Foto: Marta Luiza de Carvalho – moradora do Ribeirão do Eixo
Quem viaja com frequência pela BR 040 em direção ao Rio de Janeiro; cidades da Zona da Mata Mineira; Campo das Vertentes; Conselheiro Lafaiete, e a histórica Congonhas do Campo, de certo já teve sua viagem interrompida por causa de acidentes que são constantes na rodovia. O km 588 é famoso pelo seu traçado sinuoso que termina em curva conhecida e temida até por quem tem longa experiência ao volante, a famosa “Curva do Ribeirão do Eixo”, palco de acidentes fatais desde quando a antiga BR-3 foi construída no governo do então Presidente Juscelino Kubitscheck há mais de 70 anos.
Neste trecho a comunidade reclama da falta de uma passarela por onde diariamente atravessam 110 crianças que frequentam o único grupo escolar da região. A curva que leva o nome do povoado, passa sobre o Córrego do Caranga, um riacho que desse da Serra da Moeda ao fundo e deságua no Rio das Velhas, logo à frente. O local abriga em seu entorno na zona rural o Distrito do Ribeirão do Eixo, com mais de 900 moradores que vivem ali há sete décadas, alguns na terceira geração. O povoado nasceu de sete fazendas nas cercanias dentro do território de Itabirito que está há 25 km de distancia, sendo 13 km de asfalto e 12 km de estrada vicinal.
Povoado do Ribeirão do Eixo tem 309 eleitores e mais de 900 pessoas
Foto: Escola Municipal Ribeirão do Eixo – Arquivo Prefeitura de Itabirito
Nas ultimas eleições votaram no Ribeirão do Eixo 309 eleitores, e a esperança deles é que a Prefeitura de Itabirito faça a tão sonhada passarela, já que DNIT e a Concessionária responsável não têm planos para sua instalação. Trata-se de um dos trechos mais perigosos dos 947 km da BR 040 entre Juiz de Fora e Brasília, onde as pessoas convivem diuturnamente com tragédias provocadas por atropelamentos ou acidentes de colisões frontais que terminam em morte.
A Escola Municipal Ribeirão do Eixo fica a pouco mais de 150 metros de onde os acidentes acontecem no km 588, e de lá se ouvi os estrondos secos seguidos normalmente de gritos de desespero de quem sobrevive aos acidentes e são as primeiras testemunhas de cenas trágicas de parentes ou mesmo de desconhecidos presos às ferragens que agonizam muitas vezes até o ultimo suspiro à espera de socorro que não chega a tempo. O relato é de Izabel de Santana Carvalho, uma das moradoras mais antigas do povoado.
Há 54 anos morando no local, Marta Luiza de Carvalho relata cenas de horror
Marta Luiza de Carvalho Assis, nasceu no Ribeirão do Eixo ha 54 anos, e já perdeu as contas de quantos acidentes fatais assistiu na famigerada curva do km 588. Presenciou ao longo da vida o drama de famílias que perderam parentes perto de onde ela e seus seis irmãos nasceram. Funcionária aposentada do grupo escolar, ela conta que cada estrondo que se ouve é um drama para segurar a curiosidade das crianças: “A gente nunca sabe se tem algum parente envolvido, e enquanto não temos a certeza de que está todo mundo bem o coração não desacelera, vivo essa tensão desde que me entendo por gente, e não acostumo, sempre fica a duvida de uma notícia que pode mudar a nossa vida, é uma sensação de angústia permanente”, conclui a moradora que nasceu e cresceu no Ribeirão do Eixo.
Foto: Vilson Aparecido com o filho Leonardo Bento de Carvalho e a mãe, Izabel de Santana Carvalho
Vilson Aparecido também nasceu no povoado ha 49 anos, é caminhoneiro experiente e conhece bem a estrada, mas não esconde o temor de passar pela curva do km 588: “Desde criança eu tenho medo desta curva, dezenas de vezes ajudei a socorrer vítimas presas nas ferragens de carros de passeios que batem de frente com caminhões carregados e viram latas de sardinha”, lembra com expressão de tristeza. Nas colisões frontais as imagens costumam ser fortes e até policiais antigos da PRF ficam chocados, constata Vilson: “Já vi moradores da nossa comunidade que estavam passando na hora morrerem prensados na curva, pois infelizmente quando acontece um acidente, se tem alguém perto acaba sendo atingindo”, conclui o caminhoneiro.
Via 040 denuncia o contrato de concessão e usuários esperam outro certame
Foto: Site da Via 040 – Fotógrafo Thobias Almeida
O DNIT alega que uma das condicionantes para concessão do trecho de 947 km entre Juiz de Fora e Brasília, atualmente sendo administrado pela Invepar, através da Concessionária Via 040, é a construção de um novo traçado que elimine a curva do Ribeirão do Eixo. A Via 040 é responsável atualmente apenas pela manutenção, já que não tem mais interesse em manter o contrato denunciado desde 2018. A Concessionária investiu R$1,7 bilhões, mas não conseguiu fazer o que estava previsto no contrato que incluía a duplicação de 550 km de rodovia. Alega dificuldades de aprovação de projetos junto ao meio ambiente e queda vertiginosa de demanda de 2012 para 2018. O contrato ficou inviável segundo o presidente da Invepar, o Engenheiro Tulio Ab-Saber.
Enquanto não acontece o novo certame os moradores convivem com o risco permanente de acidentes. A esperança da comunidade é que a Gerdau, mineradora que explora jazidas de minério nas imediações, tenha sensibilidade e construa uma passarela no local caso a Prefeitura de Itabirito não sensibilize com o drama da comunidade.
Foto: Curva do Ribeirão do Eixo – KM 588 – BR 040 – sentido Belo Horizonte – Arquivo do DNIT
Maria Lúcia (56 anos) é diretora de escola no Barreiro em BH, nasceu no Ribeirão do Eixo e depois de casada continua visitando a mãe e os irmãos praticamente todos os finais de semana. Ela é testemunha das tragédias constantes envolvendo carros, caminhões e moradores do povoado que são obrigados atravessar a pista movimentada da Rodovia, já que nos dois lados existe comércio, dividindo o povoado ao meio pela BR 040: “Quando minha avó chegou aqui a estrada era de terra, eles moravam no São Gonçalo, outro distrito próximo. Me lembro dos tempos de criança quando estudei no grupo e dos acidentes horríveis que vi acontecer a caminho da escola, isso aqui é uma carnificina e ninguém toma providencias” reclama a ex-moradora do Ribeirão.
Foto: Site Via 040 – Batalhão de Operações Aéreas – Helicóptero Arcanjo
Ex-moradora aponta soluções para evitar os atropelamentos e acidentes de colisões frontal
Ela acredita também que a solução passa por um novo traçado, acabando com a necessidade de a rodovia descer até a parte mais baixa da serra. “Esta curva fica no final de duas descidas e não precisa ser especialista para saber que ela está fora dos padrões da engenharia moderna, a geometria sempre foi errada e principal causa de acidentes”, adverte a diretora. Ela lembra ainda que os radares instalados nas proximidades são do modelo pardal: “Radar não desacelera caminhões sem freio ou desgovernados, eles até ajudam, mas não resolvem”. A solução para proteger a comunidade de atropelamentos e os usuários de acidentes fatais é a instalação de uma passarela e duplicação da rodovia, evitando as colisões frontais, conclui a ex-moradora que é a mais velha de seis irmãos e nasceu no local.
A rodovia trouxe o progresso, porém dividiu a comunidade em três partes. Com a construção da passarela além de facilitar a vida de quem mora ou visita o Ribeirão do Eixo, ela pode auxiliar no turismo uma vez que têm parada de veículos de um dos lados, antes da curva do km 588. Na parte alta do povoado ficam importantes templos religiosos como a Igreja de Nossa Senhora das Graças, Igreja de São Judas Tadeu e mais três igrejas evangélicas, locais de visitação com mirante e grande numero de visitantes apreciadores da natureza. A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Itabirito, mas foi informada que os responsáveis estão de recesso, retornam no dia 2 de janeiro.