A Embaixatriz de BH e da Cozinha Mineira, Nelsa Trombino, acaba de partir para nunca mais voltar, e com ela as boas lembranças do Xapuri

Em 35 anos de atuação no turismo, credito a Dona Nelsa Trombino o título de Embaixatriz do turismo de BH e da Cozinha Mineira

Foto: Acervo Facebook Xapuri – Nelsa Trombino

Morreu ontem, terça-feira (30) no Hospital Madre Tereza em BH, vitima de problemas cardiovasculares, muito provavelmente agravados pelos efeitos nefastos das terapias gênicas que insistem em chamar de vacina contra Covid-19, a Embaixatriz de Belo Horizonte e da verdadeira Cozinha Mineira, a descendente de italianos radicados em Cubatão-SP, mas mineira de alma e coração, Nelsa Trombino (84).

Recém contratado, ainda acadêmico do curso de turismo na Newton Paiva, pela rede de hotéis Othon, na função de promotor de vendas, recebi a missão de fazer as honras da casa para um grupo de secretária de grandes empresas de São Paulo, era o primeiro de centenas de FamTours (Turismo de Familiarização), sob minha responsabilidade, muito comum naquela época,e eu precisava fazer bonito.

Era segunda-feira e as secretárias chegariam no aeroporto da Pampulha em voo da Cruzeiro do Sul (Varig) na tarde de sexta-feira, fincando em BH até domingo. Calouro e recém-contratado, tratei de me informar com quem entendia do assunto: Virgílio Pinto, secretário da diretoria da Cowan e por acaso pai do meu cunhado. E ele me falou de um tal Xapuri, atrás da AABB lá na Pampulha, cuja proprietária chamava Nelsa Trombino.

Foto: Acervo Facebook Xapuri – A Entrada

A bordo do meu Fiat Oggi preto 1984, sem carteira, mas disposto a não perder a primeira oportunidade na maior rede hoteleira do Brasil, Hotéis Othon, parti para o Xapuri disposto a começar a organização do meu primeiro FamTur, pela comida em almoço de domingo para as convidadas, todas secretarias de diretoria de importantes empresas, que Virgílio havia me falado que era a melhor que ele já havia comido em BH. E para ele dizer isso, deveria ser mesmo, pois conhecia do riscado. Sua família era do Serro e se tinha uma coisa que eles sabiam fazer é comida boa. Que o diga o comediante Carlinhos Nunes, sobrinho de Virgílio, responsável pela consagrada peça de teatro, “Como Sobreviver à Festas e Recepções com Buffet Escaço”.

Com a minha gravatinha ajustada de tricô, calça de tergal com vinco e sede de mostrar trabalho, procuro a tal Nelsa Trombino, que me recebeu como se eu fosse gente grande, eu tinha 21 anos apenas. Me levou para “atrás da moita,” que era onde ficava o Xapuri e dali nasceu uma amizade que durou algumas décadas e que serviu para divulgar o destino Belo Horizonte mais do que qualquer governo municipal ou estadual tenha feito ao longo dos anos. Dona Nelsa virou de fato a Embaixatriz da gastronomia mineira e do turismo de BH. Não por acaso, foi chefe da Comissaria da Varig e o seu cardápio serviu por alguns anos a comida de bordo dos voos internacionais da companhia, levando a comida mineira para o mundo.

Dona Nelsa comprou a idéia de que os FamTours gerariam negócios para ela e para Belo Horizonte. Em que pese o fato da ordem estar invertida, pois minha convivência com Dona Nelsa me fez entender que ela era mais preocupada com a Cidade do que por ganhar dinheiro no seu negócio. Tratava o Xapuri como a sala da casa dela. E quem estivesse lá deveria sair com vontade de voltar. Quando o assunto era trabalhar o coletivo e deixar as pessoas formadoras ou não de opinião impactadas, Dona Nelsa estava dentro e fazendo bonito.

Ela servia do bom e do melhor e não cobrava dos parceiros de marketing. Entendia que aquilo era oportunidade para divulgar o seu restaurante que ganhou o nome Xapuri por causa de um sonho que ela teve e que poucas pessoas sabiam. Foi revelado no sonho que o Xapuri daria muito gosto para ela, depois de uma separação que lhe custou alguns anos de vida. Tive o privilégio e a honra de me tornar, na ocasião, amigo de Dona Nelsa e ouvir os seus ensinamentos, era final de 1988 e o Xapuri estava funcionando há menos de um ano. Embora tivesse contato quase que semanal com ela até 2007, quando deixei a função executiva na hotelaria, me tornando consultor, a relação com os filhos era distante e nula. Atuei nas redes Othon, Horas, antigo Hotel Dele Rey, Merit Plaza e San Diego, bandeira de sucesso da Arco Administradora, uma das maiores de Minas Gerais.

Foto: Nelsa Trombino e Dona Lucinha

Em parceria com várias companhias aéreas, incluindo Varig, Trans Brasil, Vasp, Total, Passaredo entre outras, além de receptivos como Pampulha Turismo do experiente Peter Mangabeiras, Restaurante Casa do Ouvidor de Ouro Preto, Casa dos Contos e Dona Lucinha em BH, da também Embaixatriz Dona Lucinha e os Filhos Marcílio e Márcia, fizemos ao longo de 20 anos de hotelaria, dezenas de ações promocionais promovendo Belo Horizonte, todas exitosas. Na foto acima, as duas representantes da Cozinha Mineira e embaixatrizes de Belo Horizonte, insubstituíveis.

Quando digo que Dona Nelsa é uma das pessoas que mais divulgou o destino Belo Horizonte, não é força de expressão, ela sabia da importância das ações coletivas para o seu negócio como poucos empresários ensimesmados que costumam achar que o universo é da porta da sua empresa para dentro. Incluindo gestores hoteleiros atuais, inexperientes e vaidosos, proprietários de hotéis, restaurantes e empresas que dependem do sucesso do destino Belo Horizonte e de Minas Gerais, para sobrevivência, gente com alcance limitado e que deveriam se espelhar em Dona Nelsa Trombineo, mulher de visão ampliada, apesar de pouca instrução erudita. Sua sabedoria elevou o nível da cozinha mineira e seu legado jamais será esquecido.

Foto: Reprodução Internet – Nelsa Trombino

Me despeço de Dona Nelsa agradecendo pelo carinho e deferência que sempre me tratou. Pelas parcerias bem sucedidas que fizeram do Xapuri o melhor restaurante do Brasil por diversas vezes, em publicações especializadas e respeitadas,  por consequência, fizeram milhares de pessoas famosas e nem tão famosas como eu, multiplicar no Brasil e no mundo, no boca a boca e com os recursos da época, o desejo de conhecer o Xapuri. Jamais esquecerei quando sentado em uma mesa com jornalistas, diretores de empresas, agentes de viagens convidados para conhecer BH, ela chegava perguntando se haviam gostado da “comidinha”, sempre sorrindo e paramentada, impecavelmente com seu uniforme branco. Em seguida a festa dos doces começava para fechar com chave de ouro a ação de marketng mais barata que existe no turismo, os FamTours ou PressTrips, esquecidos pelos imediatistas modernos e pela visão tacanha de alguns que não conseguem enxergar no turismo uma das atividades mais importantes para a  geração de emprego e renda.

Ela sempre cumprimentava um por um na mesa e engatava alguns segundos de prosa individualmente, deixando todos encantados. Em uma semana o trabalho era recompensado com as reservas chegando e a corrente de disseminação do destino BH, e da Cozinha Mineira varando o Brasil, atravessando o oceano para o mundo. Quem gostava de fato da comida mineira, jamais vai esquecer do “Frango Preguento do Bento”, preparado pela Dona Nelsa e sua equipe de assistentes disciplinados e comprometidos.

Perdi a conta do número de pessoas que levei no Xapuri, grupo pequenos, médios e grandes, todos formadores de opinião e responsáveis pelas reservas de executivos, turistas, participantes de eventos e produtores de shows que de alguma maneira estavam ligados a indústria do turismo e seus desdobramentos em mais 70 segmentos da economia. De todos havia uma unanimidade, o Xapuri foi a melhor experiência que tiveram em BH. Isso inclui comparações com Ouro Preto, Grutas, Mirante, Rua do Amendoin, Praça do Papa, Mercado Central e outros. Ou seja, o Xapuri é um produto turístico da Capital, embora nunca tenha recebido a atenção que mereceu. Lembro do sacrifício que foi sinalizar com placas indicativas as rotas para chegar lá. A turma do deixa disso não deixava, eram incapazes de reconhecer a importância do restaurante para a cidade e para o estado. Gente de mentalidade curta ocupando cargos importantes no turismo e na estrutura administrativa da prefeitura.

Vai com Deus Dona Nelsa, obrigado pelas lições de simplicidade, determinação, leveza de alma, humildade e do compromisso com qualidade que era sua marca. Obrigado por compreender a importância do turismo para Belo Horizonte e Minas Gerais. Hoje, não mais na hotelaria, mas ligado ao turismo pelo jornalismo, à frente da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo, proponho um busto de Dona Nelsa Trombino em Praça Pública da Capital, como reconhecimento e gratidão pela maior promotora do turismo de BH e de Minas Gerais que esteve conosco até a noite desta terça-feira (30), e partiu para nunca mais voltar.

José Aparecido Ribeiro é jornalista

www.conexaominas.comjaribeirobh@gmail.com – WhatsApp: 31-99953-7945

Este blog é acessado mensalmente por mais de 200 mil pessoas, boa parte delas formadoras de opinião, e você pode ajudar na manutenção anunciando, doando e compartilhando seu conteúdo. Doe pelo pix: 31-99953-7945

By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Notícias relacionadas