Indústria da multa em BH, mito ou realidade?

Os radares, detectores de avanço de sinais, câmeras de monitoramento e fiscalização são importantes instrumentos de controle que o poder público lança mão para evitar acidentes e segurar o instinto selvagem de alguns motoristas apressadinhos e irresponsáveis que fazem dos seus veículos verdadeiras armas. A tese de que motorista que cumpre a lei não deve se preocupar com multas é controversa e não se aplica a Belo Horizonte.

Mais do que o sentido pedagógico que deveria nortear as ações do gestor do trânsito, multas viraram instrumento de arrecadação. Explico e convido o leitor para um exercício de lógica em resposta aos argumentos utilizados pela municipalidade para justificar uma cidade tomada por radares, detectores e câmeras de vigilância no transito. Um verdadeiro arsenal eletrônico feito para multar. Tudo legal, mas aparentemente imoral.

Ao contrário do que se prega, o número de atropelamentos com mortes, que é de 7 para cada 100 mil habitantes, por ano em BH, embora alto, está dentro dos níveis tolerados em uma cidade de 2,5milhões de habitantes. Lembro que carros não sobem em passeios para atropelar as pessoas e nesta equação, pedestres são também responsáveis por acidentes, ao serem imprudentes e desatentos. A velocidade não é a única variável capaz de reduzir atropelamentos, sobretudo em vias onde não existe trânsito de pedestre. Onde há trânsito de pedestre o controle deve ser rígido.

Descendo um degrau na análise do que tem por trás da parafernália montada para tirar dinheiro da população é possível constatar que 83% das notificações por “excesso” de velocidade nas ruas e avenidas da capital acontecem por uma diferença de 1 a 5km/hs. Ou seja, se o limite máximo, onde NÃO há trânsito de pedestre fosse 70km/hs e não 60km/hs, a farra da indústria da multa deixaria de existir, tornando o “negócio” desinteressante. Um olhar atento nos números revela que 70% do custeio da empresa municipal de trânsito, vem de multas. O que por si só bastaria para explicar a sanha arrecadatória.

Ninguém é contra radar e vigilância para quem realmente precisa, uma minoria, e não maioria. O problema é que essa parafernália eletrônica está deixando muita gente que cumpre suas obrigações ao volante sem carteira (impedidos de dirigir). Perder 21 pontos nas ruas de BH é muito fácil. Especialmente se o motorista utiliza os corredores Cristiano Machado, Amazonas, Antonio Carlos, Pedro I, ou a Via Expressa.

Repare que nestes corredores NÃO há trânsito significativo de pedestres, mas neles estão concentrados os 5 radares campeões de arrecadação. Na região central da cidade onde teoricamente o risco de atropelamentos é maior, o numero de radares é menor. Com efeito, existe um instrumental montado em nome da segurança do pedestre que na verdade está mesmo focado em arrecadação. Tudo legal, mas de uma imoralidade que dói no bolso e torna o ato de dirigir em BH um estresse constante. Um olho no transito e dois nos radares, se você não quer ter surpresas.

José Aparecido Ribeiro
Consultor em Assuntos Urbanos
Autor do Blog SOS MOBILIDADE URBANA DO PORTAL UAI.COM.BR
31-99953-7945
Articulista e Colunista da Revista Minas em Cena
jaribeirobh@gmail.com

By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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