A importância do conhecimento político e econômico – Por Thiago Jardim

Você não entende de economia? não se preocupe, alguns economistas também não

 

 

Foto: FreePik – Montagem Bandeira do Brasil

Se você não entende Economia, não se preocupe. Muitos economistas também não entendem! Vejam o que acontece na Argentina atualmente: a inflação que estava a 70% em julho está prevista para atingir 100% ao fim de 2022, ou seja, o salário de um trabalhador em janeiro valerá relativamente R$0,00 (zero) em dezembro. Se o trabalhador não aplica esse dinheiro para ser corrigido, ele literalmente o perderá com o tempo. Na Argentina já há escassez de produtos como óleo, farinha, açúcar e macarrão, e a pobreza agora atinge 40% da população do país.

A hiperinflação, ou a inflação exacerbada, é causada por anos de políticas econômicas equivocadas. Ela é o rastro deixado por governos que não entendem o sistema econômico e que geralmente são os mais críticos! Pessoalmente acredito que a crítica exacerbada ao sistema ocorre justamente por não o entenderem plenamente. Os responsáveis políticos não sabem como, quando, onde e nem porque a hiperinflação ocorre e geralmente culpam o próprio sistema ou acusam terceiros, principalmente a classe dos empresários. Alguns acreditam até que a hiperinflação é propositalmente promovida pelos políticos para provocar uma crise e forçar uma revolução. Ora, se há uma crise econômica, pobreza e desigualdade exacerbada, e a culpa é do sistema econômico e dos outros… O mundo conheceu líderes como Hitler, Stalin, Maduro, Mao Tsé-Tung e outros, então nunca duvide dessa possibilidade.

Para evitar o colapso econômico é preciso eleger governos que entendem o sistema, o que exige o seu entendimento, mesmo que básico! Mas por que o desentendimento ocorre? Economia não é algo trivial! É muito mais fácil e prático entender como um governo resolveria a pobreza distribuindo riquezas, do que entender como o surgimento do direito à propriedade privada gradualmente gerou desconcentração de renda e do poder; ou entender como a inflação afeta a taxa de juros e a desigualdade de renda. Ao argumentar contra os defensores da monarquia absoluta, John Locke (1632–1704) conceituou a propriedade como um “direito natural” que Deus não havia concedido exclusivamente à monarquia; Adam Smith (1723-1790), em contraste com Locke, fez uma distinção entre o “direito à propriedade” como um direito adquirido e o “direito natural” como sendo o direito à liberdade e a vida.

As características centrais do sistema econômico que viria a se chamar capitalismo incluem o reconhecimento de direitos de propriedade privada, mercados competitivos, sistema de preços livres, troca voluntária e trabalho assalariado. Sabendo disso, é possível deduzir que a pobreza no Brasil antecede o surgimento do capitalismo no país. Hoje se é internacionalmente reconhecido que todos eram pobres até o surgimento do capitalismo, exceto o rei e seus amigos.

A propriedade privada sobre os meios de produção – condição para o capitalismo existir -, inclui a propriedade sobre si e o fruto do próprio trabalho. Antes da abolição da escravidão em 1888, não existia trabalho voluntário assalariado para aproximadamente 50% da população brasileira. Da mesma forma, o mercado de terras privado no Brasil surgiu apenas após a Lei de Terras em 1850. Ou seja, a concentração de terras também é uma herança da política monarca, que distribuiu terras para seus poucos amigos, e não do livre mercado pois este não existia.

A desigualdade que evidenciamos hoje nas cidades brasileiras, a pobreza e o nível médio de desenvolvimento humano, são reflexos desta dotação inicial e do atraso na industrialização e urbanização do país que ocorreu quase cem anos depois da Inglaterra e dos Estados Unidos. Enquanto Londres possuía 5,5 milhões de habitantes em 1900, São Paulo, possuía apenas 65 mil. A população brasileira antes da Proclamação da República em 1889 era majoritariamente pobre, analfabeta e agrária – apenas 23% da população nacional habitavam as cidades, contra 62% na Inglaterra no mesmo período.

Mas a Inglaterra também foi pobre um dia. De acordo com o Banco Mundial, em 1830, a renda per capita no Reino Unido era semelhante à de países como Honduras, Moçambique e o Paquistão em 2003. A palavra “slum”, ou favela em inglês, teve origem na Europa Ocidental com a rápida migração de pobres camponeses, os antigos servos dos senhores feudais, para as cidades no século 1800. O mesmo ocorreu no Brasil, mas apenas a partir de 1900, cem anos depois. As diferenças de estágio de desenvolvimento entre as nações de hoje ocorrem em grande parte pela diferença de tempo e de forma com que estas transformações econômicas ocorreram. O que países em desenvolvimento experimentam hoje, os países desenvolvidos experimentaram no passado. Mas isso não significa que o destino de todo país é a prosperidade. Governos e suas instituições podem ajudar ou atrapalhar, e tirar o país do seu curso.

Tomem a Venezuela como exemplo: um país que possui a maior reserva de petróleo do mundo e caminhava para a prosperidade no meio do século XX, poderia estar hoje como um Emirado Árabe, e Caracas poderia ser a Dubai latino-americana. O que ocorre, no entanto, é que 77% da população se encontra na linha da extrema pobreza e 13% da população deixou o país após o início da Revolução Bolivariana (1999), iniciada por Hugo Chávez. A Argentina, por sua vez, não tem as mesmas reservas de petróleo, mas foi outrora considerada a Espanha do Hemisfério Sul por ser a décima nação mais próspera do mundo antes de 1930. A Grande Depressão de 1929, trouxe ditadura, nacionalismo, corporativismo e o ímpeto da autossuficiência. Também como consequência de sua colonização, a riqueza devia ser razoavelmente mal distribuída na sociedade ajudando o país a se tornar alvo de revoltas contra a ordem capitalista ocidental. Perón referia-se ao capital estrangeiro como um “agente imperialista”. O governo possuía e administrava não apenas monopólios naturais, como água e eletricidade, mas qualquer coisa que fosse grande ou estratégica como a indústria do aço, produtos químicos, e até fábricas de automóveis. O aumento da propriedade estatal, intervencionismo (incluindo controle de aluguéis e preços) e maiores níveis de gastos públicos para financiar políticas populistas, levou à inflação naquela época.

Em 1900, o PIB per capita da Argentina representava 80% do PIB per capita dos Estados Unidos. Cem anos depois, o PIB per capita representava apenas 30%. Ao tempo que o mundo iniciava um período de liberalização comercial, a Argentina se fechava e estatizava. Em 1950, a renda per capita do país era o dobro da Espanha, seu ex-colonizador, e quase três vezes mais ricos que os japoneses. Mas em 1980, os espanhóis e os japoneses se tornaram mais prósperos que os argentinos e inverteram essa proporção. O famoso “paradoxo argentino” descreve a condição única do país em ter alcançado o status de desenvolvimento avançado no início do século 1900 e de ter experimentado uma reversão. O país parou no tempo, empobreceu, e hoje enfrenta conjuntamente uma crise de dívida pública, escassez de divisas e hiperinflação.

Na década de 70, o Chile passava pelos mesmos graves problemas que afligiram os países latino-americanos: endividamento, recessão e hiperinflação. O governo de Allende havia fechado e socializado a economia, expropriado fábricas, nacionalizado empresas estrangeiras de cobre, bancos e grandes propriedades. A ausência de investimento privado e de divisas, a ineficiência estatal, o controle de preços e a monetização da dívida pública foram as principais causas da crise[5]. Mas a história do Chile viria a ser diferente! A “Terapia de Choque”, programa econômico destinado a fazer a transição de uma economia planejada ou desenvolvimentista para uma economia de livre mercado por meio de uma reforma repentina e dramática, surtiu efeito. Hoje, o Chile é o país mais próspero da América Latina.

O “Milagre Chileno” foi um termo usado pelo economista Milton Friedman para descrever a reorientação da economia chilena na década de 1980 e os efeitos das políticas econômicas aplicadas pelos economistas chilenos que passaram a ser conhecidos como Chicago Boys, por terem estudado na Universidade de Chicago, onde Friedman era professor. Vencedor do prêmio Nobel em Economia em 1976, Friedman disse em reportagem a um documentário para a PBS: “a economia chilena foi muito bem, mas o mais importante, no final, o governo central, a junta militar, foi substituída por uma sociedade democrática. Portanto, o aspecto realmente importante sobre os assuntos chilenos é que os livres mercados funcionaram para criar uma sociedade livre.”

Capitalismo e democracia, liberdade política e econômica andam de mãos dadas. A demanda por crescimento econômico e por prosperidade, bem como o poder econômico e social adquirido por indivíduos nos livres mercados elevam a demanda por representatividade política e a competição pelo poder. Não é coincidência que o capitalismo evoluiu ao tempo que as democracias se consolidaram e que as democracias mais robustas da atualidade são as sociedades industrializadas mais capitalistas.

A história sugere que o capitalismo é uma condição necessária para a liberdade política, mas, não é uma condição suficiente. A Itália e a Alemanha fascista, o Japão antes da Segunda Guerra Mundial e a Rússia czarista nas décadas anteriores à Primeira Guerra Mundial, constituem sociedades que não podem ser consideradas como politicamente livres. Entretanto, em cada uma delas, a empresa privada era a forma dominante da organização econômica. É, portanto, claramente possível haver uma organização econômica fundamentalmente capitalista e uma organização política que não seja livre. O principal exemplo disso hoje é a China, onde se prevalece o capitalismo de Estado de um único partido. Mas quando as coisas caminham mal economicamente é importante haver mudança e o sistema mais adequado à mudança é a democracia.

Pelo fato de atualmente vivermos em uma sociedade razoavelmente livre, esquecemos como a liberdade política e econômica é limitada: “o estado típico da humanidade sempre foi a tirania, a servidão e a miséria”. Da mesma forma, a incompreensão do sistema econômico em uma democracia torna os eleitores vulneráveis à perda da liberdade econômica e política, à pobreza e à servidão.

Sobre o autor:

Thiago Magallhães Gomes Jardim, é arquiteto e economista, com atuação no desenvolvimento de projetos arquitetônicos e consultor em planejamento urbano, inteligência de mercado e desenvolvimento de negócios. Thiago é sócio e diretor de tecnologia e inovação na Geo Big Data. Sócio Proprietário, Arquiteto e Consultor na TJAE –  https://www.tjae.com.br/blog .

​Atuou como pesquisador no Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), e foi o autor do estudo “Desenvolvimento Urbano e Econômico: Uma conexão entre práticas de planejamento urbano, estrutura espacial urbana e o desenvolvimento econômico.”, amplamente difundido em Minas Gerais e no Brasil. Prestou consultoria à Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC), onde avaliou a correlação entre parâmetros urbanísticos e o desempenho econômico de 6 metrópoles, contribuiu com artigo para o E-Book de celebração dos 20 anos da Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (ARMBH) e é colaborador do portal Caos Planejado, o maior portal de assuntos urbanísticos do Brasil.

José Aparecido Ribeiro é jornalista

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By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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