Não é preciso ser especialista em trânsito para entender o que está acontecendo na região central de BH e perceber o que tem por trás das mudanças propostas pelo MOBICENTRO. Na ânsia de tirar carros das ruas na marra, a BH Trans fechou duas pistas da Av. Afonso Pena, na esquina de Av. Carandaí. O que é inconcebível, basta ver os resultados. Este ato significa muito mais do que uma mera intervenção desastrosa no tráfego daquela região que já é ruim e vai piorar muito. Ele representa o primeiro passo para o fechamento total do Hipercentro da Capital para carros. Primeiro fecha-se as principais entradas desmotivando a circulação na região, depois estreita-se as demais e limita-se o tráfego de veículos reduzindo ele a trânsito local e carga. Desmotiva-se primeiro e depois implanta-se barreiras definitivas. Se possível na calada da noite, com argumentos “modernos” de que a cidade é para as pessoas.
O gesto cercado de argumentos de que os estreitamentos servem para priorizar o pedestre e receber o MOVI/BRT, não se sustenta. A cidade não oferece transporte publico de qualidade interligado a grandes estacionamentos, estrategicamente posicionados no colar que circunda o Hipercentro da Capital. BRT não tem mobilidade e apelo para isso. Para fechar o Hipercentro a veículos leves e não prejudicar o comércio, a PBH terá que oferecer transporte de alta capacidade com conforto, além de estacionamentos a preços populares nas proximidades daquela região. Terá que redesenhar, com ousadia, toda a malha viária do entorno, e isso inclui a construção de vias expressas subterrâneas e elevadas, que sejam capazes de permitir a fluidez do tráfego para quem atravessa a região central da cidade em todos eixos, e não apenas no eixo norte. A posição geográfica do hipercentro dificulta qualquer ação para tirar carros das ruas.
Não é simplesmente impedindo a entrada de veículos com argumentos de privilegiar pedestre que o assunto estará liquidado. É preciso ir além, pois o comércio do centro não pode e não vai aceitar mais sacrifícios. A tese de que a cidade é para as pessoas e que há uma tendência mundial contra o carro, a favor de transportes não motorizados também faz parte do arsenal de argumentos da PBH e serve de discurso “politicamente correto”, com adesão de gente formadora de opinião, inclusive para justificar os estreitamentos de ruas e a tentativa de exorcizar o carro. Tal opinião tem a adesão dos menos avisados, especialmente os que viajam e conhecem as experiências europeias ou sul americanas, bem sucedidas, mas por razões específicas que não se aplicam em BH. Tese que serve inclusive para deixar os governantes com a sensação do dever cumprido.
Ou seja, nem tudo que é bom lá fora, é aplicável em BH. Os modelos de cidades que serviram de inspiração para o PLANMOB(Plano de Mobilidade de BH), desconsideram o clima e a topografia da cidade. Erro crasso e imperdoável. O que serve para Medellín, Bogotá, Amsterdam, Seul e outras, atende por que todas elas tem em comum o clima temperado, variando entre 10 a 19graus, e a topografia plana. Os desafios aqui passam pelo traçado ortogonal, morros e pela eliminação de gargalos do transito, que são mais de 100, além do gosto do belo-horizontino pelo carro, não só como meio de transporte, mas objeto de desejo. Espera-se também modais de média e alta capacidade como Metrô Elevado(Monotrilho) e o Metrô Subterrâneo. Quando o dever de casa estiver pronto, aí sim a PBH poderá colocar sua tropa na rua perseguindo motoristas. Antes disso as tentativas serão cerceamento de liberdade e paliativos que só pioram o que está ruim.
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Mobilidade e Assuntos Urbanos
Presidente do Conselho Empresarial de Política Urbana da ACMinas
Presidente da ONG SOS Mobilidade Urbana
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