais ao invés de passarelas, trincheiras, viadutos e túneis “inexplicável”, aparentemente. Não enxergar o óbvio e persistir no discurso de que o povo pode comprar carro, mas não deve usá-lo é prova inequívoca de incompetência e teimosia.
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Mobilidade e Assuntos Urbanos
Presidente do Conselho Empresarial de Política Urbana da ACMinas
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