Foto: Site PBH
Matéria de capa do Jornal Estado de Minas deste sábado (04), feita pelos repórteres Cristiane Silva e Gustavo Werneck revela uma chaga nacional que deveria ser a prioridade zero de governantes e agentes públicos nas três esferas do poder, incluindo justiça, Ministério Público e executivo: BH tem mais de 1,1 mil moradias com alto risco de deslizamento, locais onde vivem mais de três mil pessoas.
Comparado ao número de pessoas vivendo em favelas na capital, 308 mil em 169 aglomerados, o número é pequeno e o assunto fica fácil de ser resolvido se houvesse vontade política, compromisso e empenho das autoridades em dar fim a este problema. A questão habitacional no Brasil tem sido relegada para o segundo plano há décadas.
Migração e oportunidade de emprego nos centros urbanos
Embaladas pela concentração das atividades econômicas nos grandes centros, a migração ajuda piorar a situação de quem busca oportunidades de empregos em áreas urbanas. A falta de controle dos fluxos migratórios e, sobretudo das ocupações de riscos nas cidades agravam o problema. Exemplos de tragédias como as que ocorreram no início do governo Dilma no Rio de Janeiro revelam que a onipresença do estado funciona bem quando é para arrecadar.
Foto: Site Prefeitura de Petrópolis – RJ
Enchentes e deslizamentos de terra atingiram o estado em janeiro de 2011. Os municípios mais afetados foram Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim na Região Serrana e Areal na Região Centro-Sul do estado. Em um único desastre, no dia 11 de janeiro de 2011 morreram 917 pessoas e 345 seguem desaparecidas. 35 mil pessoas ficaram desabrigadas na ocasião.
Mais de 10 mil pessoas podem ter morrido nos deslizamentos em 2011
De acordo com o Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) de Petrópolis e associações ligadas às familiares de vítimas da catástrofe, os números oficiais estão longe de representar o que de fato aconteceu. Na contabilidade de quem esteve perto da tragédia, cerca de 10 mil pessoas podem ter morrido ou desaparecido nas chuvas que atingiram a região naquele ano. Na verdade famílias inteiras foram soterradas, não havendo reclamação, não há registros de mortes.
Com os holofotes da mídia internacionais e o espírito de solidariedade, o país se mobilizou e a comoção fez os três poderes se mexerem. Porém, bastou à população voltar à sua rotina para o assunto cair no esquecimento e as ocupações irregulares voltarem. Passados nove anos, os riscos permanecem e ações efetivas para tirar moradores de áreas de risco, devolvendo cidadania, endereço e dignidade, simplesmente desapareceram.
Foto: Favela da Rocinha Rio de Janeiro – ONG Amigos da Rocinha
No Brasil de acordo com dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletados durante o Censo de 2010, ou seja, dados defasados em 10 anos, cerca de 11,4 milhões de pessoas (6% da população) viviam em aglomerados subnormais. O IBGE identificou 6.329 favelas em todo o país, localizadas em 323 dos 5.565 municípios brasileiros.
Belo Horizonte tem 308 mil pessoas vivendo em favelas, 3 mil correm riscos de deslizamento
Belo Horizonte tem, segundo a mesma pesquisa, cerca de 310 mil pessoas em 87 mil domicílios de 169 vilas, favelas. Vejo a propaganda oficial e nela não há nada que revele esforços da PBH para dar a este tema a importância que ele merece. Tirar pessoas de favelas ou transformar as favelas em bairros seguros, capazes de devolver cidadania e dignidade deveria ser prioridade zero na agenda de qualquer político que se preza. Você conhece algum?