POR: Jussara Ribeiro – Jornalista
Devo me redimir de minhas falas que afirmaram respeito e admiração por Sérgio Moro logo após a saída dele do governo Bolsonaro, com aquela entrevista capciosa. Hoje, depois de 1.400 horas de leitura e conversas, entendi que POR UM PROJETO PESSOAL ele quis jogar nosso país no limbo. Sua atuação corajosa e correta à frente da Lava Jato permanece, mesmo sabendo que ele estava apenas cumprindo a sua obrigação. Como poucas vezes tínhamos visto um juiz brasileiro enfrentar poderosos, ele logo se tornou nosso grande herói.
O seu passado, no entanto, não serve hoje de referência de seu caráter. Ele mudou com os acenos que lhe foram feitos pelos inimigos de Jair Bolsonaro, evidentemente pensando em 2022! Não considerou os brasileiros esperançosos e carentes pela condução do nosso país, hoje, para reverter o risco do comunismo e chegarmos com vida até lá. Não bastasse a maior pandemia que o mundo moderno enfrenta, Sérgio Moro achou por bem jogar álcool na fogueira. Aliás, deve ter sido de tanto ouvir falar na substância derivada da cana-de-açúcar, achou por bem fazer uso da matéria sobre as nossas cabeças!
A criação do Instituto Rosângela Moro, uma semana antes da barulhenta saída de seu marido do governo de Jair Bolsonaro, é no mínimo inapropriada, por diferentes razões.
- Aqui e ao redor do mundo, toda instituição filantrópica que leva o nome de seu criador ou de sua família conta com aporte financeiro deles mesmos. São suas fortunas pessoais que são colocadas a serviço da sociedade a que pretendem servir. Algumas delas, ao longo de suas vidas, até podem receber doações de outras famílias abastadas. Mas, invariavelmente, elas são criadas com muito recurso próprio, para cumprir a sua missão.
- Usar do prestígio de seu sobrenome, herdado do marido famoso, se autopromovendo com a criação de uma instituição, que deverá buscar no mercado recursos para cumprir seu propósito, quando o marido é um ministro de Estado de um país com tamanho histórico de corrupção entre público e privado, faz-me pensar que falta, no mínimo, caráter e adequação de suas intenções.
- Foi o próprio marido que, cumprindo com louvor a sua obrigação, condenou e prendeu a quadrilha que operava, dentre outros milionários empreendimentos, uma instituição que levava o nome do próprio chefe da quadrilha. Preciso lembrar de quem estou falando?
Com efeito, a senhora Moro criar uma instituição com o seu nome, para operar dinheiro dos outros, é uma ideia inapropriada, de um oportunismo reprovável, para não falar do seu narcisismo exacerbado! Minha experiência pessoal serve para elucidar e convidar os amigos leitores à reflexão: Quando éramos quatro sócias no escritório, a regra era a seguinte: para contratar novo funcionário, as quatro tinham de aprovar; para demitir, bastava uma decidir pela necessidade do desligamento.
Prerrogativas do Presidente são inalienáveis
Contratar significa maior investimento, um novato participando do círculo “familiar” e criando vínculos. Sendo assim torna-se prudente que as quatro sócias se decidam por essa complexa teia de relações, que é criada com cada novo colaborador na empresa. No caso de demissão, basta que uma das sócias enxergue a necessidade. Os motivos para essa regra, claro, podem ser de muitas naturezas. Essa maneira de funcionar da empresa é dita ao novo colega já na sua contratação.
Ou seja, para entrar o colaborador é avaliado por suas qualidades prováveis, seu currículo, e pela empatia. Contudo, para sair basta que o colaborador não respeite ou cumpra com as expectativas de uma das sócias, sempre em favor da empresa, naturalmente, pois, se são sócias, ha de se supor que todas estão imbuídas dos melhores propósitos em prol do negócio.
Agora, imagine você amiga leitora (o), se o Presidente da República deve obediência a um Ministro de Estado, para fazer cumprir uma decisão de admitir ou demitir um subordinado? A isso eu chamaria de inversão de valores! Ser ao mesmo tempo bom técnico e bom gestor não é tarefa fácil. E ainda ser um grande líder e bom articulador político, menos ainda.
Bolsonaro pagou pelo erro da nomeação, mas tomou a decisão certa na correção
Talvez, o erro tenha sido do próprio presidente Jair Bolsonaro, ao franquear carta branca ao Senhor Sérgio Moro, jovem, de perfil técnico e não executivo. Carta branca para montar um Ministério inteiro, da importância da pasta Justiça e Segurança Pública para um país como o nosso, que tem nessas questões suas mais graves mazelas. Se tivesse colocado na Secretaria Executiva um grande gestor, o desfecho teria sido outro.
Para quem não sabe o secretário-geral ou executivo de um ministério é o equivalente ao Ministro Executivo, quem toca o dia a dia da pasta, coordena todas as outras secretarias e diretorias subordinadas. Sérgio Moro certamente não contou com esse suporte à altura das demandas, caso contrário teria entregado melhores resultados.
Seu desempenho também não foi eficiente no papel que lhe cabia de articulador político, pois para lidar com “aves de rapina” no Congresso Nacional é preciso conhecê-lo a fundo. Moro, nunca deve ter lidado com esse espécime de gente, a não ser na condição de autoridade julgadora. Enfim, somente qualidades técnicas não faz um bom ministro de Estado! Esse posto não é para amadores, definitivamente.
Jussara Ribeiro é Jornalista em Belo Horizonte