A semana deveria ser de luto oficial em Minas Gerais pela morte de um dos mais importantes empresários do Brasil. Morreu aos 93 anos, o homem que nas palavras do meu amigo João Almeida – ex-funcionário da Mendes Junior – era o “Menino de Montes Claros” – Dr. Jesus Murilo Valle MENDES, presidente e filho do fundador de uma das maiores construtoras do país.
A Mendes Junior iniciou suas atividades em 1953 e foi responsável por grandes obras no Brasil, com destaque para Belo Horizonte e MG. A empresa atuo em outros países, mas alcançou o seu apogeu durante o Regime Militar, na época do Milagre Econômico entre os anos de 1968 e 1974. Dr. Murilo Mendes comandou a empresa até um ano atrás e embora estivesse afastado por decisão dele e da família, não perdeu o vinculo diário com a sua equipe de colaboradores.
A causa de sua morte foi um infarte fulminante, de certo provocado pela tristeza de ver o sobrinho que comandava a empresa preso, seu sucessor, somado a perda da esposa Sra. Lucia Mendes, que morreu há menos de dois meses. Dois dramas em um curto espaço de tempo foram demais para o coração do empresário e intelectual que tinha paixão pela filosofia.
Tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente, através do amigo Salvatori Di Monda. Dr. Murilo Mendes era um visionário que tinha obsessão pelo trabalho e gosto pelas letras. Nossa convivência foi curta, tempo suficiente para conhecer um pouco do seu caráter e sua sensibilidade apurada para a literatura. Era, assim como eu, apreciador da obra de Platão. Ele parte deixando saudades.
O Brasil nunca precisou tanto de empreendedores como Murilo Mendes. A infraestrutura do país parou no tempo, provocando um apagão de 40 anos que levará gerações para ser recuperado. “Tudo isso não aconteceu por acaso. Estamos sendo governados por homens medíocres, que não tem compromisso com a coisa pública, e que só pensam no próprio umbigo”. Não são palavras minhas, são respostas a minha pergunta sobre o que estava acontecendo com as obras públicas no Brasil. Lá se vão os bons “Murílos”, como o Mendes e o Martins, e ficam os medíocres, ocupando secretarias de obras, perpetuamente…
Vale lembrar que a Mendes Junior não entrou em recuperação judicial por acaso, sofreu perdas gigantes nas décadas de 80 e 90, quando deixou de receber da Chesf, Cia Hidrelétrica do São Francisco, cifras milionárias na construção de hidrelétricas. A empresa também teve prejuízos em contratos com o governo do Iraque depois da paralisação de suas obras em virtude da Guerra do Golfo. Tomara que os que ficam consigam colocar a empresa nos trilhos, pois o Brasil precisa da experiência da Mendes Junior para voltar a crescer.
Minha homenagem a Dr. Murilo vai na poesia que o amigo João Almeida fez tão logo tomou conhecimento de sua morte.
José Aparecido Ribeiro
Jornalista
“AO MENINO DE MONTES CLAROS: claros montes
Se foi e se vai,
Vai por entre os trilhos do amor,
Pelas estradas do progresso,
Pelos portos dos sonhos.
Engenheiro,
Homem! Bravo, forte,
Que não se curvou aos mais poderosos;
Forte e bravo homem de Montes Claros,
Claros se tornaram os destinos dos que te serviram,
Montes romperam os que te seguiram.
Por muitos países do mundo,
Ouvem-se os roncos dos motores das máquinas,
Lembram da sua mansa voz!
Voz de firmeza;
Palavra imutável!
Homem grande!
Pela filosofia de suas poucas palavras,
Homem de fala com o olhar!
Olhar que recompensa o trabalho,
Olhar que reprime a preguiça.
Olhar no futuro,
Na vida!
No trabalho!
Vai homem do futuro,
Que fez o passado,
E que nos incube do presente!”
João Almeida – Engenheiro e ex-funcionário da Mendes Junior