O caderno Gerais do Jornal Estado de Minas deste domingo 17/4, trouxe matéria importante para a reflexão sobre o futuro da mobilidade urbana em BH. Dados que se bem interpretados poderiam servir para nortear as ações dos especialistas que pensam a cidade e que são convidados, por oficio e responsabilidade a apresentarem soluções para o que hoje podemos chamar de “imobilidade urbana”. A cidade padece de um plano condizente com a sua realidade e com as tendências da industria automobilística que tem no Brasil o 4º maior mercado de automóveis do mundo, e taxa de motorização na ordem de 22%, baixíssima se comparada a países desenvolvidos na Europa, Azia e na America do Norte.
BH possui um passivo de obras de 40 anos. Obras que são necessárias para dar fluidez ao trânsito e que terão que ser feitas, cedo ou tarde. Sabe-se que os cofres da prefeitura não dispõe de recursos para eliminar os mais de 150 gargalos que a cidade possui. Contudo, os gestores e a população terão que eleger os mais importantes, alguns citados na matéria com muita propriedade. A cidade precisa de túneis, trincheiras, mergulhões, elevados, viadutos, passarelas e toda sorte de obras de arte da engenharia capazes de eliminar sinais que passam de 1000, e que regra geral funcionam para não permitir fluidez, em ondas vermelhas. Além do excesso de cruzamentos impostos pelo traçado ortogonal que a cidade possui e ruas estreitas.
A cidade conta com mais de 100 rotas alternativas, que se bem asfaltadas, sinalizadas e conhecidas pela população, poderiam tirar dos corredores 20% do tráfego, especialmente nos horários de pico. Não existe campanhas de caronas solidárias. E não há motivações para mudança de hábitos, fazendo a população de forma voluntaria, trocar o privado pelo publico. O gestor do transito perdeu a sua credibilidade e sua estrutura não acompanhou o desenvolvimento da cidade. O modal de transporte BRT, escolhido pela BH Trans em 2008, vem perdendo passageiros dia após dia. Já foram 12% de fuga para o transporte individual, e não é por acaso. Além do desconforto, da perda de tempo, o BRT atende apenas a parcela da população no vetor norte, consumindo espaço onde ele é escasso.
A matéria ouviu dois especialistas que sugeriram medidas pouco eficazes e impraticáveis concentradas no binômio ciclovias e metrô. Ambos alinhados, através das entidades que representam, com o discurso da PBH, explicitamente. ACMinas e Fundação Dom Cabral, não possuem isenção e imparcialidade necessária para falar em nome do povo de BH. Propor ciclovias como solução para o caos do trânsito é subestimar a inteligência alheia em uma cidade cuja temperatura média é de 30 graus a maior parte do ano e a topografia acidentada, além de ruas estreitas e completamente saturadas por uma frota que tende a crescer.
Ao cobrar das autoridades a construção de metrô, pedágio urbano e trens suburbanos, um dos especialistas revela total desconhecimento da realidade, começando pelo custo do Km de metro que em condições normais, segundo a Comissão Técnica de Transporte da Sociedade Mineira dos Engenheiros está na ordem de R$ 700 milhões. Ambos omitiram os dois principais modais de transporte sugeridos por unanimidade pela comunidade de engenharia: Monotrilho e VLT. Esperar que MOVE e bicicletas possam resolver o problema da mobilidade é no mínimo ingenuidade. Pedágio urbano não deu certo em nenhuma cidade do mundo onde foi implantado. Equivocam-se ao propor tal medida e afirmam o alinhamento com o discurso oficial, que apresenta medidas pífias.
Com efeito, ao insistirem na tese de que BH precisa seguir as tendências de cidades europeias, tais especialistas revelam desconhecimento da realidade e ainda enviam mensagem aos governantes de que o problema não é da incompetência daqueles que são obrigados a apresentar soluções, mas da população que escolheu o transporte individual como solução para o deslocamento. Ou seja, prestam um desserviço para o conjunto dos cidadãos que esperam soluções de engenharia e gestão eficiente, urgente.
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Assuntos Urbanos e Trânsito
Diretor da ACMINAS
Membro da Comissão Técnica de Transporte – Sociedade Mineira dos Engenheiros
Presidente da ONG SOS Mobilidade Urbana
CRA – MG 08.00094/D
31-99953-7945